O que fazer quando se encontra dinheiro na rua?
Cenário: saldo negativo, contas vencidas, desemprego, total falta de perspectivas. Situação: você encontra dinheiro. O que você faz? Toma para si e usa? Procura quem o perdeu? Deixa onde encontrou?
O que define cada gesto? Egoísmo, falta de caráter, de ética? Ou honestidade, generosidade, desprendimento? O desespero financeiro próprio de quem achou pode ser maior do que aquele que perdeu? É uma espécie de jogo, uma aposta que pode levar você para um caminho ou para o outro. Depende dos princípios, da crença, da moral a que cada um lhe cabe.
Eu admito que, se encontrasse uma mala ou pacote com R$ 100 mil, R$ 500 mil, hesitaria muito antes de resolver o que fazer. Será que eu devolveria? Muitos falam que devolveriam espontaneamente. Mas quantos de nós encontrou muito dinheiro e se viu no dilema de tomar para si ou devolver ao legítimo dono, fosse aquele que o perdeu rico ou pobre?
Quando leio sobre isso, em geral, sinto que uma aura de beatitude coroa as pessoas que devolvem o dinheiro. Notícias dessa natureza baseiam-se, sobretudo, na premissa da honestidade. Porque a honestidade é moeda forte e poucos são os que podem cantar de galo no altar da franqueza a mais difícil: a do vil metal.
Abaixo, algumas histórias que ganham destaque justamente porque a ausência desse tipo de atitude as valoriza. Se chegam a enobrecer as pessoas que as praticam? Sinceramente, não sei. Também não sinto nenhuma identificação com quem o faz. Sei lá. A cada cabeça, uma sentença. Cada um tem uma crença, fé no divino ou medo do demo. Sejam lá quais forem os mecanismos que levam as pessoas a agir de boa ou má-fé, há quem o faça, de um lado e de outro, e nem por isso o mundo deixa de ser menos cão do que o é.
1. Vi hoje na TV que um homem devolveu um cheque encontrado de R$ 2,5 mil e ganhou de recompensa 100 quilos de carne do frigorífico proprietário do cheque.
2. Um gari do Espírito Santo foi recompensado em R$ 12.366 em 2007 quando devolveu o mesmo valor que encontrou num pacote no lixo. A recompensa foi idealizada por um padre que fez uma campanha para arrecadar o mesmo valor do dinheiro encontrado e dar ao gari. Do dono do dinheiro, recebeu R$ 1 mil de recompensa.
3. Na Argentina, um taxista devolveu cerca de R$ 72 mil a um casal de passageiros e recebeu como recompensa a palavra "gracias". Dois publicitários, impressionados com o fato de o taxista ter devolvido o dinheiro encontrado e mais ainda com a falta de tato do casal por não ter dado nada em troca, montaram um site para coletar o mesmo valor e entregar ao taxista como recompensa. Esta semana, os publicitários conseguiram arrecadar os R$ 72 mil e entregaram ao taxista. Depois que a campanha entrou no ar, o casal, dono do dinheiro, resolveu dar ao taxista R$ 7 mil. No final, ele ganhou R$ 79 mil.
4. No final do ano passado, às vésperas do Natal, uma menina de 5 anos, moradora de Ilhota (SC), uma das regiões mais atingidas pelas inundações de novembro em Santa Catarina, encontrou R$ 20 mil escondidos na manga de um casaco doado para a campanha de doações para os desabrigados pelas enchentes. O avô da menina devolveu o dinheiro ao proprietário, que lhe deu R$ 1 mil de recompensa.
5. Uma catadora de lixo achou R$ 40 mil no lixo de um supermercado em meados do ano passado e devolveu ao dono do próprio supermercado. Como recompensa, ganhou uma cesta básica no valor de R$ 600 até o final de 2008.
Coloquei as histórias aqui para refletir sobre elas. Ainda não sei o que faria. Ganharia o céu ao abrir as burras da minha sorte? Ou emitiria uma passagem para os infernos ao voltar as costas para a consciência, acaso a tivesse em desacordo com o gesto de reter o dinheiro encontrado? Não sei. Por enquanto, não fui posto à prova. Portanto, não tenho elementos de dúvida, incerteza, sabedoria, resolução e decisão para saber o que fazer. Espero encontrar logo uma quantia razoável para ver até onde eu e minha honestidade podemos chegar. Daí veremos ...
De forma que não respondo à questão levantada na chamada do post. Porque a resposta, descubro, não a tenho pronta. E se não a tenho pronta, e hesito em dar a destinação que pareceria correta, ou seja, devolver o achado ao legítimo dono, é porque não sei se o faria. Será que sou desonesto, portanto? Sem princípios? É possível medir uma pessoa por esse critério? A única coisa que sei até agora é que este post tem mais interrogações do que eu pretendia que tivesse.
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