Meu rugido dominical
Durante esta semana, um novo hit se impôs no YouTube: a britânica Susan Boyle. Alvo de piadas e risadas dos jurados e plateia do programa "Britain's Got Talent", Susan os venceu a todos com a música e chegou a inacreditáveis 25 milhões de acessos. Antes, porém, Susan foi motivo de chacota por seu jeito e aparência (atos que podem ser vistos no vídeo do post). Isso, em inglês, chama-se bullying, que é o ato pelo qual se comete violência física ou psicológica, de forma intencional e repetitiva, praticada por um determinado sujeito valentão (bullyou, em inglês) ou grupo de pessoas valentonas com o objetivo de intimidar e agredir outra(s) pessoa(s), incapazes, de alguma forma, de se defenderem.
O bullying é um comportamento agressivo e negativo, executado repetidamente e ocorre entre duas partes - agressor e vítima - onde há um desnível de poder entre as partes. O ato é direto (agressão física) ou indireto (agressão social). Os agressores masculinos (bullies, em inglês), geralmente, cometem o bullying direto. No bullying indireto, mais frequente no universo feminino e em crianças pequenas, a agressão consiste em isolar a vítima socialmente, seja por meio de comentários (fofocas), isolamento da vítima, intimidação de outras pessoas que queiram se relacionar com a vítima ou a emissão de opiniões negativas sobre o modo de se vestir, a etnia, religião ou outras incapacidades, inclusive físicas.
A despeito de se caracterizar como um ato bastante presente em escolas, faculdades e universidades, o bullying extrapola esses ambientes e pode acontecer no local de trabalho, entre vizinhos, em instituições militares e até mesmo entre países.
Entre algumas das técnicas mais conhecidas de bullying, perpetradas pelo bully (agressor), estão:
- Insultar a vítima e acusá-la sistematicamente de inútil;
- Atacar fisicamente uma pessoa ou objetos de sua propriedade;
- Danificar objetos de uma pessoa como livros, material escolar, roupas etc.;
- Espalhar rumores negativos sobre a vítima;
- Depreciar a vítima de forma gratuita;
- Ameaçar e colocar a vítima sob domínio de forma a obrigá-la a fazer o que não quer;
- Caluniar a vítima e envolvê-la com autoridades para obrigá-la a pagar pelo que não cometeu;
- Disseminar todo tipo de comentário sobre a família da pessoa - local de moradia, aparência, orientação sexual, religião, etnia, nível de renda, nacionalidade e qualquer outra que possa ser depreciativa;
- Isolar a pessoa socialmente em qualquer circunstância;
- Usar a tecnologia - Orkut, Messenger, blogs e qualquer outro meio possibilitado pela internet - para praticar o cyberbullying, como criar páginas falsas sobre a vítima, postar fatos e fotos que denigrem a vítima;
- Fazer chantagem com a vítima;
- Ameaçar, sempre;
- Usar de meios como o grafite para atacar a vítima;
- Fingir amizade com a vítima para depois envolvê-la em agressões.
A lista é longa e não acaba por aqui. A cada dia, novas e perniciosas práticas de bullying surgem e milhares de pessoas - crianças, adolescentes e adultos - são vítimas desse ato. Susan Boyle é apenas mais uma anônima que, aos 47 anos, provavelmente, foi a vida toda vítima preferencial de bullying. O problema é grave e mundial. No Brasil, existe um site específico sobre o assunto que integra o Programa de Redução do Comportamento Agressivo Entre Estudantes e também o Observatório da Infância, que aborda o assunto. Ainda há sites internacionais voltados para o tema.
O bullying é praticado, por vezes, de forma quase subliminar. Mas a vítima sempre sabe o que acontece. Amigos, pais, colegas e parentes devem ficar atentos para esse tipo de atitude cruel que pode destruir paulatinamente a vida de uma pessoa. O bullying é corrosivo. Fere, destrói, mata. Eu não vou escrever mais nada. Apenas acrescentar um comentário emocionante que o leitor e blogueiro André deixou no meu blog quando publiquei o post sobre Susan Boyle. Quaisquer outras palavras são desnecessárias ante o depoimento pungente de André Luis Aquino, cujo blog eu recomendo que toda e qualquer pessoa visite imediatamente:
"Eu tinha que escrever algo sobre essa mulher que me fez chorar como há muito tempo não choro e esse texto não vai pro blog porque estou tão extasiado com ela que não quero por enquanto colocar nada lá, quero ficar olhando e ouvindo ela cantar o maior tempo que conseguir. Eu estava na sintonia da “Divina Comédia”, mas sinto que vou ter que pegar um atalho só por hoje para “Os Miseráveis” de Victor Hugo que, aliás, há muito tempo anda falando comigo.
Escrevo sobre Susan porque a quero como mais um dos verbetes da enciclopédia da minha alma, tudo que escrevo vem de dentro de mim e isso torna as palavras, os sentimentos e as pessoas parte da minha existência, o físico é ilusão, o pensamento que é o real. Susan parece ser a resposta a uma voz que há muito tempo clama dentro de mim, a mudança do mundo, a sensibilização dele torna-o um lugar menos hostil e mais feliz.
Eu me identifico com Susan porque eu já senti na carne o que é ser desprezado pela crueldade de outros seres humanos, porque sinto a realização plena do meu corpo ao ter superado meus complexos, eu tenho baixa estatura para um homem, e isso sempre foi motivo de chacota, até um dia, até o dia que eu percebi que aquelas pessoas eram cegas, elas não viam o que eu tinha de maior em mim e eu resolvi mostrar ao mundo o que é. Hoje todos os dias quando acordo me orgulho de quem sou.
Como Susan eu tinha preconceito comigo mesmo, uma amiga certa vez abriu meus olhos para isso, eu agradeço a ela por ter me fortalecido, acreditava no bullying que as pessoas adoram fazer com as outras, a humilhação é um prazer sádico inerente ao caráter humano, aprendi a rir das piadas que faziam comigo, fui aperfeiçoando minha percepção, aguçando meu olhar, aprofundando a minha sensibilidade.
Assim a minha empatia se tornou um dom, assim como a expressão dos sentimentos mais íntimos. Aprendi com a vida e com a insensibilidade das pessoas a reconhecer o caráter de alguém apenas pela maneira dela olhar ou se dirigir a você.
Susan fez girar a minha vida e hoje é um dia especial para mim, se sorrateiras minhas futuras rugas, quase sempre frutos de preocupação excessiva ou de stress maligno, estiverem nesse momento nascendo em meu rosto elas não serão como as outras, estas são marcas da expressão do meu sorriso."
(eu pedi autorização para o André para publicar esse depoimento e ele, generosamente, me la concedeu)
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