Um dia de parada, 364 dias parados
A 13ª. Parada Gay de São Paulo acontece amanhã, 14, a partir das 12 horas, com a expectativa de reunir 3,5 milhões de pessoas nos quase 4 Km que ligam a Avenida Paulista à Praça da República e que são a rota por onde passarão os 20 trios elétricos que fazem parte desta edição.
A estimativa de público baseia-se no número de gays, lésbicas, simpatizantes e transgêneros que foram ao evento do ano passado. Essa edição terá alguns recursos a menos do que a do ano passado que foi, até agora, uma das maiores do gênero no mundo: são 1,2 mil policiais (ante os 1,4 mil de 2008) e o orçamento caiu 29%, para R$ 760 mil (R$ 1,07 milhão no ano passado).
O governo federal é o principal patrocinador: 85% dos recursos vêm da CEF, Ministério do Turismo e Petrobras. Também existem algumas parcerias com o governo do Estado e a prefeitura do município de São Paulo. De qualquer forma, a prefeitura deveria fazer ainda mais: a Parada Gay arrecada R$ 200 milhões para a cidade e perde apenas para a Fórmula 1 em termos de geração de receitas.
Enquanto a cidade e pelo menos 350 mil turistas brasileiros e estrangeiros preparam-se para a apoteose, no Brasil, da celebração do mês do orgulho gay (como ocorre em outras partes do mundo), um cenário cinza, em oposição ao arco-íris que dá o tom da Parada, desenhou-se em Brasília (DF), porque o lobby evangélico é forte.
Tramitava no Congresso Nacional um projeto que previa novas atribuições à Secretaria Especial de Direitos Humanos, inclusive com a citação literal do termo "LGBT" (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais). Estava prevista também a criação do Conselho LGBT no governo federal. Não aconteceu nem uma coisa nem outra.
A sigla "LGBT" foi substituída por "minorias" e o conselho não foi aprovado. Até agora, a única vitória concreta, que ainda pode sofrer emendas no Senado Federal e voltar ao Congresso (onde "dormirá em berço esplêndido", segundo a relatora Fátima Cleide, do PT-RO), é a proposta que criminaliza a homofobia.
A despeito das manifestações de ONGs como Grupo Gay da Bahia, Rede Um Outro Olhar, Conselho dos Direitos LGBT do Rio de Janeiro e a Associação Brasileira LGBT, essas questões devem continuar onde estavam: paradas. Ainda que o Brasil seja sede da maior parada gay do mundo, os gays deste País podem, sim, comemorar amanhã. Mas, nos outros 364 dias, ficarão parados, à mercê de todo tipo de preconceito, sem leis que os defendam e os legitimem como cidadãos que pagam impostos e devem merecer tratamento equivalente a cada ser humano que habita o território nacional. Não, ao contrário, a turma LGBT deve permanecer à sombra da sociedade, em guetos. OK! Libere o circo da Paulista um dia.
Mas mantenha o rebanho contido nos demais dias do ano. Afinal, é apenas divertido mesmo, não é? Mas que seja somente um dia. Um dia só. E pronto. Não se fala mais nisso. Nem em casa, no trabalho e muito menos no Congresso, que é lugar de gente séria. Brasil, Brasil, tem que ser realmente profissional para lidar com este País.
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