Emigrantes
Hoje, quinta-feira, 24 de julho, deixa o País uma grande amiga. Outra emigrante do meu não tão extenso círculo de amigos. Sou de poucos amigos. Me basta o pouco.
Com a viagem da La Voyageuse, serão quatro os amigos que vivem no exterior. La Voyageuse se vai para Montreal, Canadá. E vai porque tem que ir. Tem um dado momento que você deve partir, seja do seu País, da casa dos pais, da sua própria casa. A mudança é o moto-contínuo que faz a girar a roda do mundo.
Outros três amigos vivem em NY (EUA), Bruxelas (Bélgica) e Luanda (Angola). Estão longe geograficamente, mas, nunca os sinto longe demais que não estejam ao alcance de meia dúzia de palavras. Um contato por e-mail, um recado no Facebook, uma passadinha no Orkut. E, voilà! Estamos conectados novamente.
Com a partida da La Voyageuse, serei povoado virtualmente de quatro diferentes cantos do mundo, quatro distintas culturas. Tenho a facilidade da osmose, que me permite viver, por afinidade, muitos dos momentos desses amigos. Não preciso estar no local para compartilhar emoções. Vivo com os relatos, com as notícias. Até com a falta de notícia, viu Alessandra e Ana?
Navegar é preciso, viver não é preciso, disse o luso. Concordo. Navegar é buscar. É partir. Não sou egoísta a ponto de sentir que "perco" esses amigos. Ao contrário, os ganho no mundo.
Libertaram-se de raízes que, no final das contas, não estavam alicerçadas a ponto de não poder serem removidas.
E, como eu disse para La Voyageuse, o que nos mantêm e nos ata ao lugar? O trabalho? Duvido! Os amigos? Esses os temos a qualquer hora e em qualquer lugar, segundo minha crença. Então, o que nos prende? Nada.
Somos, sim, pássaros. Podemos bater em revoada a qualquer momento. O que me prende ao Brasil? O fato de eu ter nascido aqui? Nada mais me limita ao meu território.
Se há alguma vantagem na globalização, para mim, é o sentido que esse conceito dá à expressão "aldeia global". Um vôo me separa dos demais continentes. Se a minha bisavó fez uma travessia dura pelo Atlântico ao deixar a Espanha e vir dar origem a nós, seus descendentes, aqui no Brasil, e dispendeu entre 3 e 4 meses no mar, onde entregou aos peixes dois filhos, hoje eu refaço o mesmo caminho em apenas 9 horas.
De um solo a outro, o que muda é a língua. No fundamento, somos, todos, iguaizinhos, sejamos brasileiros, ingleses, espanhóis ou macedônios. Oras! Leia nos livros e assista nos filmes: estão lá, todos os seres, com as mesmas aflições e questões. Nada de diferente.
Então, La Voyageuse, vai. Navegue, trilhe, caminhe. Respostas? A quê? Às respostas prefiro as perguntas, o novo, as descobertas. Leve consigo apenas sua própria moradia, que é você mesma. Leve consigo seus temores, suas perspectivas, suas motivações, suas angústias. Essas são a sua morada.
Embaixo da terra, em Montreal, ou nas tundras canadenses, não importa. Seja o chão de neve, de barro, de calcário, é o mesmo chão desta Terra que, se me permite, nos pertence. Daqui, do mirante do nono andar, somente o que vejo são chegadas, em oposição às partidas.
Um dias desses nos encontramos num aeroporto qualquer. Um café, uma conversa familiar, risos e novidades. Só para satisfazer as demandas físicas. Porque, as demandas emocionais são atemporais e independem do espaço que lhes cabe no latifúndio imenso que é a Terra. Boa viagem!
1 Comentário:
O que falar sobre esse texto? Me emocionei pela segunda vez ao lê-lo. Ver nossa amiga partir me vez pensar sobre nosso lugar no mundo e o espaço que ocupamos na vida das pessoas. Seu lugar está garantido por muito tempo aqui, em Barcelona ou no Japão. O que importa é essa conexão que se faz com palavras e emoções. Pode contar comigo. Continuo aqui pertinho... Bjos,
Bia
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