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domingo, 17 de maio de 2009

Meu rugido dominical


Na história da humanidade, faz relativamente pouco tempo que dominamos a eletricidade. A lâmpada que nos alumia a todos e afasta de nós (quase) toda a escuridão vem de 1879, ou seja, apenas 130 anos nos separam das luminárias antigas de querosene.


E nem tanto assim, se eu considerar o meu caso particular. Quando morava no campo, a minha casa era, a princípio, iluminada por lâmpadas de querosene. Depois, passamos a ter luz gerada por gás. Isso mesmo. O botijão de gás ficava instalado no forro, num ponto estratégico a partir do qual todos os cômodos recebiam a claridade.

Se diz da luz que nós damos pela sua ausência somente quando falta. É verdade. Poucas vezes eu fiquei sem luz nesse ponto da cidade de São Paulo no qual habito, próximo da Avenida Paulista. Acho que foram umas duas ou três vezes no máximo nos últimos cinco anos. É pouco. Mesmo porque imagine a dificuldade de subir nove andares de escada. Com o meu fôlego a folgar em férias permanentes, acho que pediria ajuda aos bombeiros para subir de escada magirus.

De tal forma que a luz e a eletricidade são fatos consumados e nem paramos para pensar muito sobre isso. Queremos ligar nossas tomadas e que a luz se faça. Fiat lux! Pronto.

De uns tempos para cá, no entanto, tenho notado uma revolução que começou silenciosa, com pequenos zumbidos, por parte dos aparelhos elétricos de casa. Um estalido aqui, outro ali, um pequeno suspiro elétrico, quase um nada.

Mas, agora, o aparelho de TV, o computador, a geladeira, o boiler do chuveiro entoam, em diferentes níveis, uma verdadeira sinfonia de ruídos, estalidos, roncos e trovões. São verdadeiros atentados contra o silêncio, principalmente de madrugada, quando você se dá conta que, entre correntes alternadas, os equipamentos alternam-se em lhe pregar sustos.

Desconfio que a estrutura elétrica do meu apartamento esteja escandalosamente em ruínas e agradeço por não ser um bichinho microscópico daqueles que atravessam as paredes para saber o que se passa nos subterrâneos da rede de energia. Volta e meia, uma lâmpada estoura, do nada. Vida útil? Não. A vida útil de uma lâmpada incandescente é de cerca de 750 horas, e não de 100 horas, como as de casa. Se eu calculo a vida útil das lâmpadas para saber isso? Claro que não. Chutei apenas.

Mas o que quero dizer é que há uma carga elétrica que transita em casa que certamente não pode ser boa. Se a TV, o computador, a geladeira e o boiler gritam, imagine o que eu terei que fazer? Não sei. Me incomodam essas vozes elétricas, vindas das profundas das centrais de distribuição. Atravessam, répteis, as mais longas colunas de torres da usina até a cidade e chegam, sorrateiras, em casa. Entram a convite, é verdade. Clique! E pronto! Se fazem presentes feito o gênio da lâmpada de Aladim que, aliás, funcionava à base de azeite.

Você sabe que sou dado a reflexões profundas que, na maior parte das vezes, me levam a conclusões mais rasteiras do que os movimentos reptílicos a que eu me referi acima. Sob pena de tornar-me crédulo dos reptilianos (googling neles) ao me igualar a eles em nível, vou tentar explicar as investidas da eletricidade para comigo.

Sou de um signo que pertence à esfera do fogo. Sob os auspícios e conselhos maternos, no entanto, estou firmemente resoluto na intenção de beber, pelo menos, dois litros de água por dia. Nem tanto para me purificar, posto que puro ando há muito, e sim para fazer uma limpeza interna, uma verdadeira lavagem das minhas próprias escadarias com objetivo de atingir um bom fim.

A energia elétrica é gerada pela água. Eu, de dois copos (cerca de 400/500 ml), passei a consumir entre 2 e 2,5 litros de água diários. Por circuitos, elétricos por certo, que não tenho a mínima ideia de como se conectam, as partículas elementares que formam a água comunicaram-se, em cambiantes vasos, e de gota em gota, chegou a minha fatura, não em forma de cobranca emitida pela companhia distribuidora, mas por meio de manifestações hostis que se liberam pelas tomadas.

Concluo que estou em guerra não-declarada com a eletricidade. Quanto a isso não há muito o que se fazer, ainda que eu, como um ser humano (acho), gere uma carga ínfima de energia elétrica. Não suficiente, no entanto, para fazer luz e tampouco para gerar um filete que seja de água na torneira.

Sobre Fernanda Montenegro, o diretor Walter Salles disse que, no filme "A Central do Brasil", a atriz imantou a todos os demais com o nível de excelência de atuacão. Fiquei com uma ponta de inveja. Não tenho capacidade de imantar coisa alguma. Até testei o pente nos cabelos e tudo o que se viu foram pequenas tentativas de encrespamento logo relegadas a um muxoxo frouxo de cabelos esparsos. E foi só.

Pois que além de ser uma quase irrisória fonte de magnetismo, descobri que estou em estado de sítio, cercado por proteção elétrica que, a qualquer momento, pode desencadear uma onda gigantesca de choques. OK. Não digo que estou preparado. Mas pode ser a oportunidade de um solavanco que eu preciso. Ah! A geladeira acabou de emitir um estrondo, em concordância.

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Redneck, em inglês, define um homem rude (e nude), grosseiro. Às vezes, posso ser bem bronco. Mas, na maior parte do tempo, sou doce, sensível e rio de tudo, inclusive de mim mesmo. (Redneck is an English expression meaning rude, brute - and nude - man. Those who knows me know that sometimes can be very stupid. But most times, I'm sweet, sensitive and always laugh at everything, including myself.)

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