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quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Memento

Você já quis lembrar de detalhes de algo e não conseguiu? Ou, pior, já tentou camuflar memórias que não te interessam, mas, que insistem em vir à tona? A revista norte-americana New Scientist desta semana destaca o estranho caso de uma americana de 42 anos que se lembra com detalhes de todos os dias de sua vida desde a adolescência. A mulher é capaz de se lembrar das datas de todas as Páscoas durante os últimos 24 anos e ainda recorda o que vestia, onde estava e o que fazia naquele dia. É capaz também de lembrar-se de todos os fatos históricos e principais acontecimentos das últimas décadas. Ela é poderosa, com um HD de 300 Terabytes.


Intrigados, cientistas da Universidade da Califórnia começaram a pesquisar sobre a habilidade da memória dessa mulher há sete anos, quando ela os procurou para reclamar que se sentia exausta e que as lembranças eram como um fardo a ser carregado. Nas suas palavras, as lembranças são como "um filme que nunca pára".

A partir dos relatos da paciente, a equipe do neuropsicólogo James McGaugh realizou testes e identificou uma nova síndrome de supermemória, batizada de hyperthymestic (nome em inglês, baseado no grego, thymesis, que significa lembrar). Os cientistas ainda não conseguiram identificar a causa da habilidade extraordinária da memória da mulher. No entanto, a capacidade de recordar memórias autobiográficas pode estar relacionada com uma falha nas atividades cerebrais, o que faz com que as pessoas esqueçam fatos supérfluos.

"O esquecimento funcional é crucial para o bom funcionamento da memória. Um sistema que recorda todos os detalhes e torna esta informação disponível com freqüência irá resultar em uma confusão em massa", diz o cientista Dan Schacter, da Universidade de Harvard. Para McGaugh, que investiga o caso, a paciente tem "qualidades obsessivas". Ele sugere que, assim como os autistas, ela é interessada em datas e no calendário. Além disso, há 32 anos ela mantém um diário, guarda os guias de televisão de vários anos e diz que "sempre precisou de organização". Segundo o cientista, os comportamentos compulsivos podem reforçar a memória, ao invés de incentivar o arquivamento e o esquecimento das informações pelo cérebro.

Só para ficar na seara do cinema, eu me recordo (sou péssimo de memória) de três filmes que abordam a estranheza dos cérebros. Um deles é "Como se fosse a primeira vez", com Adam Sandler e Drew Barrymore. São um casal normal. Mas, todos os dias, a personagem de Drew sofre de perda de memória temporária e nunca se recorda do dia anterior. Assim, o personagem de Sandler precisa descobrir no dia seguinte uma nova maneira de conquistá-la. É uma historinha açucarada, mas, dá conta de como cérebro é um universo desconhecido.

Outro filme é "Amnésia" ou "Memento". Leonard Shelby, vivido por Guy Pearce, era um investigador de uma companhia de seguros. Certo dia, ele e sua esposa tiveram a casa invadida por um bandido enquanto ele dormia. O bandido estuprou e matou (supostamente) a esposa de Leonard. Na tentativa de impedir o bandido, Leonard levou uma forte pancada na cabeça, que o fez adquirir o problema de perda de memória recente. Tudo que acontece na vida de Leonard desde então é esquecido poucos instantes depois. Ele passa a usar artifícios como a tatuagem de recados no corpo, fotos com inscrições no verso e até mesmo post-its. Leonard passa a realizar uma busca insana pelo assassino de sua mulher e, quando ele finalmente descobre a verdade, sua devastada memória não permite que ele a lembre, e ele se mantém na mesma insana busca. O legal do filme é que a história é contada de traz para frente, numa brincadeira com a nossa própria memória, que tem que montar o filme de forma a entendê-lo. Memento, em latim, significa "lembra-te".

Finalmente, há "Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças", com Jim Carrey e Kate Winslet. Joel (Jim Carrey), é um homem ordinário que fica surpreso ao descobrir que a sua namorada, Clementine (Kate Winslet), apagou as lembranças do tumultuado relacionamento que tiveram. Desesperado, ele contata o inventor desse processo para também remover Clementine de suas lembranças. Porém, à medida em que as lembranças de Joel desaparecem, ele começa a redescobrir o seu amor por Clementine. A uma certa altura, fica claro que Joel não consegue tirar Clementine da cabeça.

