Rastreio de Cozinha - 98
Depois, começou toda aquela parte teórica sobre a qual eu ouvia uma palavra e deixava de ouvir três. Nessa classe, juntar duas turmas (umas 50 pessoas) é um crime. Quase ninguém ouve e eu fico com a impressão de que o professor finge que dá aula e nós fingimos que assistimos.
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E, você quer saber? A coisa começa toda errada: na semana passada, ele foi substituído. O outro só falou. Nessa semana, ele volta e pede uma tal ficha para pontuar o vinho. Oras, tenha dó! Somos obrigados a adivinhar? E ainda reclama!
Sem a tal avaliação nas mãos, partimos para a degustação. Claro que, fiel aos princípios de sempre, a faculdade não tem uma estrutura eficiente para promover uma degustação decente numa micro-sala para 50 pessoas.
Até onde eu sei, deveríamos estar numa sala circular, com pouca gente, com todos a acompanhar cada gesto do professor (que não sei se é sommelier) para aprendermos como se faz. Para início de conversa, tudo já começou mal: a tacinha era de acrílico porque a faculdade ainda não recebeu as de vidro (não as de cristal, que é o correto). Essas pequenas (40 ml) tacinhas de acrílico, segundo uma colega, têm sido usadas para acomodar brigadeiros em algumas festas. Jamais para serem recipientes numa degustação de vinho.
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Um colega fez a gentileza de nos servir, aos 50, as pequenas taças. Alguns apressados as receberam e beberam. Claro que, se estamos numa aula de degustação, não é para beber e pronto! Faríamos - e todos sabiam - a degustação de dois tipos de vinhos. No mínimo, temos que ter as duas ... argh! ... tacinhas de acrílico em mãos. Depois, recebemos a segunda tacinha.
Começa, finalmente, a prática da degustação. Primeiro, você tem que sentir os aromas do vinho. Depois, molhar os seus lábios para, finalmente, tomar o primeiro gole (15 ml). E lá fomos nós! Com toda a falta de estrutura e condições que não se caracterizam exatamente como as ideais, fizemos a degustação. Basicamente, ainda que eu insista em toda a estrutura inadequada, conseguimos distinguir um vinho do outro nessa experimentação amadorística.
Vou - sou tão metido! - avaliar ambos os vinhos degustados.
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(Uva sauvignon blanc)
1. Sauvignon Blanc (vinho branco seco leve): o vinho era o chileno (claro que o francês está fora do nosso alcance) La Joya, safra 2007, teor alcóolico de 13,5%, da Viña Bisquet, produzido na região de Colchágna. O preço varia entre R$ 25 a R$ 30. São três exames que caracterizam a avaliação do vinho: o visual, o olfativo e o gustativo.
Segundo a minha avaliação visual (sigo apenas o que o professor listou), o vinho, branco, em cor amarela palha, é límpido, transparente, com brilho médio, viscosidade escorregadia (você sabe isso quando dá uma leve chacoalhada na 'taça' e o vinho desce pelas bordas mais lenta ou rapidamente). Aqui, conforme as regras da ficha de avaliação, a nota foi de 39 (numa escala de 0 a 50).
No exame olfativo, o aroma do sauvignon blanc chileno recende a frutas cítricas verdes, logo, frescas, como a maçã, a pêra e, talvez, um leve perfume de abacaxi quando descascado. O vinho tem notas levemente herbáceas, com um cheiro de grama orvalhada. Talvez, um tom quase imperceptível de serragem (madeira). Para mim, a nota nesse quesito foi 10 (numa escala de 0 a 25).
Finalmente, no exame gustativo, temos que avaliar a primeira impressão (é a que fica, não tem jeito, e isso vale para vinhos e pessoas, quase sempre). As minhas primeiras sensações (quem lê, pensa que vou virgem em bebida) foram de que o vinho é seco, meio amargo, com pouco álcool (nesse item, sou suspeito!), com acidez plana, textura entre áspero e rascante, tânico (adstringente), com variação final entre agradável e grosseiro. Entre corpo, equilíbrio e evolução, a nota chegou a 8 (numa escala de 0 a 20). Quanto ao aroma de boca (ou retrogosto), a nota foi 13 (numa escala de 0 a 40).
Na avaliação final, o vinho sauvignon blanc chileno é jovem e típico. A minha nota final foi de 70 pontos (numa escala de 0 a 135), o que coloca este vinho chileno numa média quase que abaixo do razoável (um vinho tem que ter, pelo menos, 60 pontos para ser considerado razoável).
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(Uva chardonnay)
2. Chardonnay (vinho branco seco encorpado): de novo, o vinho era chileno, o Punto Niño (reserva), da safra de 2006, com teor alcóolico de 14%, produzido pela vinícola Laroche Chile, na mesma região Colchágua. O preço varia entre R$ 30 e R$ 35. Não vou repetir a fórmula inteira de avaliação porque pode ser aborrecido. A nota final que eu dei ao vinho foi de 80 pontos, o que o coloca, na minha adega, um pouquinho acima do sauvignon blanc. Só um pouquinho.
Para finalizar a aula de vinhos, sugiro que você sirva esses vinhos com os seguintes pratos:
- Sauvignon blanc: camarões, lagostas, risoto de frango, costela e lombo de porco, pasta com molho e recheio leves, comida tailandesa e mexicana, queijo de cabra e torta de maçã.
- Chardonnay: salmão defumado, bacalhau, sushi, sashimi, truta, galinha assada, cozida e grelhada, vitela, pasta com molho e recheio leves, comida tailandesa e chinesa, queijos brie e provolone, torta de maçã, frutas frescas e crepe suzette.
As outras aulas? E quem quer saber de gestão quando estamos à beira de indigestão com tanta comida e bebida?
(Reaja: e peça vinhos maravilhosos pela internet. Vai! Pelo menos uma vez por mês, permita-se! Você pode começar pela Mistral)
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