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domingo, 20 de julho de 2008

Meu rugido dominical


Um livro, um filme e uma conversa: todos giraram sobre o mesmo tema nesses dias, coincidentemente. Sobre o julgamento que as pessoas (você, eu e todos) fazemos uns sobre os outros o tempo todo.

Julga-se desde a cor da roupa, o comprimento da saia, a calça com a cueca à mostra até o comportamento escrachado, tímido ou que (pelos padrões de cada um, já em pleno exercício de julgamento) extrapola o que se convenciona como "normal".

Se uso ou não um acessório (brinco, piercing, unhas com esmalte preto, cabelo com reflexos, cabelos sobre os olhos), se me visto com a barriga à mostra (homens e mulheres), se rebolo ou não ao andar, se faço a barba ou deixo de fazê-la, se emagreci ou engordei, tudo, absolutamente, serve de referência para um comentário, para uma maldade, uma brincadeira. Não me excluo em nenhum momento desse tipo de comportamento porque o faço também, com frequência.

O juízo de valor de cada um vem de várias fontes: da primeira, que é a família, onde nascem os pre-conceitos, as formalidades, a noção de moral, de vergonha, de pudor; da rua, sob a influência de amigos, de colegas, do trabalho, da "tribo" (não gosto desse termo porque aprisiona num conceito indígena um comportamento urbano que não cabe, antropologicamente, numa definição tão parca); do próprio eu, seja por influência da leitura, da genética ou da conduta pessoal de cada um.

Amparados nesse tripé somos, aos olhos dos demais, liberais ou conservadores (outro pré-julgamento). Aceitamos com maior permissividade ou não o comportamento alheio. Somos flexíveis ou não.

Defendo, sempre, que a minha própria conduta não se paute pelo olhar e opinião alheios: as pessoas, conhecidas ou não, não sabem o que sinto, o que penso, o que faço, do que sou capaz. 

Se eu não disser, ipisis literis, ninguém saberá realmente o que sou e o que espero, com todos os meus conceitos e pré-conceitos.

Daí que há uma preocupação generalizada (eu me incluo neste rol) sobre o comportamento alheio. Estou para descobrir se existe algo mais agradável do que falar sobre os outros. Digo que não é nem um passatempo, e sim uma característica humana. Do mais astuto e articulado observador ao menos informado, somos, todos, condutores de comentários gentis, atrevidos, venenosos e cruéis. Uma fala é suficiente para derrubar o outro. Um gesto pode soerguer uma pessoa.

Ninguém é uma ilha (livro de J.M. Simmel) é mais do que um título: é uma assertiva. Nem mesmo uma freira que fez voto de silêncio ou um eremita conseguem prescindir do outro. O mundo é povoado por bilhões de pessoas e está cada vez mais difícil se isolar.

Enganamo-nos, penso, quando acreditamos que viver numa cidade como São Paulo é ser acobertado pelo manto do anonimato. Isso não existe. Mesmo porque considero uma falácia qualquer tentativa de isolamento. Até mesmo sozinhos somos capazes de julgar. Pior: é exatamente nesses momentos que fazemos auto-julgamentos e as consequências podem ser desastrosas.

O que sei é que o mundo é assim. Vivemos cercados de pessoas que vão (como nós mesmos) nos julgar pela aparência, pela posse material, pelos adornos, pela estética do corpo, pelo apelo que temos (ou acreditamos ter). É difícil não se pautar pelo outro quando o que mais esperamos é justamente a aprovação desse outro. É mesmo uma dependência química.

Se você pensar no mundo do reino animal, verá que, com raras exceções, também os bichos se amontoam em comunidades. Um cavalo quer a companhia de outro. Um carneiro bale porque está separado do rebanho. Uma galinha cacareja se está afastada do galinheiro. O bezerro berra quando longe da vaca. Se eles, os bichos, têm a necessidade da proteção do rebanho, que dirá de nós, humanos que pensam que pensam? Que pensam que realizam, que se amontoam em bandos justamente para não se confrontar com as próprias fragilidades?

A mim me parece que julgo o outro para, primeiro, me divertir (o que pode ser considerado um comportamento irascível e desprezível), e também para que, ao criticar o outro, eu tente reduzir em mim os efeitos daquilo que critiquei no outro.

Em outro viés de auto-julgamento, não me considero pior nem melhor do que ninguém. Vivo no mesmo meio que todos e sou tão afetado pelo ambiente quanto os demais. O fato de eu ter uma consciência diferente da sua não faz com que eu seja mais iluminado. Tão-somente me faz ter percepções de outras formas, mas, no fundo, não tão diferentes de um caboclo que viva no meio do mato.

O humano, em geral, guia-se primeiro pelo instinto. O pensamento, articulado, vem do aprendizado. E não significa que esse aprendizado te eleve a outros níveis (outro julgamento). Significa apenas que você pode ter ferramentas mais adequadas para se projetar. Apenas isto.

O que é claro para mim é que acendemos fogueiras diariamente e ateamos fogo em fariseus (sob a nossa ótica) porque os julgamos e condenamos. Que queimamos os filmes alheios por acharmos que a minha, a sua, a nossa opinião tem mais validade do que a do outro. Formamos júris para defender e para acusar.

Quando, ao final de todo o processo, ninguém, você e eu inclusos, encontraremos absolvição, redenção ou condenação. Restará apenas o vazio. Sem respostas. Sem olhares. Sem benevolência. Porque até mesmo a condescendência é um sinal de julgamento.

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Redneck, em inglês, define um homem rude (e nude), grosseiro. Às vezes, posso ser bem bronco. Mas, na maior parte do tempo, sou doce, sensível e rio de tudo, inclusive de mim mesmo. (Redneck is an English expression meaning rude, brute - and nude - man. Those who knows me know that sometimes can be very stupid. But most times, I'm sweet, sensitive and always laugh at everything, including myself.)

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