Os três filmes são, cada um à sua maneira, três belas versões do estranho mundo do cérebro. É uma das áreas do corpo humano menos devastadas. E costuma-se afirmar que o homem conhece mais o universo do que o próprio cérebro. "Conhece-te a ti mesmo", disse Sócrates. Se eu desconheço o ser que habita meu corpo e cérebro, como conhecer o outro?

E como remover da memória lembranças nefastas? Ou resgatar dos escombros do velho arquivo lembranças preciosas que me escapam? Como selecionar a memória de forma a esquecer cheiros, sorrisos, dentes, expressões, um cabelo solto, uma pequena espinha? Se você procurar na memória, certamente resgatará detalhes das pessoas. Pequenos flashes que incendeiam a imaginação e que há muito pensávamos enterrados no peso dos anos. Não é assim? É como os sonhos: há os que lembram de cada detalhe (eu, sempre) e os que juram que nem sonham. De repente, alguma palavra ou gesto traz, num piscar de olhos, memórias tão fortes que fica difícil respirar. Chegamos a corar com algumas lembranças, não é? Ou ficar com os olhos marejados por outras. Ou sentimos aflorar a raiva, a paixão, a saudade e mais uma série de sentimentos.

Já disse neste espaço que gostaria de deletar muitos arquivos do meu disco rígido. Que houvesse uma flash memory, um pen drive, que eu pudesse desconectar da porta USB e deixar em casa, guardada. Porque há, de monte, arquivos corrompidos. Arquivos com vírus, bichados. Mas, isso não é possível. E, como aquela velha fotografia amarelada, de repente, nos confrontamos com o passado que, embolarado, insiste em se contrapor às maravilhosas fotografias de milhões de pixels do presente. Ora! É tudo uma ilusão! O cérebro age por conta própria. Desencava. Trabalha, incansável. É um exército inteiro a revolver as terras férteis que fazem germinar velhas sementes, esquecidas. Ah! Memória, memorável, memorabilia, memento, enigma. Que quero ter amnésia, por vezes. Por outras, lembrar até do grão de poeira que naquele dia exato pairou no ar e desmanchou-se. Só para te ter, memória, à mão, como se uma casca de noz fosse e coubesse o universo inteiro dentro.

5 Comentários:

Reiko Miura disse...

Oi Red,

Já que estamos falando de cinema, lembra do filme "Um bom ano", do Ridley Scott, com o Russell Crowe relembrando suas férias na vinícola francesa do tio?

Em tempo: na terça, dia 19, das 19hs às 21hs vai ter uma série de palestras sobre a memória no Hospital Osvaldo Cruz. Me inscrevi. Espero não esquecer!

Redneck disse...

Eu tentarei me lembrar de te recordar para que você não se esqueã. Mas, não deixe que eu me esqueça de te lembrar. Beijo!

Sig Mundi disse...

A minha memória é péssima pra nomes e números! Eu tenho a capacidade de esquecer todas as senhas que a gente é obrigado a usar! rsrsrs

A medida seria, nem tanto ao céu e nem tanto ao mar! Essa mulher deve ser meio pirada!

bjs, andrea

Vee disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Vee disse...

Olá, Red

Dos filmes que você citou, "Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças" está na minha listinha de pendência cinematográfica fazendo companhia para tantos outros. Sim, comecei a listar os filmes a serem vistos, assim como os livros a serem lidos e outras cositas mais.

Penso que minha memória seja do tipo "meia-boca", no entanto, a dinâmica das coisas, a multiplicidade de informações às quais temos acesso, atualmente, especialmente com o advento e a praga da internet, nos sobrecarrega monstruosamente e a memória, essa vadiazinha desconhecida vai escolhendo, de acordo com seu próprio arbítreo, o que reter e o que expectorar.

Sabe, isso é uma coisa muito maluca pro meu gosto, porém, que me atrai.

Just like you, adoraria deletar muitos arquivos e recuperar tantos outros, but, you know, you know... Rsss.


Beijos pra ti, guri!

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Redneck, em inglês, define um homem rude (e nude), grosseiro. Às vezes, posso ser bem bronco. Mas, na maior parte do tempo, sou doce, sensível e rio de tudo, inclusive de mim mesmo. (Redneck is an English expression meaning rude, brute - and nude - man. Those who knows me know that sometimes can be very stupid. But most times, I'm sweet, sensitive and always laugh at everything, including myself.)

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