Rastreio de Cozinha - 85
Faltei naquela que seria a última aula do semestre. Hoje, houve reposição de aula. Na verdade, uma aula nova, da região do Magreb, que inclui Tunísia e Marrocos. Adeus, cuscuz marroquino.
(Rabat, capital do Marrocos)
Ao que me consta, as produções de hoje seriam: do Marrocos - Hout Benoua (Peixe Empanado em Farinha de Amêndoas), Djaj Bil Bargoug Wa Assel (Frango com Ameixas, Mel e Canela), Tajine el Lahm Besbas (Tajine de Cordeiro e Erva-Doce) e Lablabi (Lentilhas e Cuscuz). A da Tunísia: Sikbadj (Cordeiro com Damascos Tunisianos).
(Tunes, capital da Tunísia)
Lá se foi a minha chance de cometer auto-antropofagia com os damascos tunisianos. Mas, se você quer saber, acho que já deu, não é? Eu não preciso de nota e ainda tinha alguma folga para faltar na aula de hoje.Resolvi que não estava disposto a:
1) Carregar minha pesada mochila com os suprimentos (facas, uniforme, sapato, caderno, câmera, tábua etc.);
2) Carregar minha pesada mochila no lotado metrô que, particularmente nesta semana, tem passado de dez os trens que eu conto antes de embarcar;
3) Carregar minha pesada mochila, tomar metrô lotado e me trocar no apertado banheiro, simulacro de vestiário da faculdade;
4) Carregar minha pesada mochila, tomar metrô lotado, me trocar no apertado banheiro, assistir a meia hora de teoria do Magreb e cozinhar com as faces afogueadas entre o calor da cozinha e o frio das ruas.
Assim, ao invés de atacar cada um desses pequenos aborrecimentos, fiz melhor: deitei e esperei passar. Com isso, dormi o sono dos justos porque não há nada mais relaxante do que dormir no sofá enquanto a cidade esgoela suas aflições lá fora.
Inocentemente, tal qual o cordeiro que foi imolado para servir de ingrediente nas produções acima, dormi em plena hora do rush paulistano que, quando se trata de São Paulo, acho que só perde para o Cairo.
Na plenitude dos que dormem à socapa, indiferentes às desgraças alheias (e até às próprias), acordei assustado. Acreditei que era madrugada alta. Nada! Apenas 9 horas da noite.
Uma fominha, uma corridinha à geladeira. Comida pronta, de trasanteontem. Que, dado o meu letárgico estado, cai como ambrosia no Olimpo.
É bom esse estado lisérgico, de quem toma dopamina. No caso, a minha foi de geração espontânea mesmo. Acordei e estava assim, leso, leso!
Os que me lêem com constância podem achar que é um substrato do que vem, o temido, o miserável, o diabólico TCC. Que nada! Não quero dar uma de gambá, mas, depois de quatro meses debruçado sobre o mesmo tema, duvido que variarei feito Goldberg.
Amanhã, quinta-feira, 3, é o dia D, ou melhor, dia S, de simulado. Teremos apresentação, banca e avaliação. É tudo um simulado para o final do ano, quando se encerra o curso, mas, vale a nota do bimestre.
Ainda tenho que finalizar a apresentação em PowerPoint. Depois, é apresentar e adeus! Acaba tudo! TCC, aulas, mochila pesada, metrô lotado, troca de roupa em banheiro apertado. Por três semanas, volto à rotina de nada para fazer. O quê? Você está louco(a)? Claro que é bom!!! Claro que também é bom fazer algo mais produtivo que babar no sofá, mas, umas férias são muito bem-vindas. É cansativo.
Cansa ir todas as noites para fotografar aqueles pratos todos. É. Porque há os que me acusam de, como cozinheiro, eu não passar de um fotógrafo de pratos. Vai ver, minha vocação tem a ver com a estética, e não com a comida propriamente dita. Sei lá! Quantas pessoas que se formaram em jornalismo e foram viver nos Urais ou plantar girassóis na Prússia? A vida é assim mesmo!
Agora, meus caros bleaders, juntem todas as suas energias e canalizem tudo para mim. Olhai para um ponto imaginário na cidade de São Paulo (não importa a direção, use a imaginação) e mandai todas as cargas possíveis. Que assim estarei munido dessa energia coletiva para o meu próprio bem (sou tão egoísta que até me espanto!). Beijos!
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