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domingo, 6 de julho de 2008

Meu rugido dominical

Li hoje no jornal sobre algumas mudanças nas grandes cidades: os paulistanos milionários que deixam Alphaville para morar nos novos condomínios, praticamente dentro de shoppings; os nova iorquinos gays que lamentam o desaparecimento de clubes e saunas gays e o desaquecimento da vida gay de Nova York por conta das políticas públicas emitidas pelo prefeito Michael Bloomberg e conforme o comportamento da nova geração; a personagem de Débora Secco na novela das oito que sai no tapa com duas moradoras de ruas, "donas" da mesma rua na qual a personagem pedia dinheiro.


De quem e como são feitas as cidades? A que pedaço(s) eu tenho direito em uma cidade? Aonde eu me encaixo? Sou de uma tribo, sou parte do todo, sou o bloco do eu sozinho? Tenho que brigar pelo meu espaço, morar sob a ponte?

Decidi que, de acordo com alguns visitantes (né, Mara?), já que estou em constante movimento, o lugar mais provável para eu viver é dentro do Metrô de São Paulo. Viverei em constante mutação. Graças ao empenho dos governos, o metrô é expandido, a cada década, em alguns metros. A passos de tatuzão congestionado, tudo bem, mas, não importa.

Importa que eu tenho 61,3 Km e 55 estações para me esbaldar e fazer baldeações de acordo com meus desejos. Por que isso agora? Porque o metrô, a despeito de eu ter reclamado, nos últimos meses, em 3 a cada 5 posts, é São Paulo. Democrático, multicultural, miscigenado, engraçado, cansado, triste, alegre, risonho. Sempre apressado. Movimento.

Um enorme verme que atravessa os subterrâneos da cidade, entupido de milhares de seres, humanos ou não, que pensam que vão para algum lugar. Entre eles, eu. Desde o ano passado, quando voltei a usar o metrô como meio de transporte, redescobri essa mutação que é São Paulo.

E, você quer saber? São Paulo sob a terra é uma festa. Na segunda-feira, há um falatório no ar. A semana começa, meio lenta, e as pessoas têm o que falar sobre o fim de semana. Sim, o metrô está superlotado, mas, como é o primeiro dia útil, ainda há muita paciência.

Na terça-feira e até quinta-feira, tudo muda. Começa com a educação, que passa a ser a lei do mais forte: quanto mais mal-educado você for, antes tomará o trem. As mulheres, por incrível que pareça, são sempre mais mal-educadas: enfiam-se entre você e a plataforma e, com a inexorável desculpa de que somos (os homens) uns cavalos, nos afastam (porque tememos que berrem um assédio inexistente) e tomam nossos lugares. Já fui acusado de encoxar duas, pelo menos (duas ogras, assim no estilo Shrek). Levei unhadas, safanões e peitadas. O que engoli de cabelos alheios daria para fazer perucas para todo o elenco de "Priscila".

Na sexta-feira, é a glória! Como o povo não tem pressa de voltar para casa, é um sossego. Em pleno horário de pico, você chega de um ponto ao outro sem esperar mais do que dois trens a cada baldeação. É o melhor dia, com certeza.

Mas, ainda assim, por que a opção de morar no metrô? Porque eu ando bem por essa cidade. De carro, a pé ou de qualquer outro jeito, vou a vários lugares. Passo pelas ruas, pelos bares, restaurantes e, ocasionalmente, baladas. E, devo dizer, não há lugar melhor em São Paulo para encontrar pessoas interessantes do que o metrô.

Outro dia comentei que se paquera e muito no metrô. Se você for observador(a) como eu, perceberá que há verdadeiros encontros dentro dos trens. Neste e ano passado, foi o local em que eu mesmo mais paquerei e fui paquerado.

Tenho uma amiga de viagens metroviárias a quem chamo de girafa: é um tal do pescoço girar para lá e para cá como se de molas fosse feito. Ela tem a angustiante tendência de perder-se nas direções e, se temos que embarcar sentido Jabaquara, basta ela ver os chamados "delícias" para caminhar em sentido oposto, para o Tucuruvi. Quando não para a zona leste, rumo a Itaquera.
Eu, que sou fino, a detenho e a chamo à razão (talvez por inveja).

Feito um balanço, creio que o movimento dos trens nos coloca, voluntária ou involuntariamente, também em movimento. E, não, Patty, não dá para ser neutro em um trem em movimento. Dá para ser tudo, exceto neutro.

Dado tudo isso, concluo que a melhor opção, conforme as minhas atuais demandas (não vem ao caso expô-las, por ora), decidi morar no metrô. Claro que me enfrentarei com a segurança fardada (ai que medo!!!), mas, está decidido. Serei como o Patrick Swayze de Ghost: é lá que desencadearei o passado, o presente e o futuro com os fantasmas - vivos e mortos.

É dos subterrâneos que aflorarei à terra. Dos túneis, terei a luz para as minhas Carolines. Dos movimentos dos trens, movimentarei-me a mim mesmo. Pois que, se sou movimento, preciso ser conduzido, preciso que as células se reagrupem a cada arrancada e brecada, que os neurônios se atropelem, confusos, e voltem a fazer sinapses, ainda que absurdas, quando o tranco da brecada pára, de chofre.

Sob a luz artificial das estações, bronzearei-me na expectativa de descobrir, enfim, a que lugar eu pertenço, tal qual uma marmota que escava o solo à procura de morada durante o inverno e, ao final da estação (de inverno, não da Consolação), sai em busca de calor, Luz (natural e da estacão) e do Paraíso, enfim.

3 Comentários:

leve solto disse...

Né!!!rs

Agora falando sério. Acredito que este foi um dos mais belos textos que li dos seus.

Bjs

Mara


PS.: A propósito, com todo o movimento subterrâneo, vc não viu o odiado e incompetente cupido não??? rs
Se encontrá-lo, me avise pois mudarei meu meio de transporte..rs
Mesmo que tenha que lembrar da sua amiga e ir para estações que nada têm de útil pra mim, a não ser interessantes paqueras..rsrs

Reiko Miura disse...

O que eu mais curto no metrô é que agora as pessoas me vêem entrar e se levantam pra dar lugar. Um dia um amigo me perguntou se eu aceitava. Oras, e quem sou eu pra recusar tanta gentileza! Tá certo que tem gente que fica ofendido, "tá me achando com cara de velho, é????" Eu aproveito.

Paqueras rolam no metrô, mas também tem muito olhar do tipo "ninguém te disse que essa roupa é ridícula?" ou "esse manequim tá um pouquinho pequeno pra você, heim?". Isso tudo depois daquela medida dos pés à cabeça. Gente fazendo que tá olhando, mas faz que não tá vendo.

Mas o que falta ao nosso metrô, são áreas abertas. Aí sim, eu ia ser a fã número um. Por enquanto, enquanto não tenho pressa, vou de ônibus, vendo a paisagem.

bjs.

Redneck disse...

Mara, te deixei um recado lá no seu blog. Obrigado! Quanto ao Cupido, depois do assassinato, não tenho visto nem penas do ser. Não sei se te falei, mas ando a investir em macumba agora. De qualquer forma, se eu avistar algo que valha a pena, te aviso. Beijo!

Andarilha, pois que tem de um tudo no metrô, numa verdadeira efervescência do que vai aqui por cima. Quanto aos olhares, os há de todas as maneiras. Beijo!