Meu rugido dominical
Eu assisti quase sem querer, por culpa do zapping, um episódio de uma série para mim inédita. É "Fight of the Conchords", que estreou em 2007, teve um hiato no ano passado e voltou neste ano, no dia 7 deste mês na HBO. Como ocorre com séries boas, já acaba este ano. Foram apenas duas temporadas - 12 episódios em 2007 e 10 agora. "Fight" é uma criação de James Bobin (que fez "Da Ali G Show") e dos atores neo-zelandeses Jemaine Clement e Bret McKenzie, que são músicos e comediantes, e gira em torno de uma dupla folk da Nova Zelândia (baseada nos próprios atores, que interpretam a si mesmos no seriado) que tenta fazer sucesso em Nova York. O seriado está no ar todas as quintas-feiras, às 22 horas, na HBO.
O episódio o qual eu assisti na última quinta-feira foi bastante cômico, com a dupla envolvida com um empresário que portava junto de si uma prancheta com um gráfico e uma caneta vermelha. O gráfico consistia em demonstrar o grau de estreiteza entre a dupla e o empresário e estava dividido em três níveis: amigos, colegas e estranhos.
A dupla, pelo que eu entendi, começava a estabelecer laços de amizade com esse empresário. E conforme aconteciam os eventos entre os três - dupla e empresário - o empresário elevava, com a caneta vermelha, o gráfico do grau de relacionamento entre eles. A dupla chega a atingir o mais alto grau do gráfico e estabelece-se como amiga do empresário.
Mas, por uma série de acontecimentos - como não se dar bem com o melhor amigo do empresário, usar a mesa do escritório do empresário para jogar pingue-pongue e chamar o amigo do empresário de 'chato' -, ambos os cantores perdem rapidamente o valor de mercado e, tal qual numa curva de ações com comportamento instável, descem abaixo do nível de estranhos, a ponto de terem que retomar o contato inicial com o empresário como se não o conhecessem, inclusive com apresentações formais entre eles.
É muito engraçado e, no meio de tudo isso, os músicos cantam e tocam em elevadores de Nova York para ganhar a vida. No final, estão os quatro - dupla, empresário e amigo do empresário - num carro e todos cantam, felizes, os valores da amizade.
Quando terminou o episódio, eu pensei que, talvez, na vida real, temos gráficos imaginários a elevarem ou fazer despencarem as cotações das pessoas no fluxo instável de sobe e desce que depende do comportamento e, sem trocadilho com o mercado financeiro, das ações das pessoas que fazem parte do círculo de amizade de cada um de nós.
Creio que você concorda comigo. Funciona mais ou menos assim: você conhece um(a) estranho(a) que, assim como uma ação de pouca visibilidade na bolsa, merece, de início, pouco mais do que um olhar curioso e talvez uma pequena ponta de avaliação sobre o potencial que aquele papel (pessoa) terá no mercado futuro.
Aos poucos, esse(a) estranho(a) passa a circular com maior frequência no perímetro da sua cesta de ovos (aquela sobre a qual não devemos, conforme mandamentos rígidos do mercado, preencher com todos os ovos de que dispomos sob o alto risco de tropeçarmos e perdermos todos os ovos de uma só vez). Esse novo ovo (que era papel antes), já apresenta uma ligeira ascensão na curva do gráfico. Um pequeno traço vermelho ascendente retirou o papel da categoria dos desconhecidos e o situou na condição de colega. Não existe mais o estranhamento inicial.
Mas o mercado de ações é efêmero e tão volátil como uma vela de má qualidade e, à menor brisa, lá se vão os papéis para os ares, perdidos ou desvalorizados a ponto de arruinar alguns. Assim, o novo, que atingiu o grau de colega, pode, do nada, ganhar repentina valorização ou desaparecer, tal qual quando do lançamento da oferta pública, conhecida no jargão financeiro como oferta pública de aquisição (OPA em português e IPO em inglês).
Se a oferta é boa e bem-aceita, o novo papel tem legitimidade suficiente para chegar ao nível máximo no topo. Uma brilhante e avermelhada curva ascendente percorre o papel e eis que a ação desconhecida assume o selo de "blue chip" (ação de primeira linha no mercado de valores, com alcance internacional e de comprovada lucratividade).
