Meu rugido dominical
Se foram os últimos vestígios de um não-acontecimento, de uma não-revolução, da não-concretização. Eram fragmentos que me apontavam e gritavam: por que? De imediato, o alívio. Depois, a formalização de um luto, de uma morte, funeral e enterro. Quero soterrar os restos mortais nas entranhas e ter vagas lembranças, apenas. Não mais do que isso. Ter mais é padecer na lápide fria de algo que já nem sei descrever. As relações humanas são tão frágeis quanto um vaso de porcelana chinês. E tão complexas quanto o DNA. Não dá para replicar o que você considera um padrão de relacionamento e vivê-lo. A cada vez que dois seres humanos se encontram, é uma surpresa: começa a ser esboçado um layout que pode, ou não, resultar numa bem acabada peça ou ir direto para a lata de lixo. Sempre defendo que a vida é provisória o suficiente para fazer tudo o que se pode para viver intensamente. Mas, sempre fico com a sensação de que o inexorável relógio gira sem tréguas e as águas rolam, rolam e rolam, enquanto eu fico no redemoinho, sem ir ou voltar. A tragédia disso tudo é que quando você está num torvelinho, você tem a sensação que há dois mundos: um é mágico, você está acima de tudo e de todos e só você sabe o que é felicidade; você chega a imaginar que as pessoas ao seu redor nunca passaram por aquilo e que jamais saberão o que é realizar-se emocionalmente. O outro mundo é a catástrofe: quando tudo desaba, só você não havia percebido o quanto os alicerces dessa construção eram precários. Há uma sensação inevitável de derrota, de dor, de luto. Há uma resistência. Você se arma, se investe de uma armadura de aço e age como se os próprios nervos de aço fossem. É apenas uma fachada, um revestimento para a tragédia. Os grandes clássicos da literatura e do teatro trabalham com as duas grandes veias humanas: a tragédia e a comédia. Se, na primeira fase, a tragédia prevalece, com direito, inclusive, a sangue, literal ou não, a fase cômica é aquela que trará uma nova dimensão à tragédia. A comédia da vida é que você começará tudo de novo, num eterno retorno. Quando eu começo a rir de mim mesmo, é sinal que me preparo, nas coxias, para a entrada em cena de um novo (e renovado) personagem: eu mesmo, de novo, de novo e de novo. A vida é repetição, com pequenos upgrades apenas. O vasto princípio está lá, pronto para ser usado em camadas como uma cebola rechonchuda: há sempre mais uma parte e mais uma e outra. Somos inesgotáveis na auto-renovação. A não ser que a cebola murche e apodreça. E é isso que nos faz tão humanos e únicos. A experiência pela qual ansiamos aos 15, aos 13, de fato, não chegará nunca. Ou então não agimos feito adolescentes em grandes questões da vida? Me diga se você não bate o pé, se não se irrita, se não se descontrola feito uma criança grande? E até mesmo se não regride à fase infantil quando o mundo lhe parece real o bastante? Quem não quer colo? E, então, chega um dia, um domingo mesmo como este, chuvoso e sem graça, em que você vê - e sente - em letras garrafais, que a carga foi levada embora, que alguém a tirou de seus ombros e a acolheu, espontaneamente. É a roda do mundo em ação. E, se o movimento existe numa direção, há que se tê-lo na minha própria direção. Que estou pronto para colocar minha própria engrenagem em funcionamento! Já não era sem tempo.
If you need, stand by me, dear. bjs
Redneck,
Apesar de todos os destroços que ficam no meio da caminho, alegra-me e reconforta-me saber que esta engrenagem não cessa. Porque a vida é luta, sempre!
Boa semana.
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