A passos de tartaruga
Prevê-se que, no ano que vem, o mundo todo produzirá um volume de dados equivalente a 1 Zetabyte (dado IBM). Em 2011, a população mundial deverá gerar 1,8 Zetabyte (dado IDC). Zetabytes são unidades que correspondem, em dados, a 1 trilhão de Gigabytes. Um iPhone 3G, por exemplo, tem capacidade de armazenar 16 Gigabytes e os HDs - hard disks - de um computador como este no qual escrevo têm capacidades de armazenamento que variam entre 120 GB, 250 GB, 500 GB e até 1 Terabyte (o meu primeiro PC, por exemplo, tinha capacidade total de 1 GB).
Em quatro anos, ou até 2013, estima-se que circularão pela internet mundial dados em volume mensal equivalentes a 10 bilhões de DVDs. Cada DVD pode guardar entre 4,7 GB (single layer ou camada simples) a 8,5 GB (dual layer ou camada dupla). Todos esses números indicam a largura de banda ocupada pelos dados - textos, vídeos, aplicativos, troca de arquivos, de e-mails e toda e qualquer transação que passe pela internet - no ambiente da internet mundial.
Para suportar esse tráfego intenso, surgiu, em 1989, nos EUA, a banda larga, em contraposição ao acesso discado (ou banda estreita), que suporta taxas de velocidade de transmissão de dados de até 56 Kbps. Antes disso, a conexão à internet era feita pela linha de telefone comum, pela qual a linha permanecia ocupada enquanto se estava conectado à internet. Com a banda larga, um modem é agregado à linha de telefone comum para converter o sinal padrão do telefone em uma conexão de dados, com a consequente liberação do canal de voz: pode-se falar e se conectar à internet simultaneamente.
O órgão mundial da Organização das Nações Unidas (ONU) que regulamenta e orienta as telecomunicações mundiais é a União Internacional das Telecomunicações (UIT ou ITU). Oficialmente, a UIT estabelece que a velocidade-padrão da banda larga começa em 256 Kilobits por segundo (Kbps) e pode chegar a 1 Megabit por segundo (Mbps), 2 Mbps, 8 Mbps, 30 Mbps, 60 Mbps e até a 100 Mbps. E essa taxa de velocidade com que os dados são trocados entre um computador e outro é o que determina a velocidade de conexão (para envio e recepção de dados ou upload e donwload).
Ou seja, a largura de banda é o volume de dados que transita na internet e a banda larga é, a grosso modo, a velocidade com que esses dados são trafegados.
No Brasil, a maior parte das conexões chamadas de banda larga está na faixa de velocidade entre 512 Kbps e 2 Mbps. Essa é a taxa nominal (contratada) pois, na verdade, a taxa real (que vemos na velocidade com que as páginas são carregadas nas nossas telas), na maior parte das vezes, é um pouco superior a 100 Kbps. As conexões brasileiras, em estudo recente, são classificadas em 45º. lugar num ranking entre 66 países. Estamos, portanto, segundo esse levantamento, 'abaixo das necessidades atuais'.
Em países nos quais a banda larga atende aos requisitos mínimos, essa taxa (nominal e real) está, em média, em 4,75 Mbps. Bastante superior, portanto, às taxas brasileiras de 100 Kbps. No Brasil, estima-se que haja um pouco mais de 15 milhões de acessos de alta velocidade (nas tecnologias fixa, móvel, de TV por assinatura, rádio, satélite e IP). Até o final deste ano, estima-se que o País chegue a 17,7 milhões de acessos em banda larga. Isso significa que pouco mais de 9% da população brasileira (191,9 milhões até hoje) terão conexões mais rápidas. Até 2014, as projeções (otimistas) indicam que o Brasil terá 90 milhões de conexões de alta velocidade.
Na semana passada, o governo do Estado de São Paulo lançou o programa de banda popular para toda a população do Estado pelo qual potenciais 2,5 milhões de residências (das quais 1,810 milhão têm acesso discado e 690 mil não têm nenhum tipo de acesso) terão direito a banda larga por R$ 29,80 para bandas que variam entre 200 Kbps e 1 Mbps. Como parceira, o programa governamental tem na Telefônica a operadora que faz a conexão. Numa aparente desconexão entre o discurso do governo e da operadora, o anúncio formal da Telefônica fala de taxas a partir de 250 Kbps. Em ambos os casos - mínimo de 200 Kbps ou 250 Kbps -, no entanto, a taxa de velocidade não atende aos requisitos da denominação de 'banda larga' dada pela UIT. Posteriormente, a NET divulgou que oferecerá o mesmo serviço, nas mesmas condições.
Para fazer o contraponto político, o governo federal, por meio do Ministério das Comunicações, divulgou esta semana que pretende lançar um programa mais abrangente, o plano nacional de banda larga. A meta é levar a internet rápida (com taxas de transmissão entre 256 Kbps a 1 Mbps) para 29 milhões de residências brasileiras - de baixa renda e para áreas onde a oferta de banda larga é quase inexistente - em cinco anos a R$ 9,90 mensais (o valor máximo seria estabelecido em R$ 30). O anúncio formal deve ser feito em novembro (a banda larga popular do Estado de São Paulo começa a ser comercializada a partir do dia 9 de novembro).
Estudos do Banco Mundial sugerem que a cada 10% de expansão na banda larga dos países correspondem a um aumento no Produto Interno Bruto (PIB) de 1,38 ponto percentual. Ou seja, o acesso rápido é uma das formas de se desenvolver um país. Casos fartamente comprovados por países como a Coreia do Sul, por exemplo.
Distante da batalha política brasileira entre governo federal e estadual, a notícia que chega do frio deveria congelar essas pequenas pretensões nacionais: também na semana passada, o governo da Finlândia anunciou que, a partir de 2010, todos os cidadãos finlandeses terão direito, garantido por lei, de ter acessos à internet a partir de 1 Mbps. Em 2015, essa conexão deverá ser de, no mínimo, 100 Mbps (rede de altíssima velocidade, baseada em conexões por fibra óptica). A Finlândia tem 5,5 milhões de habitantes e 79% desse total já têm acesso à banda larga. Enquanto o mundo promove o arranque a velocidades de coelho, somos uma tartaruga gigante que perde o tiro de largada.
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