Nesse ponto, o papel/novo(a) amigo(a) atinge o ápice: todos o querem, há uma infinidade de corretores que o cortejam e há uma disputa que chega a ter elementos de práticas ilegais, geralmente não aceitas pelo mercado internacional de capitais. Mas isso são detalhes e, enquanto a "blue chip" reluz no azul infinito de tanta demanda, ninguém avalia os riscos embutidos entre a demasiada demanda e a reduzida oferta que não dá para todos.
E eis que um dia o papel, sem ter um lastro que o sustente com puro ouro de 24 quilates, desaba. Vira título podre, como papéis de governos que emitem sem as respectivas garantias. A vistosa ação cai, vertiginosamente, e nem mesmo as contínuas injeções de novos capitais são capazes de reter a sangria: o gráfico vaza e, em resposta rápida, a curva sanguínea salta em precipício. Lá está você, de novo, na condição de estranho(a). Até mesmo de maldito(a), tendo gerado tanta expectativa e acabado, no mínimo, por quebrar ovos de algumas cestas.
Assim é a amizade: hoje, uma "blue chip", valorizada e badalada como os badalos que abrem o pregão da Bolsa de Nova York. Muito riso, champagne e felicidade. Amanhã, a ressaca faz das faces carrancas e o papel podre vaga em porões sombrios ou em cofres gelados, à espera de um resgate que pode perdurar por décadas.
Claro que essa avaliação sobre a conjuntura da atividade da amizade é um pouco extrema. Mas, ao acompanhar os gráficos históricos no meu próprio mercado de valor, reconheço que algumas ações são bastante sólidas e estão na minha cesta sem grandes flutuações. Outras, perderam completamente o valor de face e apenas vagam, nominais, sem desconto à vista. Algumas ocupam o olimpo: são "blue chips" sempre, isoladas no cenário macroeomocional da minha vida, imunes às crises que vêm e vão.
Numa perspectiva honesta, em que pesem as flutuações do gráfico, com papéis a subirem e descerem feito trenzinhos de montanha-russa, acredito que apliquei bem os meus ovos e os distribui em diversas cestas, seguras o bastante para suportar quebras, falências e concordatas.
Se não cheguei a enriquecer, tampouco tive ímpetos de investidor nos tempos do crack (ou a grande depressão da Bolsa de Nova York, em 1929). Sim, em alguns momentos me foi necessário recorrer a new deals (novos acordos). Mas, tratados, acordos e formalizações de contratos são parte desse mercado. Afinal, se bem me lembro, somos todos, amigos ou não, regidos por um imenso contrato social. De forma que sou um investidor conservador no que tange a papéis. E não me arrependo de não tentar ganhar no mercado futuro e me arriscar com ações luzentes.
Às preferenciais, por vezes fico com as ordinárias. E nunca me arrependi. Ordinárias são aquelas sem direito a voto e é por isso que as prezo: não sou juiz de valores e, portanto, também não o sou no mercado de valores. Esses papéis, tenho comigo, não votam e, por isso mesmo, assumem, no meu gráfico, o mais alto nível. Sem medo de ir à bancarrota.
11 Comentários:
tinha escrito um comentário que desapareceu entretanto... sniff e humpf!
por isso, abrevio: não percebi porra metade deste post! se houvesse gráfico, me atirava até ao cume da escala da burrice,- minha claro,- desenhada em traço púrpura incadescente!! :(
umbilicalfm
acrescento à frustração o facto de esta aumentar proporcionalmente à expectativa! quero dizer, espera de seus leitores por seus rugires. e ainda para mais assim indecifráveis! oras oras... (sempre brincando, ou nem sempre, mas sim agora, pois que escreva o que e como lhe agradar, mau seria que neste espaço seu tivesse procupação com lógicas- oxigenadas de seus leitores... :))!!!)... mas que não entendi, não entendi...
