Cartão vermelho: coisas que, sem o menor pudor, eu expulsaria do campo da visão e das ideias
A mim me agradam muito alguns tipos de desafio que me propõem. É o caso do assunto deste post. Recebo, pois, o desafio, do amigo transatlântico Pinguim, do transmissível Why Not Now?, de apresentar o cartão vermelho para conceitos, atitudes, atos, fatos e pessoas que, a meu ver e segundo o meu próprio (ou impróprio) juízo de valor, mereçam expulsão sumária do campo da visão (o que os olhos não veem, o coração não sente) e do terreno das ideias.
Como trata-se de um meme (leia aqui para entender mais o conceito), ao aceitá-lo, aquiesço também para algumas regras. Claro que isso não é uma regra fechada, mas, no caso dos memes, gosto de dar continuidade ao tema sem romper com a corrente. Nesse caso, a proposta é que eu enumere dez coisas ou pessoas merecedoras do meu fuzilamento com o cartão vermelho e repasse igual incumbência para outros dez blogs à minha escolha.
Vamos, portanto, ao top ten dos que recebem o vermelho cartão. O cartão vermelho, como se sabe, significa, em vários esportes - futebol, esgrima, artes marciais, voleibol, futsal, rugby, hóquei e pólo aquático -, a expulsão do jogador de campo. É o que farei a seguir, ao menos do meu campo particular. Portanto, expulso, com o cartão vermelho na mão:
2. O preconceito: de todos os tipos - religioso, de raça, de orientação sexual, político, econômico, cultural. Qualquer tipo de preconceito sugere a prevalência de um conteúdo ideológico sobre outro com a consequente certeza de que a sua opinião deve se sobrepor à minha. Abomino.
3. A sujeira: me refiro à sujeira tanto no sentido de lixo quanto à sujidade moral, com o fim de prejudicar ou ofender. A sujeira, em oposição à limpeza, faz com que, de alguma forma, todo o ambiente se contamine e, ao final, nada mais reste que um imenso chiqueiro em que todos os tipos de porcarias, físicas e morais, são praticadas.
4. O politicamente correto: o conceito filsófico do politicamente correto partia do princípio de se evitar a utilização de termos discriminatórios para construir uma sociedade mais igualitária. Como nunca acreditei nessa premissa, o que vejo, atualmente, é um uso amplo do conceito em todas as coisas. Resta que usa-se o politicamente correto para acobertar algumas políticas totalmente incorretas e para formar juízo de valor, num claro desvirtuamento do conceito. Por esse motivo, expulso o politicamente correto de campo.
5. A intransigência (que também pode atender pelo nome de fanatismo): para mim, qualquer pessoa que defenda um ponto de vista e que queira converter os demais para a sua causa sem argumentos válidos, rapidamente se esgota em si mesma. Não suporto verdades absolutas e a falta de discernimento nas pessoas que se dão ares de doutas e, em flagrante contradição, não têm flexibilidade para ouvir opiniões divergentes.
6. O barulho: me esgotam os barulhos e ruídos de todos os formatos e feitios. Da conversa exacerbada e em altos brados aos ruídos diuturnos que não deixam mais ninguém em paz. O mundo precisa ouvir um pouco de silêncio para ser mais sereno. Nas cidades, não se ouve mais o som da natureza. O que se ouve é uma sinfonia industrial de grandes proporções. Portanto, estamos surdos ante os pequenos encantos auditivos e, quanto mais surdos, mais gritamos uns com os outros.
7. O falso moralismo: odeio quando a pessoa ser arvora de guardiã de qualquer tipo de moral em público e, em privado, é capaz de imoralidades inomináveis. Em compensação, tenho para mim que essas pessoas são feitas de papel ou de areia e se dissolvem com o tempo.
8. Os políticos em geral e o Congresso Nacional em particular: não consigo ver qualidades nem naqueles os quais ajudei a eleger. Desmerecem que eu fale demasiado sobre isso.
9. As amizades flutuantes: as chamo de flutuantes as amizades que se prestam pontualmente a determinado objetivo e, admito que, na medida em que amadureço, esse tipo tortuoso de amizade rareia. São pessoas que se aproximam por determinado interesse e que podem ficar muito tempo na sua vida. Mas, como não são autênticas, fenecem, mais dia, menos dia. Tenho horror, particularmente, dos 'amigos flutuantes' que, depois de longa ausência, confrontados com você, fingem ter te visto ontem ou, pior, disfarçam e fingem não te conhecer.
10. A memória: falo das memórias todas, boas e ruins. De repente, eu gostaria de ser imemoriado, não de doença ou por acidente, mas simplesmente ser assim, não ter memória alguma. Porque se as há, as boas memórias, em maior proporção existem as memórias ruins. E o pensamento pode pregar peças e atear fogo somente com o poder das memórias, tanto as boas quanto as ruins. De forma que dou um cartão vermelho para a memória, entidade independente que ousa trazer à tona certos pensamentos que deveriam estar arquivados no mais profundo dos hard disks cerebrais.
Com isso, encerro o rosário de 'avermelhados' e passo a bola para outros campos que, se assim o quiserem, podem expulsar seus próprios demônios:
- O Quem
- Carnet de Route
- Ricardo Soares
- O Mundo Mágico de HorseMan
- Histórias Que Nos Contam na Cama Antes da Gente Dormir
- Eu Só Queria um Café
- Construção e Desconstrução
- Mais de Mil Motivos para Combinar Palavras
- Cotidiano
- Algo Se Perdeu na Tradução
2 Comentários:
Meu bom Amigo
primeiro que tudo uma palavra singela que diz tudo: Obrigado!
Por teres aceite o desafio, por teres elevado a fasquia das questões avermelhadas a um nível muito bom e acima de tudo muito actual; e finalmente por teres dado continuidade à corrente, e que por passar para esse lado do Atlântico, ainda maior significado tem.
Abraço e beijo.
Pinguim, eu é que lhe agradeço por ter me incentivado ao desabafo. Fiz o post admoestado pelo seu próprio post. E quanto à corrente, esse é um dos objetivos da internet: nos conectar em elos interterritoriais, separados ou não por oceanos, não é? Obrigado por me ter indicado entre os blogs. Abraço e beijo para você também.
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