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quarta-feira, 9 de julho de 2008

De corpos e de almas

Estou na metade da leitura do livro "As Revelações Picantes dos Grandes Chefs" (Irvine Welsh, Rocco) e, a princípio, achei que fosse algo relativo à gastronomia. Aliás, exatamente por isso comprei o livro. Não, não é nada disso.


O livro está mais para a história de "O Retrato de Dorian Gray", aquele no qual o retrato envelhece ao passo que o retratado permanece jovem. É um mito antigo esse, de Peter Pan, de querer permanecer jovem.


E o livro que leio baseia-se muito em Dorian Gray: há dois personagens antagônicos - um, fraco, viciado em games e trenzinhos de ferro de moleques; o outro, hooligan, agressivo, cocainômano, alcóolatra. A uma determinada altura do livro, tudo o que o personagem agressivo faz contra o corpo começa a reverberar no menino frágil. Estou no instante em que um exala morte e o outro, que se auto-destrói, parece um modelo de saúde de capa de revista.

Na verdade, a história é bem interessante e a linguagem do autor é dura e atualíssima. Tem todos os ícones pops atuais e não perdoa nada, tampouco a submissão escocesa à Coroa Britânica (a história se passa em Edimburgo).

Quando eu li Dorian Gray, sempre imaginei como seria trocar de lugar com uma foto. Fixar todas as agruras da vida naquele registro. Neste outro livro, a mesma coisa: o que seria se pudéssemos transferir a terceiros o pior de nós?


Creio que, como todo mundo, tenho algumas coisas em mim das quais não gosto, físicas e emocionais. Seria perfeito explorar meu corpo à exaustão e não me ressentir. Melhor ainda fazer migrar todas as mágoas, dores e decepções para outra alma.

Será que a alma tem cor, cheiro, peso? Dizemos que estamos com dor na alma quando tristes; que nossas almas estão enlevadas ou sombrias; que somos almas puras ou transtornadas; obsessivas ou boas.

Dizem que o corpo perde 21 gramas imediatamente após a morte física e que esse seria o peso da alma que, automaticamente, deixa o invólucro humano sem vida (o filme 21 Gramas tem esse nome por conta dessa lenda). Será que é isso mesmo?

E se eu pudesse trocar de alma? Tê-la mais destemida e mais sombria ou menos pungente e mais atrevida? E o receptor? O que faria com a alma nova? Como escolher ou ser escolhido?


Não importa. Se eu pudesse, queria, acho que como todas as pessoas, trocar algo em mim, de corpo e alma. Mas, ainda assim, manter-me ao ponto de não perder de mim minha própria identidade, cheiro, gestual, sensacões.

De não perder minha alma por inteiro. A queria, pois, não integralmente, mas, se é que existem esses 21 gramas ectoplasmáticos, mantê-los, ao menos, uns 11 ou 12 gramas da original.

Porque, depois de desgarrada, diz outra lenda (inventada por mim), a alma rejeitada emburra e empaca e pode ficar confinada num corpo que você odeia: por ser o oposto do que você deseja ou exatamente por ser tudo aquilo que você deseja. Se vai a alma e fica o corpo. Mas, fica a pequenez da alma, talvez 1 ou 2 gramas, cujas filigranas respondem pela inveja, ódio, desolação, desesperança.

Seria essa a vingança da alma rechaçada: deixar o rastro ruim e levar o bom (se é que o há) para o outro corpo, doravante concorrente em alma de você mesmo.

Sei que Dorian Gray acabou mal e pelo que leio em "As Revelações ...", as coisas não vão bem também. OK! Amuado, enfim, desisto dessa troca de alma. Mas, o corpo? Você tem o telefone do Pitanguy aí na sua agenda?

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Redneck, em inglês, define um homem rude (e nude), grosseiro. Às vezes, posso ser bem bronco. Mas, na maior parte do tempo, sou doce, sensível e rio de tudo, inclusive de mim mesmo. (Redneck is an English expression meaning rude, brute - and nude - man. Those who knows me know that sometimes can be very stupid. But most times, I'm sweet, sensitive and always laugh at everything, including myself.)

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