umbilicalfm
e em relendo:... blue-chip brilhante... topo num ápice... todos o querem... ?!!!! meu olfacto me diz que não entendi nem quero entender! :) fobia dessas coisas dee empresários, bolsas de valores, gráficos que sobe e desce, enfim... im not a dealer! todos o somos, porém, a mim tento caber-me a medida mínima. prefira a bancarrota que essse viver para grudar na bolsa, de olho vidrado com a vida (de)pendente, suspensa dessas curvas sanguinárias! passo!
boa semana
umbilicalfm
Umbilicalfm, não tem nada de indecifrável por aqui: fiz um paralelo entre as amizades que florescem e fenecem e o mercado instável cujas ações sobem e descem. Só isso. E a ideia me ocorreu por conta do seriado sobre o qual falei. Agora, indecifrável, para mim, foi o fato (e o meu olfato e outros sentidos captaram) de você sumir com seu blog. Im not a dealer também, estou mais para drug dealer, se algum dia vir a ser dealer de alguma coisa. Boa semana também!
sumir com meu blog???? essa agora!!! me peça desculpa e de joelhos!!! :)
umbilicalfm
http://0573catorze.wordpress.com/
HUMPF!
Umbilical, teu nome é Humpf! Também, tem todo um segredo essa URL de blog, com números e extensos que, sei lá ... Números os mantenho bem longe de mim que não nos damos muito bem. Acho que você guarda nesses números algum código secreto. Humpf!
Red,
e se você fosse (como se diz no brasil?...)... "mangar"?... gozar (estar de gozação!) com outro?! hein?... não é para "vim" (diz assim no brasil, é não?)aqui diz logo, e deixa de "bosta de boi" comigo, tá certo? não quero nada com mistério não, bigáda. tivesse me dito de onde vem esse amargo "de cabo de guarada-chuva" e a gente tinha talvez se entendido, assim...
HUMPF!
Umbilical, desculpe, mas se você não entende a ironia, fica difícil manter um diálogo. Não estou a mangar, e sim a brincar. E esse negócio de 'bosta de boi', estou fora. E não 'vim', é vir mesmo. Que amargo não sou não. Posso ser muita coisa, mas amargo, certamente, não sou. Aliás, eu noto aqui que a despeito de falarmos a mesma língua, brasileiros e portugueses devemos ter alguma Babel no meio de nós porque é só eu começar a responder aos comentários que levo bordoadas. O que era para ser uma troca, acaba por ser alguma escaramuça que, por alguma deficiência minha, suponho, eu realmente não entendo.
red,
"Aliás, eu noto aqui que a despeito de falarmos a mesma língua, brasileiros e portugueses devemos ter alguma Babel no meio de nós porque é só eu começar a responder aos comentários que levo bordoadas. O que era para ser uma troca, acaba por ser alguma escaramuça que, por alguma deficiência minha, suponho, eu realmente não entendo." - sinto com a mesma precisão isto mesmo!
acho até que conseguisse eu me afeiçoar à bordoada (já que a mesma a mim parece ter-se afeiçoado), agora generalizando,e teria todo um destino fabuloso e feliz a percorrer!! (aproveito para visualizar mentalmente e rir d mim mm, pl vida fora a levar bordoada a toda a hora!!!!)...
enfim, mas nem gosto assim essas coisas de levar pancada! :)
me desculpe pela babel, que a culpa deve ser dela. não gosto de conflitos, meu deus, e cvom gente transatlãntica?! só pode ser KARMA!!! eu amo toda a gente! (e não estou a usar da ironia nem da brincadeira, é mesmo sério! amo na medida em que me irmano, entende? talvez seja minha única qualidade, característica, sei lá). não lhe quero mal algum. talvez td seja tao simples qt ler no mundo (real ou secundário, mais ou menos ordinário) aquilo que sentimos, cm num espelho- ora eu não ando lá mt bem cmg, pois não, e talvez isso me leve a ver no md algum despeito alguma hostilidade.
me desculpe por tudo e por nada. pode ser?
um dia qd for INdiferente não vou escrever textos longos desses nem vou sentir mais angústia nem desespero. combinado'?
humpf (meu nome)
Humpf, águas turbulentas, porém passadas. Acho que temos mais para escrever um ao outro do que ficar aqui a resolver litígios assim, dispensáveis. New deal for us. Até!
Postar um comentário