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domingo, 24 de fevereiro de 2008

Meu rugido dominical

Povo afável, hospitaleiro, alegre e festivo. Somos nós. Índios, em 1500, recebemos os portugueses, nus, abertos, sem resistência. Fizemos o escambo de um país inteiro por miçangas e espelhinhos. Fomos domados. A nós, índios e portugueses, juntaram à força os africanos. Amálgama de um triste trópico, na definição de Claude Lévi-Strauss, somos, finalmente, uma nação, miscigenada. Se o sertanejo é, antes de tudo, um forte, afirmo que o brasileiro é, sobretudo, um parvo.

Pronto para receber, dar atendimento, abrir-se em sorrisos convidativos, promessas eróticas que, aos estrangeiros, lhes soam luxuriantes como as florestas tropicais, com sons de uirapurus e mistérios carnais que, desnudos desde o princípio, nunca deixamos de parecer, ao visitante, uma promessa de concretização do Eldorado na terra.

Não conheço, absolutamente, a política brasileira de tratamento aos estrangeiros. Exceto por um caso ou outro que vem à tona, creio que o Brasil recebe, formal ou clandestinamente, bem os milhões de estrangeiros que nos visitam ano a ano. Também não sei de números de vistos negados a estrangeiros e extradições feitas em solos aeroportuários brasileiros.

O que sei é que somos um dos povos mais rejeitados na Europa e nos EUA. Dois dados recentes comprovam isso. No ano passado, a Espanha foi o país que mais deportou brasileiros, seguida pelos EUA e Inglaterra. Fomos deportados, repatriados e expulsos. A Espanha mandou de volta para casa 192 brasileiros. Em muitos casos, os critérios são subjetivos. Em 2006, a Espanha deportou 187 pessoas. Mas, o país alega que caiu o número total de brasileiros barrados no exterior, de 2.483 em 2006 para 1.217 no ano passado.

Outro dado, deste domingo, mostra que o Reino Unido também é refratário e até mesmo hostil aos brasileiros. Gente! Eu sempre critiquei o fato da Inglaterra ter carregado divisas absurdas de ouro do Brasil, quando a Coroa aqui estava. A Inglaterra sugou as minas de ouro para realizar a sua Revolução Industrial às custas da colônia portuguesa. Pois bem! Atualmente, o Brasil é o país que mais tem passageiros com entrada recusada pelo Reino Unido. De 2004 a 2006, foram 15.360 pessoas rejeitadas pelo processo de imigração britânico, o equivalente a 15,6% de todas as remoções realizadas pelo país no período.

No mesmo período, o número de brasileiros que viajou ao Reino Unido se aproximou de 500 mil pessoas. Apenas em 2006, 4.985 brasileiros foram repatriados e voltaram do desembarque britânico. Esse número significa quase a metade das repatriações de toda a América Latina. A Argentina, por exemplo, teve apenas 135 cidadãos com entrada recusada, só 0,2% das mais de 49 mil pessoas do país que viajaram ao Reino Unido. E olha que a Argentina enfrentou a Inglaterra na Guerra das Malvinas. Ao que parece, o Reino Unido não guarda rancor.

Eu considero que o fato é tão grave que o Brasil, País pacífico, sem guerra e sem terrorismo, teve mais do que o dobro de cidadãos recusados na comparação com o Paquistão, que vive em latente guerra com a Índia (ex-colônia britânica) pela posse da região da Cashemira e sempre ameaça o mundo com supostas bombas nucleares. Enquanto fomos quase 5 mil rejeitados em 2006, apenas 2.035 paquistaneses foram obrigados a voltar para seu país. Do Irã, apenas 1.070 pessoas tiveram suas entradas recusadas em 2006 e Israel, apenas 430 pessoas.

