Ninguém é uma ilha: a realidade dos blogs e internautas cubanos
Cuba é uma ilha. O regime político de Cuba colocou a ilha em estado de sítio. Totalmente isolada, em quarentena que perdura já por cinco longas décadas, a ilha de Cuba ora acena para juntar-se ao arquipélago das demais ilhas mundiais, ora flutua feito a ilha fictícia de Saramago em "A Jangada de Pedra".
(Relógio com o protagonista de "Prison Break" que estampa um dos blogs cubanos em alusão à contagem das horas para a liberdade da ilha)
Há pouco mais de um ano, comentei neste espaço sobre o blog Generácion Y, cuja autora, Yoani Sánchez, havia ganho o prêmio Ortega y Gasset de Jornalismo, dado pelo jornal espanhol "El País", que é uma das maiores honrarias no meio jornalístico. Mais ou menos naquela época, Cuba havia acabado de liberar a venda de celulares e computadores no país. Gesto que levava a crer na expansão do acesso à rede mundial e um consequente relaxamento no cabresto censor que controla as vozes cubanas. E principalmente dos blogs cubanos que tentam vencer as barreiras geográficas e políticas que isolam a ilha.
A seguir, uma lista de blogs cubanos que vale a pena visitar para se conhecer a realidade de Cuba:
Não foi isso que aconteceu. Cuba, a despeito de Fidel Castro ter deixado o pedestal de comandante-em-chefe do país, e aparentemente se preparar para a transição pós-Fidel, está do mesmo jeito que estava. A ilha, ao contrário da fantasiosa ilha de "Lost", não saiu do lugar.
Minto. A ilha retrocedeu. As dificuldades e proibições para acessar a internet em Cuba até aumentaram, segundo a denúncia dos blogueiros cubanos que mantêm posições críticas em relação ao governo de Havana. Em reportagem do jornal "El País", o mesmo que concedeu o prêmio a Yoani, o marido da blogueira, o jornalista Reinado Escobar, que também tem um blog contestador, disse que está em vigor uma resolução ministerial que impede a venda de cartões de acesso à internet a potenciais usuários cubanos nos hotéis de Havana.
Funcionários dos hotéis confirmam a proibição e afirmam que a instrução do governo limita a venda do serviço de internet apenas aos usuários estrangeiros. A resolução é dos Ministérios do Turismo e de Informática e Telecomunicações e expressa claramente que o serviço de internet sem fio (ou wireless) está disponível apenas para visitantes estrangeiros. Quanto às conexões de acesso discado, provavelmente o governo cubano não tem com que se preocupar: basicamente não há telefonia fixa doméstica na ilha.
O uso da internet em Cuba é totalmente limitado. Os cubanos não podem ser assinantes de contas particulares a não ser que sejam especialmente autorizados. Em ato contraditório, as pessoas podem criar contas de e-mail nos correios cubanos, mas não têm acesso à internet. Motivo pelo qual recorrem aos hotéis que vendem cartões de acesso.
Mas, como tudo em Cuba, as informações são confusas. Conforme a equipe do "El País", na maior parte dos hotéis de Havana visitados era possível constatar a venda de cartões para usuários cubanos e poucos funcionários dos hotéis sabiam da nova legislação.
De qualquer forma, com leis restritivas ou não, há um impedimento maior para o acesso à internet: o preço. O salário médio mensal dos cubanos é de 15 euros. O acesso à internet custa 4 euros por 30 minutos e 8 euros por 1 hora. Ou seja, se você é cubano(a), ganha salário-mínimo e acessa a internet duas vezes por mês, morre de fome.
Conforme outras fontes, o provedor de internet em Cuba é a operadora Etecsa (Empresade Telecomunicaciones de Cuba, de capital cubano-italiano), que estabelece as regras para os serviços de internet. A maior parte dos hotéis de Cuba tem acesso à internet mas, segundo outras fontes, o problema com as limitações no uso da internet são muitos, e não apenas este, que é pontual. Um outro dissidente diz que existe a possibilidade de o governo limitar ainda mais o uso da internet como forma de controlar a informação em função da grave crise econômica, que afeta Cuba tanto quanto o resto do mundo.
O que me leva de volta ao título deste post: ninguém, pessoas ou países, é uma ilha. Os efeitos de qualquer evento, para o bem e para o mal, ressoam no mundo inteiro. Os blogs cubanos, para sobreviver, precisam hospedar-se fora da ilha, sob pena de serem invadidos e exterminados pelas autoridades. Como na China, no entanto, o que não falta é criatividade e como a internet é um ótimo (e também péssimo) meio para se disseminar o que quer que seja, os blogueiros cubanos têm conseguido fazer elevar sua voz na rede mundial.
4 Comentários:
A cada dia que passa fico mais impressionada, pois fico um tempo sem acessar teu blog e quando entro me surpreendo.
Parabéns mais uma vez, maravilhoso em todos os sentidos.
Melhor não candidatar-se, então! :)
Ana, obrigado pelo carinho. A despeito da distância entre nós, equivalente a um continente, você está mais perto do que supõe. Beijo!
Umbilical, foi um comentário em referência a um caro deputado do nosso Congresso que afirmou, literalmente, que "está se lixando para a opinião pública". Essa eleição a que me candidatei, ao contrário, depende da opinião pública. Foi apenas um trocadilho com um momento específico da classe política que tão bem nos serve. ;)
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