Debúki íson detãilbol (the book is on the table)
- "Ki C axa.... divedadi o dibinkedu?"
- "Tah venu aki... eh uma kabeça, oliaorelia, ieças linhas devi se... Selah... kustura o kualkeh koizassim... pohdicê."
- "Dibikendu, certeza."
"Deslizapau iisfregabunda, xamegunatank lambuzada. Sal Brudi, C vai imprenah logulogu pertudum dakeles vélius dabliucês nogentus."
- "C vai amah kuandu tiveh alidentru... C sab, C sab, içu, sab ki vai."
- "Caul! Caul! mugiu o moto, Caul, xafudakueu, xafudakueu!"
- "Numpoçu, Boysi, tenu kincontrak u Runti, eh a veiz deli, ugrandidia."
- "Uabatch, uabatch! xofeh vinu, xofeh vinu!"
- "Keh keu vah pegah u Ruti ku você?"
- "Nah, nah, içeh kumigu i kuele i ku Deive. C iuzotrus, eh melioh decê nuxafurderu i juntah uzotrus praforadalih. Runti eh meu véliu. 6 ahi, jah disseru tchau pu Runti?"
A época é 523 AD (After Dave, depois de Dave) e indica um tempo futuro, de milhares de anos após os dias de hoje. A língua é mokni (em oposição a cockney, que marca uma espécie de linguagem particular dos nascidos no East End de Londres), um dialeto de Ing (Inglaterra) em contraponto à lingua erudita bibici (de BBC), que é usada pela corte e pelas pessoas cultas de Novalondris.
Nesse novo mundo, que começa após o momento na história chamado MadeinChina, motos são criatura derivadas de porcos cuja inteligência equivale a uma criança de dois anos. Os homens também involuíram e o Deus é Dave, um motorista de táxi que, no ano 2000, gravou um livro em metal sobre o que podia e o que não podia num imaginário novo mundo para regulamentar as relações entre os homens e as mulheres.
O taxista Dave escreveu e enterrou o livro que será encontrado milhares de anos depois e servirá de guia espiritual para os novos homens da Idade MadeinChina. Dave é divindade para esses homens. O livro foi encontrado em Ham (Hammersmith atual, localizada no oeste de Londres) que, em 523 AD, é apenas uma ilha. De Novalondris emana o poder para o resto da Ing. Assim como Ham, outras regiões da Londres atuais foram convertidas em ilhas e Notting Hill agora é Nott e Bloomsbury é apenas Brum.
A partir dos surtos do motorista Dave, nos anos 2000, os habitantes de Ing, nos longínquos 523 AD se guiarão por preceitos de um taxista vulgar e infeliz. No pós-MadeinChina, os dias são divididos em tarifas (primeira tarifa, das 6 da manhã às 14 horas; segunda tarifa, das 14 horas às 22 horas; e terceira tarifa, das 22 horas às 6 da manhã), chico (ou xicu) é semana e unidades são minutos, assim como as marcações de um taxímetro atual.
As mulheres são desprezadas em Ham. São opares (do francês au pair, babás), mamães (em idade madura) e mocreias (velhas). Os homens são pai ou papais. Vestem-se, homens e mulheres, de troçopanos (xale tartan para áreas afastadas e burca em regiões urbanas) e bubbery (trocadilho com a grife Burberry, que significam, em Ham, quaisquer peças de tweed ou de lã rústica). Fonics são os novos fonemas e a letric substituiu a eletricidade e agora as lâmpadas são a óleo. Nesse sombrio mundo novo, há os que discordam da teoria davina ou da davinidade. Esses são condenados em Novalondris a sessões de tortura na roda (atual London Eyes's).
Essa magnífica obra literária é "O Livro de Dave" - Will Self - editora Alfaguara - 451 páginas. É um dos livros sobre os quais eu afirmo, sem a menor dúvida, que eu gostaria de tê-lo escrito. A forma como o autor coloca o mundo, tanto o atual, do taxista, quanto o futuro, dos habitantes de Ing, é espetacular. Self transparece cada segundo de descrédito pela humanidade, atual ou futura. Nos mundos de Self - Londres e Novalondris - não há redenção. Os homens de hoje e os de amanhã são os mesmos, com crenças anacrônicas. Se o mundo católico ocidental crê na Bíblia, o mundo de Ing crê no livro de Dave.
Certamente, foi um dos melhores livros que li até hoje. É uma história totalmente original que satiriza a vida nas grandes cidades contemporâneas como Londres e vai a fundo na investigação dos pilares das religiões. Para um leitor como eu, Self, o autor, consegue deixar claro que tudo o que regula o espírito humano em termos do divino vem de uma base frágil, de um quase nada, apenas um amontoado de escritos que procuram estabelecer as conexões entre os homens e o divino. Por fim, dá cabo dessa crença ao enterrar um livro de um motorista de táxi totalmente alucinado que servirá de guia espiritual e de conduta de uma nova humanidade parida a partir do MadeinChina.
Aliás, MadeinChina designa, muito apropriadamente, a era pela qual o mundo como o concebemos atualmente acaba e restam apenas fragmentos - os deviuorks -, que são restos dos mais diversos tipos de peças de plástico e são tidos pelos habitantes de Ing como amuletos e talismãs. Assim, é comum um habitante de Ing encontrar um deviuork com a inscrição "Mc" que nada mais é do que um copo de plástico do McDonald's e tratar esse fragmento como algo sagrado.
Esse mundo de Dave futuro é regulamentado pela poderosa PCO (pesseoh) que, atualmente, como Public Carriage Office (PCO - London), administra os táxis da Londres de hoje. Eu recomendo muito a leitura desse livro. Para mim, é ficção do tipo que traduz efetivamente a nossa era, cheia de dúvidas e incertezas. Nota dez para essa obra altamente imaginativa e, ao mesmo tempo, bastante realista.
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