Sei que nas madrugadas de neblina e frio no aeroporto internacional de Cumbica, Guarulhos, há várias aterrisagens de aviões que chegam com os deportados de todo o mundo. O horário camufla o tratamento indigno que países como a Espanha, os EUA e a Inglaterra dão a nós, brasileiros. Somos hostilizados, ficamos entre três e cinco dias em salas pequenas, ao lado de cidadãos de países considerados de alto risco, como se fôssemos criminosos prontos a detonar artefatos em estações de metrô européias e arranha-céus em solo norte-americano.

Ora! Eu mesmo já fui ao consulado norte-americano para obter meu visto de trabalho duas vezes e, nas duas ocasiões, tudo se traduziu em um bilhete de loteria. Você nunca sabe se será aprovado ou não porque não há lógica nenhuma no processo. Na Europa, entrei em uma ocasião por Lisboa. Trataram-nos como se fôssemos uma horda de bárbaros. Vocês se recordam quando Portugal deu início àquela política de repatriação de brasileiros em massa? Vá ao Nordeste e veja a quantidade de portugueses que dominam as pousadas das grandes cidades litorâneas. Sem falar nos vôos charter que despejam alemães, holandeses, franceses e outros aos montes, em busca do turismo sexual.

Sim, concordo que há uma emigração de brasileiros em busca de oportunidades para os EUA e Europa. Que muitos, que conheço, estão lá ilegalmente. Que fogem de qualquer proximidade da lei porque podem voltar apenas com a roupa do corpo. Que há muita prostituição envolvida. Que o sonho dos travestis brasileiros é fazer a Via Apia na Itália.

Mas, depois que a Comunidade Européia abarcou os países do leste, a impressão que eu tenho é que principalmente a Espanha resolveu fechar as portas ao Brasil. O engraçado é que a Espanha só perde em investimentos no Brasil para os EUA. Aqui, o país ganha na área financeira, de telecomunicações, de infra-estrutura básica e em uma série de segmentos. E envia as divisas para a Europa. Podem ganhar dinheiro conosco, mas, não nos aceitam como visitantes de sua querida terra.

Sou descendente de terceira geração de espanhóis. Já estive na Espanha. Não sou nacionalista e tampouco defendo muros burocráticos que impeçam a entrada de estrangeiros em solo tão pretensamente gentil como o nosso. Só que há de se ter correspondência. Tratamento equitativo. Na maior parte das vezes, as recusas de entrada dos brasileiros em terra estrangeira não têm base nenhuma. Ainda que você prove que tem passagem de volta, hotel e dinheiro e que está a trabalho, a alfândega é inflexível. Joga você para uma sala, para que você se sinta preso, isolado. E envia você de volta, à custa de humilhação.

Os consulados brasileiros desses países nunca respondem porque agem assim. Esquivam-se. Cuidam que somos colônias, às quais são negados direitos básicos. Deixo aqui registrado meu protesto de repúdio a esse tratamento. Nunca tive o acesso negado a outro país. Contudo, me solidarizo com as pessoas que foram humilhadas e expostas a constrangimentos porque o oficial europeu ou norte-americano resolveu usar o carimbo "negado" no passaporte do brasileiro. Para marcar como uma tatuagem que somos, afinal, personas non grata, e não os pelados desejados que o arquétipo o fazia crer.

1 Comentário:

Sig Mundi disse...

Concordo em gênero, número e grau.

O que acontece é que algumas pessoas fazem besteira e outras é que pagam o pato.

Se um país está de saco cheio por conta de gente ilegal, vá atrás deles e não negue entrada a outros!

Agora, eu tenho a impressão que no Brasil entra qualquer um, a qualquer hora, de qualquer maneira!

Bjs, andrea

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Redneck, em inglês, define um homem rude (e nude), grosseiro. Às vezes, posso ser bem bronco. Mas, na maior parte do tempo, sou doce, sensível e rio de tudo, inclusive de mim mesmo. (Redneck is an English expression meaning rude, brute - and nude - man. Those who knows me know that sometimes can be very stupid. But most times, I'm sweet, sensitive and always laugh at everything, including myself.)

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