Gonorreia, gays e putas: a evolução da humanidade
[Antes que alguém me acuse de, ao associar gonorreia, gays e putas no título, fazer apologia ao preconceito, deixo claro que é uma mensagem apenas para chamar a atenção do eventual leitor. Gays e putas somos todos um bocadinho, se não por completo. E há gonorreias mentais mais fatais do que as físicas.]
O que significa evolução? Para Charles Darwin, evoluímos pela seleção natural - a lei do mais forte sobre o mais fraco. Como aglomerações humanas, a evolução nos abriga, necessariamente, sob a estrutura social que subordina-se a padrões de comportamento geralmente aceitos pela maioria e que, por isso, são convertidos, pelo estado de direito, em direitos e deveres. Em suma, é a civilização, com todo seu poder de afrouxar, esgarçar ou puxar o nó que controla o rebanho.
Pela estrutura social, entenda-se que cada um de nós, teoricamente, veja algum sentido em pertencer a determinado lugar, em fazer qualquer coisa, em pensar e agir. Porque, ao olhar pela janela nesta sexta-feira de sol bom de outono, é incrível constatar que haja tanto movimento e tanto propósito de todos lá embaixo, a pé ou nos carros, incessantemente, sem que isso tudo não desencadeie uma gigantesca barbárie.
Na realidade, é uma colmeia em movimento, com zangões e rainhas-mães que disputam palmo-a-palmo um espaço para chamar de seu e que se organizam em rotas para desorganizá-las logo à frente. Que se comunicam por invisíveis antenas que, de alguma forma, dão sentido amplo ao aparente caos que me parece ser.
Essas questões me surgiram quando li sobre o sexo na antiguidade. Descontados os milhares de anos que se colocam entre nós e eles, os antigos, pouca coisa mudou. Veja como era e como está:
- Gonorreia: identificada e nomeada por Galeno, no século II, ainda é a doença sexualmente transmissível (DST) mais comum em todo o mundo. Por obra e graça da Igreja Católica, que abomina o uso da camisinha (desde o início dos tempos), a gonorreia ataca as pessoas da mesma forma que o fazia há mais de 2 mil anos. Não existe cura para ignorância. Na antiguidade, era perdoável. Agora, é estupidez.
- Gays: de ontem (antiguidade) a agora (mais conhecido como hoje), nada mudou a não ser a música que embala as baladas dos meninos (e, em menor, proporção das meninas). Na Grécia antiga, o som vinha de harpas e outros instrumentos que dissolveram-se no tempo. Agora, o som também foi dissolvido: ruídos eletrônicos, agrupados no que se convenciona chamar de 'tecno', desconstruíram as notas musicais e tudo o que se faz é se balançar em estado de transe. Diz a lenda que tudo começou porque Orfeu, ao ficar viúvo de Eurídice, começou a se apaixonar por adolescentes (sim, no plural). Outra versão, que tem mais a ver com a musicalidade do tema, afirma que o músico Tamíris (ô nome de trava!) foi seduzido pelo belo Jacinto. Humm!
- Putas: a prostituição era regulamentada, com regras claras e diferentes para a Grécia e para Roma. Na Grécia, havia uma estrutura hierárquica rígida, verdadeiras castas. A mão-de-obra era formada por escravas e por mulheres vendidas por pais ou irmãos. Na classe alta, as prostitutas tinham treinamento intelectual e cultural. Na média, eram dançarinas, quase sempre imigrantes. Na baixa, eram vendidas pela família e tinham poucos direitos. Em Roma, as putas eram registradas e recolhiam impostos, além de outras coisas. Tinham que se vestir com tecidos floridos ou transparentes para se destacar das mulheres livres e não podiam usar a cor violeta. Os cabelos deveriam ser amarelos ou vermelhos e o ponto mais comum era sob os arcos arquitetônicos (aqueodutos). Arco, em latim, é fornice. Portanto, daí a origem da palavra 'fornicação'.
