Ensaio sobre a visão
Quem disse a frase "o que os olhos não veem, o coração não sente" por certo é um ser desalmado, sem filigranas que o apurem para um olhar mais atento sobre as coisas que na alma vão. Os olhos atravessam qualquer barreira e, se não enxergam o que deveriam, veem pelo coração, esse sim dono de um olhar mais acurado. Se digo que estou de olho em você, o que significa? Espionagem? Medo? Desejo? Se digo que sinto o olhar alheio sobre mim, será isto um sinal ancestral, de feromônios a agir por meio das retinas?
Olhar cristalino. Olhos que dizem. Olhos dissimulados de Capitu. Olhar permissivo. Compassivo. Do rosto, o que mais eu gosto nas pessoas são os olhos. Que dizem ou ocultam. De resto, os olhos são janelas, sim. Que, se bem abertos, permitem que se faça a leitura.
Meus olhos podem não ver tudo. Mas precedem o que o coração deseja. Olho com fome, com desdém, com rancor, desprezo. Meu olhar apara e barra. Ou não. Creio que tenho a capacidade de, com o olhar, saber o que se vai na alma alheia. Quase sempre.
Meu coração pouco se equivoca de olhares esguios, vadios, que se movem em rápido movimento, tal qual o REM dos sonhos profundos. Antes que os olhos concluam o clínico exame, o coração já tem o prognóstico pronto. Mas os olhos ... Ah! Os olhos. Os olhos que te decifram e a mim também são, inegavelmente, espelhos do que te(me) vai no coração.
2 Comentários:
...estava habituado a "ler" nos olhares os coraçoes. hoje não confio nem no meu próprio coração, mas acredito que meu olhar diga tudo... porém, como é posssível que não o enxerguem os outros?... também estava habituado a que me lessem nos olhos o que nem sempre queria assumir, mas estava LÁ. viam transparência e, sobretudo, foi o que mais ouvi até hoje: "TRISTEZA"... os teus olhos são tristes... certa vez um absoluto desconhecido me abordou e tentou animar porque estava vendo nos meus olhos que eu estava muito triste... nem soube reagir, embora ele estivesse certo, e não era conversa de engate não!...
Cada dia a tristeza maior mas alguém deve ter-me operado a retina e eu nem dei conta. as lágrimas devem ser de crocodilo, ou de cebola descascada.
Sei que não me encontro mais em algum olhar e que nem um me reconhece no meu.
Valeu as imagens!
Anônimo, de olhares tristes entendo eu que sempre fui classificado de olhares de ressaca, tristonhos, fechados, embaçados. Nunca que me disseram que meus olhos sorriam. Ao contrário, que sempre diziam o que se me ia n'alma. Não sei se diziam isso mesmo. O certo é que sinto o peso do olhar e o olhar de retorno não é tão mais leve do que o meu. Como a você, a mim por certo tiraram a menina dos olhos e sobrou uma velha dos olhos, ressecada, a cheirar a cebolas mofadas. As lágrimas? Não me sobraram nem para a função original, de chorar para melhor enxergar depois. De olhares difusos, repito, entendo. Por isso tanta imagem de olhos que já não encontro correspondência com os meus.
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