A lábia irresistível do lábio
Me abrochou os lábios num comprimir de bocas que afrouxou qualquer tentativa de resistência. Os lábios que tocaram os meus estavam secos depois de tão longo inverno. Meus lábios procuraram os seus em silencioso consentimento. Ao olhar, seguiu-se o ritual de colar os lábios seus nos lábios meus. Com lascívia lábia, pousou sedosos lábios nos meus próprios e me calou.
E num movimento repentino, tascou-me um beijo mais do que roubado, quase invasivo. Deleitou-se nos meus lábios como se fossem seus. Tomou-me o fôlego ao selar minhas palavras com lábios mais contundentes do que mil palavras. Torceu-me pela boca ao me penetrar com lábios ferozes. Uivou gritos surdos de lábio a lábio.
Secos, molhados, carnudos, finos, delineados, rudes, que revelam ou ocultam, os lábios são a melhor expressão, a troca mais íntima do desejo. Não o dizem como o dizem os olhos: fazem. Traduzem os olhares em atitude. Os lábios podem ser estéticos. E o são.
Sem fazer de rogadas, as mulheres cravam cores mais do que gritantes nos lábios. Aos homens, resta-lhes o enfeite dos pelos do rosto ou apenas os lábios crus, sem retoques. Os lábios não são condutores do desejo por acaso: tudo começa ali, para se estender em contatos os mais íntimos. O lábio inferior, para quem não lhe dava quase nada, oras, veja só, ajuda na seleção sexual dos genes.
Se os olhos servem para definir se é amor ou ódio "à primeira vista", digo que os lábios fazem a seleção seguinte, se vamos ou não para a cama. Objetivo assim.
(Este post é a segunda parte do meu "Projeto Frankenstein", que consiste em juntar as partes de um corpo para chamar de meu. A primeira parte começou com os olhos, neste link aqui.)
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