Carga pesada
Peço arrego! Sucumbo diante de tanto peso. Em dois dias - ontem e hoje - digitei quase 50 mil toques para um job. Dezenas de entrevistas, explicações, telefonemas desencontrados, cobrança de fotos, produção de fotos, trocas de e-mail sem fim. Quando tudo acaba, fica a exaustão. Sensação de trabalho feito, sim. Mas, que dá uma certa tristeza, um cansaço infinito, ah! isso dá.
Me transformei em gerador de caracteres. Os dedos adivinham o teclado antes que se ponham a dedilhar ávidos por acabar a próxima frase. O cérebro dá sinais de ruínas. As palavras me escapam. Recorro ao dicionário. Termos técnicos, de monte. E eu lá sei o que é guidance para o mercado financeiro? O que são placas de gesso cartonadas? Tenho que saber isso? Que entender as metáforas pobres que as fontes, crentes que abafam, me atiram como se pérolas fossem e eu, o porco a recebê-las?
Que eu, se tivesse que rebater essas bolinhas todas no tênis, atira-la-ias pelo esgoto. Que são muitas as arestas aparadas por dia. Ao final, sucumbo e a carga prevalece, pesada e amorfa. Sou apenas um produto no meio de tanta informação. Filtro vazio de significado. Tanta informação que não me diz nada. É isso o jornalismo?
Um jornalismo industrial, sincopado com o teclado, música sórdida para palavras ao léu. A ira que as linhas de telefone transmitem de um ponto a outro. Quase a posso pegar na mão, de tão evidente. Um mundo raivoso se apresenta na tela, nos cabos de cobre. Nas palavras não ditas ou truncadas. Que sentido há nisso?
A cada vez que eu concluo um trabalho de grande porte, se me forma no estômago uma bola, imensa, peluda. Como se eu fosse um gato que me lambesse e engolisse, no processo, a pelagem. Revolve-me o estômago sem fim. Quero acreditar que é só o cansaço. Dizer não à decepção. Porque, então, seria uma bola de ferro presa ao tornozelo, e não apenas a rolar dentro de mim.
1 Comentário:
Pára, respira, toma um café. Relaxa!
bjs, andrea
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