O que Alice encontrou através do espelho
Alice sonhou ou viveu? Não importa a resposta, e sim o que o livro conta. Pois a ficção é muito mais interessante do que, de fato, teria acontecido realmente. Para saber as respostas, basta ler o livro (recomendo de pronto a maravilhosa edição comentada que inclui "Aventuras de Alice no País das Maravilhas", "Através do Espelho e o que Alice Encontrou por Lá" e o episódio "O Marimbondo de Peruca", suprimido de "Através do Espelho" - Lewis Carroll - editora Jorge Zahar Editor - 303 páginas).
Afirmo, com propriedade, que muitas coisas podem ser encontradas através do espelho. Claro fica que meu espelho, neste momento, passa a ser a tela do computador no qual digito as palavras que, eventualmente, você, leitor(a), lê. E você passa a ser, assim, o 'através' do espelho, o lado de lá.
Acordados ambos, você e eu, quero dizer que tenho viajado através desse mágico espelho e, para tanto, tomo a liberdade de me portar feito um Lewis Carroll e divagar - ora como se tivesse a tomar chá com um Coelho e um Chapeleiro malucos, ora como se tivesse a me contornar ante as peripécias de uma Rainha Vermelha.
Pois muito bem que posso ser um Redneck Alício, a sonhar com superfícies mais profundas do que simplesmente a tela plana desse iMac que está à minha frente. De tanto ver a maçã que faz as vezes de logotipo da Apple, feito um Adão tentado, vou dar uma mordida e desvendar o que há por detrás desse espelho. Claro está que, a propósito do quadro que ilustra o topo deste blog, poderei ser expulso. Mas, qual o quê! Expulso de onde? Do refúgio? Só se for. Porque o paraíso é que não é. E por não temer o inferno, pois há quem tenha dito que fugiu do céu por ser escuro e foi ao inferno à procura de luz, me lanço, aliciamente, fácil fácil pelas dobraduras, melhor ranhuras, desse meu espelho.
Pois ao atravessar o espelho, me dei conta que, se Alice sonha, eu realizo. Ontem, estava a pedir afagos e abraços. Ontem ainda, os tive, se não fisicamente, de uma forma que transcende o físico. Confirmo, portanto, que a minha viagem através do espelho tem sido frutífera - ainda que eu não tenha abocanhado nenhuma maçã. Entretanto, me salta aos olhos o conhecimento, a descoberta, o ver através. Se estancou a cegueira paradisíaca que eu supunha haver comigo. Vieram abraços alados, lá daquele velho continente que, um dia, parece, estava cá emendado a este chamado novo continente.
De maneira que, não obstante a massa d'água que se interpõe, o espelho houve por bem conduzir de um lado a requisição -> me dê um abraço! Do outro lado, veio, feito um murmúrio de ondas -> abraçado estás! Se eu perguntasse "Espelho, espelho meu, existe alguém do outro lado da areia, da prata e do estanho de que você (espelho) é feito?", poderia o espelho, autêntico fosse, dizer que "não, nada mais existe além da sua fantasia louca".
Mas incorre em erro o espelho. Que não foram, em absoluto, fantasias de minha parte. Ainda que virtuais, foram, sobretudo, pessoais. Assim, devo afirmar que, se Alice encontrou efetivamente algo através do espelho (e encontrou, sim), Redneck Alício também encontrou. Encontrou amigos com quem quer tomar chá e ter conversas malucas sobre coelhos, chapeleiros e rainhas com pessoas que conseguem se enxergar através (e apesar) do espelho. Eles, esses amigos, não os nominarei. Porque, como me disse um deles, não é necessário que se nomeiem todas as coisas (ao contrário daquela tradição que saiu a nomear tudo o que povoava a terra). Basta que saibamos, entre nós, o que somente nós vimos, um de cada lado, o que o espelho tinha para nos dizer. E, ao afirmar isso, como Alice, desperto de um sono profundo. E está dito ou vão me falar que estou a delirar!
2 Comentários:
Eu sei bem que não estás a delirar...
Beijão.
Pinguim, meu caro amigo, é isso. Beijo!
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