Guerra e paz: assim caminha a humanidade!
Pois, permita-me, caro Obama, discordar do seu discurso - 'não acho que mereça estar na companhia de tantas figuras...'. Ao contrário. Em retrocesso, ganharam o Prêmio Nobel da Paz as seguintes figuras:
- 2008 - Martti Ahtisaari (Finlândia): foi presidente da Finlândia entre 1994 e 2000 e ganhou o prêmio pelo trabalho de mediador em conflitos internacionais.
- 2007 - Al Gore (EUA): vice-presidente de Bill Clinton, ganhou o Nobel pelos esforços na disseminação de informações sobre as mudanças climáticas e respectivos efeitos para os seres humanos.
- 2006 - Muhammad Yunus e Grammen Bank (Bangladesh): Muhammad é criador do Grammen Bank, que oferece microcrédito para pessoas pobres.
- 2005 - Mohamed ElBaradei (Egito) e Agência Internacional de Energia Atômica (Áustria): diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica, Mohamed e a agência foram premiados pelos esforços em assegurar o uso da energia atômica para fins pacíficos.
- 2004 - Wangari Maathai (Quênia): ambientalista e ativista dos direitos humanos quenianos.
- 2003 - Shirin Ebadi (Irã): ativista dos direitos humanos e da democracia iraniana.
- 2002 - Jimmy Carter (EUA): ex-presidente dos EUA, premiado pela diplomacia usada na solução de conflitos internacionais.
- 2001 - Kofi Annan (Gana) e Organização das Nações Unidas - ONU (EUA): presidente da ONU à época, Kofi foi premiado pelo papel que exerceu à frente da entidade.
- 2000 - Kim Dae-Jung (Coreia do Sul): ex-presidente da Coreia do Sul, foi premiado pelas tentativas de reconciliação e reunificação com a Coreia do Norte.
Relacionei a última década de Prêmios Nobel da Paz para dar a dimensão do que quero afirmar: as premiações, historicamente, dedicam-se à politização da paz, e não exatamente à paz em si. Exceto por Muhammad Yunus e seu banco para pobres de Bangladesh, premiado em 2006, e pela organização não-governamental Médicos sem Fronteiras, premiada em 1999, os demais, inclusive Barack Obama, são políticos. Até mesmo os ativistas identificados com os direitos humanos e com questões do meio ambiente - de Jimmy Carter a Al Gore, de Wangari Maathai (Quênia) a Shirin Ebadi (Irã) - são, todos, seres políticos que usam exatamente arsenal político - retórica, projeção, ressonância - para defender seus pontos de vista.
E, pode ser uma avaliação precoce minha, mas o ex-presidente dos EUA, Bill Clinton, está plenamente em processo de construção para uma plataforma que lhe dê, futuramente, o cobiçado Prêmio Nobel da Paz (recorde-se o episódio de resgate das jornalistas norte-americanas da Coreia do Norte, que haviam sido condenadas a 12 anos de trabalhos forçados antes da intervenção de Clinton).
De forma que o laureamento de Barack Obama somente surpreende por ter sido feito tão cedo, no primeiro ano do mandato do presidente norte-americano. Quanto aos laureados anteriores, portanto, Obama não tem do que se constranger ao ficar, agora, ladeado pela 'companhia de tantas figuras...'. São figuras que se refletem, feito espelhos, mais ou menos embaçadas, mas, de alguma forma, bastante semelhantes em perfil. Ah! E não interessa a ninguém, nesse momento, apontar que o atual detentor do prêmio seja o líder de um país que mantém duas guerras em andamento: no Afeganistão e no Iraque. Isso é um mero detalhe.
Até porque o Prêmio Nobel (que tem seis categorias - Física, Química, Fisiologia/Medicina, Literatura, Economia e da Paz) foi criado justamente pelo sueco Alfred Novel, ele mesmo inventor da dinamite, usada sempre e constantemente para fins nada pacíficos. Portanto, não há nada de novo no front. E antes que me apontem como bélico por usar expressão de guerra em post sobre a paz, quero apenas reafirmar que, afora os dois mencionados Nobel que para mim são exceções na última década, os demais estão (ou seus respectivos países) envolvidos com conflitos, militares ou paramilitares. E o Nobel afigura-se-me mais a uma guerrilha de marketing do que a um prêmio de conteúdo exclusivamente íntegro. É guerra e paz, sempre, my brothers & sisters!
2 Comentários:
Já afirmei no meu blog, que mais que premiar, este Nobel responsabiliza Obama em relação ao futuro.
E não penso que seja tão prematuro assim, em virtude de num curto espaço de tempo, ele ter despoletado medidas que só terão pleno resultado daqui a algum tempo.
Abraço.
Pinguim, embora discordemos do fato de ser ou não prematuro, o certo é que o prêmio é uma pressão a mais para que Obama aja de forma ainda mais veemente no mundo. Temo apenas que já os EUA e, por consequência, Obama não estão com essa bola toda não, com ou sem Nobel. De forma que o Nobel da Paz tira de Obama justamente a paz. Quer dizer, mais um pouco. Abraço!
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