Gordon e a antropofagia
"De cada encontro e desencontro, sairemos marcados, assim como deixaremos os vestígios de nossos dentes na personalidade daqueles que se aventurarem dentro de nós. E vice-versa." Querida Amélie, tomei a liberdade de copiar o trecho do seu post para reafirmar a validade do que você escreveu.
Acabei, esses dias, a leitura do livro "Gordon" (Rocco, Edith Templeton). A história está centralizada em Louisa, uma jovem que acabou de se divorciar. Uma noite, ela conhece Gordon num bar e, uma hora depois, ambos se entregam ao sexo selvagem em um banco de praça. A partir desse ato, iniciam um relacionamento de domínio/submissão. Gordon é psiquiatra e se aproveita do seu conhecimento para submeter por completo Louisa, em todos os sentidos.
O livro foi publicado no fim dos anos 60, sob pseudônimo, e foi comparado imediatamente com o clássico "A História de O", de Pauline Reage. Somente em 2002, a autora republicou "Gordon" com seu nome e assumiu publicamente que a obra é autobiográfica.
Para mim, "Gordon", autobiográfico ou não, é alta literatura. E verdadeira. Porque desconstrói uma série de alicerces dados como certos para manter um relacionamento e envereda por outros caminhos, tão válidos quanto quaisquer outros.
A relação entre Gordon e Louisa é tão forte e profunda que, inevitavelmente, marca a ambos com dentadas cravadas na carne, que perfuram a epiderme para atingir os ossos. É a antropofagia consentida. E algumas pessoas, na nossa vida, têm esse poder, não é? Não sei dizer se concedido por nós ou se é apenas uma ilusão. Mas, às vezes, me sinto tomado. Sem controle. Metaforicamente, submetido. E feliz.
Por que mesmo que a razão prevalece?
5 Comentários:
e daí que vc me fez refletir sobre o conceito de alta literatura, hehe
beijos
Cool, moço encantado...
Não sei até que ponto a realidade prevalece, mas sei que ela está sempre lá, marcando cerrado. O que é bom também.
Precisamos de equilíbrio para sobreviver, por isso é importante mantermos a vigília e a autoconsciência, ao menos na medida do possível.
Gostei da definição: "antropofagia consentida" (sounds good, sounds deep, sounds real, sounds intimate, sounds you).
Já a atmosfera que você permeou e "put down in words" (aqui) sobre este romance que eu não conhecia, parece, não sei... parece ir muito de encontro com mais uma fatalidade de sermos mesmo uma mistura dos nossos desejos e do que o desejo dos outros fazem de nós.
Beijo.
A razão prevalece em algum momento pra nos colocar de volta no lugar que não queremos estar! Domínio e submissão... é bem mais emoção que razão.
Fiquei com vontade de ler esse livro!
bjs, andrea
marco*, posso ter exagerado no devaneio, mas, essa sua risadinha me deixa assim, ó ... beijos.
amélie, se sou encantado, sou sapo e preciso, então, de um beijo que me tire do brejo. help me!!!! beijo!
andrea, eu sou mais emoção do que razão e sou um quando deveria ser o outro e vice-versa e daí que a vida fica abalada mesmo. mas, é só levantar e seguir, não é? ou se lamentar e, como diz uma amiga, chorar tanto, mas tanto, que o cansaço vem, e com ele, o sono. eu hein! beijo.
Caraca, deixa eu me mandar daqui antes que sobre alguma dentada...
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