Com que roupa eu vou?
" ...Eu já corri de vento em popa, mas agora com que roupa?
Com que roupa que eu vou pro samba que você me convidou?
Com que roupa que eu vou pro samba que você me convidou?
Eu hoje estou pulando como sapo, pra ver se escapo
desta praga de urubu
Já estou coberto de farrapo, eu vou acabar
ficando nu
Meu paletó virou estopa e eu nem sei mais com que roupa
Com que roupa que eu vou pro samba que você me convidou? ..."
(Ensaio do estilista Romain Kremer para a revista Dazed)
A letra da música "Com Que Roupa?", de Noel Rosa, veste perfeitamente a atualidade, com uma busca frenética por ares de casualismo sem parecer que o casual é ajustado peça a peça como que por um alfaiate. Ao mesmo tempo, a roupa tem que ter, ora essa, uma impressão de desleixo tal que, sob um olhar furtivo, pareça tão natural quanto aqueles velhos lençóis que quaravam ao sol nas tardes de sol seco.
Estou no processo de confecção (a propósito de moda) de um trabalho sobre moda. Entre um chuleado e um pesponto, prego os olhos na indefectível definição do que vem a ser moda. As respostas, as mais díspares, não me convencem.
Moda é um costume Ermenegildo Zegna ou um troçopano (vestimenta a mais básica de um livro extraordinário que estou a ler)? É Burberry ou 'burberries'? Claro, temos alguma noção do que é bom, vistoso, que nos serve feito casas que se fecham sobre os botões. Pois bem quisera eu ter um guarda-roupa à base de Armanis, Zegnas, Abercrombie & Fitch e tantos outros.
(Desfile da coleção de Romain Kremer)
Mas não passo da básica camiseta e jeans e tênis. A tríplice aliança que funciona feito o uniforme comunista chinês implantado por Mao Tse Tung que enfeiou todo um país. No final das contas, a juntar o cós com as pontas esgarçadas de uma calça velha, ficamos todos comunistas no modelito.
De novo, a repetir uma questão por aqui já levantada: ser uma fashion victim ou proclamar uma fashion victory? Ditar a tendência, seja qual for, ou pela corrente ser levado, feito passarela de top models que vão e vêm e equivalem a caravanas que passam, independentemente dos latidos dos cachorros?
(Ensaio de Thierry Mugler para a Dazed)
Estampo aqui, nas fotos do post, editoriais da revista norte-americana Dazed que vestem homens e mulheres de forma mecânica e robótica. A meu ver, bastante prática a abordagem porque nos iguala, ambos os sexos, a meros peões repetidores, de uma indústria serial que copia, copia e copia e melhor seria se dispusesse de uma gigantesca máquina copiadora a reproduzir-nos a todos, embalados para presente.
Com que roupa eu vou, afinal, Noel Rosa? Noel, vivo fosse, seria curto e grosso: vai nu ou de estopa que está de bom tamanho. OK! Vou de troçopano. Porque, né Dori, é para Maracangalha, é pra lá que vou! De uniforme branco, de chapéu de palha. Eu vou só! Mas eu vou!
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