As coisas e as pessoas no devido lugar
Sempre me ocorreu que, assim como vamos ao zoológico ver os bichos em simulados habitats naturais, deveríamos passar do lado de lá, e por eles, os bichos, sermos vistos como objeto também de exposição. Porque os ditos habitats naturais podem ser tudo, exceto naturais.
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Pois que é da natureza dos bichos serem livres, assim como se acredita que o homem é livre por natureza. Mas o homem insiste em colocar os bichos em jaulas à prova da expiação pública. Como atrações circenses.
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Se você vai ao zoológico e olha para os bichos, percebe dois tipos de comportamento: ou os bichos pouco se importam com o burburinho humano, em atitude low profile e de total indiferença, ou ficam agressivos, confusos com tanto movimento e barulho.
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O Zoológico ZSL de Londres resolveu inverter a situação e colocou o homem numa jaula para a visitação pública. O homem, funcionário do zoológico, ficará preso na jaula por três dias, pela qual poderá ser observado em quase todas as atividades que um humano faz sob a presença de outros humanos.
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A proposta do zoológico é mostrar aos visitantes a devastação que o impacto humano provoca sobre as populações animais em todo o mundo nos seus respectivos habitats. A jaula que abriga o homem foi desenhada para representar um habitat humano natural o mais próximo possível do que se pode encontrar numa residência modesta, com mesa, cadeira e uma chaleira para fazer café. As visitas à jaula humana começam no sábado, 23, e vão até 25, na segunda-feira.
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O experimento do zoológico de Londres me lembra duas outras atividades: a dos performáticos que moraram na Avenida Paulista, numa vitrine de vidro, e ficavam expostos à observação pública as 24 horas por dia, e a experiência de Maurício Ianês, durante a Bienal de São Paulo no final do ano passado que, completamente nu, recebeu doações dos visitantes.
As três experiências - Londres, Avenida Paulista e Bienal - têm o mérito de colocar as coisas (ideias e reflexões) e pessoas nos seus devidos lugares, inclusive em jaulas, para que os outros (também humanos) os espiem e extraiam disso algum tipo de reação.
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