No mundo mudérno, as castas para o setor permanecem: as de classe alta são universitárias, aspirantes a modelos e atrizes que, ao ganhar os primeiros milhares, compram o carro do ano e apartamento nos Jardins, em São Paulo; as de classe média são aquelas que confundem lazer com trabalho e fazem do primeiro o segundo e vice-versa; as de classe baixa são as mulheres traficadas para a Europa, pela família ou 'amigos' - passaram de imigrantes a emigrantes. Quanto à comparação com as putas romanas, a grife delas - Daspu - recolhe impostos regularmente e o trabalho cotidiano continua a ser feito sob os arcos das fachadas horrorosas da Rua Augusta.
Além desses temas, outros continuam a lograr a humanidade desde priscas eras:
- Posições: antes mesmo do Kama Sutra ou de poses exibicionistas de pole dance (no poste, na coluna, na cadeira, na garrafa ou em qualquer outro objeto roliço), rotineiras em casas noturnas (e praticada por homens e mulheres indiscriminadamente), haviam moedas com posições numa face e números na outra. Quanto maior o número, tanto mais original a posição.
- Masturbação: o ato de amor imenso por si mesmo, vulgarmente denominado 'punheta' ou 'siririca', não era condenado. Ao contrário, era visto como algo natural. Um dos mitos diz que Aton, deus do sol do Egito, teria criado o deus Shu e a deusa Tefnut ao se masturbar. Pelo mito moderno, em que cada um fica cada vez mais sozinho consigo mesmo, temo que a masturbação é tão recorrente que condenar o ato beira a heresia.
Como se pode ver, a evolução da espécie nada mais é do que colocar uma nova roupagem no velho depositório. Os cabides continuam os mesmos e, quando muito, apenas o figurino mudou para se adaptar a este tempo moderno sobre o qual é incrível constatar que haja tanto movimento e tanto propósito o tempo todo sem que isso desencadeie uma catástrofe de proporções gigantescas.
6 Comentários:
"Os cabides continuam os mesmos e, quando muito, apenas o figurino mudou para se adaptar a este tempo moderno "...
me desculpe se intruso com o comentário, e não é "fita". Mas... acha que o ser humano é esse cabide/esqueleto que ao longo dos tempos vai mudando de roupa?!... problema é que talvez até seja. estava a pensar no resto e,- nada contra a continuidade das "espécies" gays e putas-, o pior é que talvez você tenha razão no que toca às gonorreias, as tais que não do físico... resumindo, está tudo podre, é?!... já não há quem se "lave por baixo"!?...
Red,
Vc conhece bem a minha atual condição. Entao, vc acha que dá para eu ser dançarina?
Beijo e bom final de semana
pronto pronto, já sei que isso de blogue não é pra conversa séria, não é pra entender, pra fazer perguntas, essas coisas. mania minha, deixa pra lá! vou estando em meu mundinho, lá. bfs!
Anônimo, já não há quem se lave em parte alguma, dado que a sujeira acumulada dos séculos impregnou-se feito poeira em mobília velha. O que eu quis dizer no post foi justamente que nada mudou entre antiguidade e contemporaneidade e estamos aqui, agora, a nos afligir com as mesas aflições dos antigos. A diferença é que eles não tinham séculos a lhes pesar nos ombros e nem por isso deixaram de resolver algumas coisas de forma mais clara, ao contrário do que acontece atualmente. Abraço!
La Voyageuse, acho que você, como emigrante, pode sim se encaixar nesta categoria. Mas há que fazer aulas de pole dance porque tudo exige algum "valor adicionado". Se você oferece apenas o básico, não terá lugar. Você tem que oferecer um diferencial competitivo. Beijo e bom final de semana para você também.
Anônimo, não faz assim. Nada deve ser levado completamente a sério. A La Voyageuse e eu nos conhecemos há tanto tempo que você nem imagina. Ela e eu sempre brincamos com coisas sérias porque ambos chegamos à conclusão que, sempre que encaramos a vida com seriedade, vimos, de uma forma ou de outra, tudo ruir ao nosso redor. Melhor rir-se então, inclusive de si mesmo, do que carregar o cenho franzido para tudo. Se você me conhecesse, saberia que levo tudo muito a sério, quando é o caso. Por aqui, neste espaço, preciso ter uma leveza que não encontro na First Life. Abraço!
Postar um comentário