Cada dia sem gozo é um dia de charco
Ponho aqui uma poesia dura porque não é sem candura que tento não pensar muito nisso. Porém, entradas que são as horas, já não há porque mentir: não passa um dia sem que eu o goze, verdadeiramente. E me pesa que eu beba e sorria, sim. Porque já não me basta o reflexo do sol. E muito menos de um reflexo de sol no charco. Porque no charco não há sol. Não há natural ventura. Não há artificial ventura. Não há ventura nenhuma em ver passar os dias sem gozo, sem deleite.
Cada dia sem gozo não foi teu
Cada dia sem gozo não foi teu
Foi só durares nele. Quanto vivas
Sem que o gozes, não vives.
Não pesa que amas, bebas ou sorrias:
Basta o reflexo do sol ido na água
De um charco, se te é grato.
Feliz o a quem, por ter em coisas mínimas
Seu prazer posto, nenhum dia nega
A natural ventura!
(de Ricardo Reis)
5 Comentários:
Adorei!
Rebeca e Jota Cê, bem-vindos e obrigado. Voltem sempre. Beijo!
Fernando Pessoa no seu melhor...
Pinguim, ele é excelente para divagar quando se está particularmente aborrecido com o mundo. Ai que eu já havia dado por sua ausência! Abraço!
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