Duas presidenciáveis numa cajadada só
Tive uma rara oportunidade, como eleitor e como cidadão brasileiro, de contrapor duas eventuais candidatas à presidência do Brasil de uma só vez, com um espaço de poucas horas entre uma e outra. As candidatas são Dilma Rousseff, atual ministra da Casa Civil do governo Lula e, portanto, candidata do governo, e a ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, candidata pelo Partido Verde (PV), ex-governista e, portanto, oposição.
Ambas estiveram nesta sexta-feira, 29, na Campus Party, um dos principais eventos de internet do mundo e que tem uma ramificação brasileira. Ambas, embora neguem estar em plena campanha (são pré-candidatas), não têm feito outra coisa que fazer campanha eleitoral. O terceiro candidato também não se furta a fazer campanha mas, dessa vez, ao menos, não deu as caras. Os três - Dilma Roussef, Marina Silva e José Serra (atual governador do Estado de São Paulo) - são, desde já, os principais candidatos à presidência do Brasil, cuja eleição começa no primeiro turno, no dia 3 de outubro deste ano, e cujo(a) vencedor(a) governará o Brasil entre 2011 e 2014, a princípio.
Das candidatas, vi, pela primeira vez ao vivo e in loco, algumas facetas que a propaganda televisiva e o filtro da mídia obliteram, talvez, com ou sem intenção. De qualquer forma, a imagem que se começa a formar a partir do momento em que você pode ver as pessoas e olhar nos seus olhos é bem diferente daquela personagem que vemos de forma difusa na tela da TV.
Nesse confronto entre as duas presidenciáveis, pude observar algumas coisas e ficar ainda com mais dúvidas sobre em qual candidato(a) votar ao cargo executivo máximo do País. Por princípio e por falta absoluta de opções, havia declarado meu voto para Marina Silva. Dilma estava fora do meu espectro de escolhas porque tenho a impressão que a imagem que a ministra tem construído elaboradamente tenderá a ruir aos primeiros sinais mais fortes de confronto. Ainda não tenho muita certeza sobre o perfil político de Dilma. Quanto a José Serra, nunca foi uma opção viável na minha concepção por vários motivos, dentro os quais posso destacar este e este outro.
Do que vi hoje, posso comentar. Marina Silva está na defesa. É natural, dado que a candidata, nas pesquisas de preferência de votos, está na lanterna. E quem está lá embaixo sempre vai morder os que estão acima. Marina criticou Dilma e Serra por anteciparem suas campanhas. Questionada sobre sua aparição num evento em que política chega a ser um ET (exceto pelo Partido Pirata, devidamente representado na Campus Party), Marina defendeu sua ida ao evento porque disse que usará a internet: "Não estou aqui de forma artificial. Usarei a internet durante a campanha e nada melhor do que vir aqui para reconhecer que é uma ferramenta importante", disse. A propósito, um dos palestrantes mais ilustres nesta Campus Party foi Scott Goodstein, o estrategista das redes sociais da campanha bem-sucedida do presidente dos EUA, Barack Obama.
Na minha opinião, Marina passeou pelos temas e não se mostrou ousada. Para uma candidata a presidente, achei que Marina tem uma postura um tanto quanto 'mansa'. Depois, conversei com um taxista sobre ambas e ele foi taxativo: "A Marina só fala em meio ambiente". Quer dizer, a imagem da candidata está totalmente atrelada a uma plataforma da qual ela nem faz mais parte. Não que tenha deixado a questão ambiental de lado, mas um programa presidencial deve abordar inúmeros temas e, sobretudo, fazer o eleitor perceber isso.
Postura completamente oposta tem a outra candidata, Dilma Rousseff. Claro que o fato de Dilma estar amparada pela pesada máquina do governo federal ajuda e muito na construção da sua própria candidatura. Mas as posições de Dilma são vigorosas: "a internet é a ágora de Atenas da modernidade", afirmou, ao ser perguntada sobre a importância da rede para a campanha eleitoral. E desfilou uma série de afirmações sobre democracia, internet, acesso aos meios, banda larga (Plano Nacional de Banda Larga), direitos (marco civil regulatório da internet), direitos autorais, direito de acesso (e se posicionou contra qualquer tipo de restrição ou censura). E emendou com direitos à mulher, ao negro, à cultura etc. etc.
Quer dizer, é uma candidata que já tem uma plataforma eleitoral bem articulada. Do que eu vi, achei que Dilma está muito bem posicionada para debater questões que ora estão na pauta do governo federal e também do mundo.
Medidos os dois cajados - o de Marina é predominantemente verde e curto e o de Dilma é longo e espinhento -, no debate mental que fiz ao comparar as duas, pelo menos no ambiente da Campus Party Dilma ganhou disparado. E houve quem protestasse pela atenção da mídia à candidata Dilma! Oras! Basta acompanhar uma e outra para ver que as diferenças passam longe do grau de atenção que exercem sobre a mídia e eleitores em geral.
Tenho, porém uma reclamação dirigida a Dilma que não divulgou a conta do Twitter: esperamos pela ministra mais de duas horas. Creio que a ministra mobilizou mais de 100 pessoas entre motoristas, seguranças, jornalistas, blogueiros, assessores e produção. Todo mundo na expectativa da chegada da ministra ao evento. Ministra, poder público não é se fazer esperar.
Por outro lado, Dilma afagou os blogueiros (entre os quais me incluo) ao fazer referência várias vezes ao papel de blogs e blogueiros em todo e qualquer processo de informação, inclusive o eleitoral.
Saí das duas entrevistas - de Marina Silva e de Dilma Rousseff - com muita informação para analisar. Mas está OK porque tenho, pelo menos, oito meses para me decidir entre os candidatos que substituirão Lula.
2 Comentários:
Claro que não me meto na política interna brasileira, pois nem sequer estou minimamente informado; mas é curioso observar como um jornalista, mesmo com naturais opções sociais, consegue ver as duas candidatas de uma forma objectiva e neutral como o estatuto de imprensa deveria ser sempre mostrado.
Oi João, fiquei envaidecido pelo seu comentário porque, ao final, tive a impressão que poderia ter sido tendencioso ao apontar a vantagem de Dilma sobre Marina. Ah! Na verdade, eu não tenho opções sociais por natureza não. De fato, desconfio dessa postura de alguns jornalistas por achar que é uma atitude mais proselitista do que social. Quando esses mesmos jornalistas chegam ao poder, também eles deixam cair a máscara social. Por princípio, portanto, não tenho essa identificação com causas ou posições sociais por, simplesmente, não acreditar nisso. De qualquer forma, é bom ler a opinião de quem está fora de contexto político brasileiro. Abração!
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