Ameaça à (pro)criação
Crescei-vos e multiplicai-vos é um dos maiores axiomas do livro do Gênesis e boa parte da humanidade pauta-se por esse princípio, consciente ou inconscientemente. Deve ser por isso que o papa Bento XVI rebelou-se nesta segunda-feira, 11, e, durante um discurso em que misturou casamento gay e meio ambiente, poluiu ainda mais o primeiro tema em detrimento do segundo. Disse o papa que as leis (certamente, induzido pelas recentes notícias emanadas de Portugal e México, ambos predominantemente católicos) que enfraquecem "as diferenças entre os sexos" são uma ameaça à criação.
Como eu tenho uma proverbial vocação de entender o que eu bem quero do discurso alheio, na minha modesta compreensão o papa errou a palavra: ao invés de dizer 'criação', talvez tenha querido dizer 'procriação'. Mesmo porque a criação e toda a cultura do criacionismo como imaginado por Sua Santidade não é ameaçada exatamente pelo que os homens fazem ou deixam de fazer entre si sexualmente, e sim pelo que fazem fora do contexto sexual. Porque, ao que me consta, durante um ato sexual, seja homem a homem, mulher a mulher ou homem a mulher, dificilmente existem ameaças que possam extinguir a garbosa raça humana.
"As criaturas diferem-se uma das outras e podem ser protegidas, ou colocadas em perigo, de formas distintas, como sabemos a partir da experiência diária. Um ataque desse tipo vem de leis ou propostas que, em nome da luta contra discriminação, atingem a base biológica da diferença entre os sexos", afirmou Bento XVI. "Penso, por exemplo, em alguns países da Europa ou da América do Sul e do Norte", disse. Oito países aprovaram o casamento na Europa; seis estados norte-americanos legalizaram o casamento gay; e, na América Latina, a Cidade do México, capital do México, aprovou o casamento gay.
As palavras de Bento XVI foram ditas durante um discurso a diplomatas de mais de 170 países. Que ainda completou: "A liberdade não pode ser absoluta, pois o homem não é Deus. Para o homem, o caminho a ser tomado não pode ser determinado pelo capricho ou pela teimosia, mas precisa corresponder à estrutura desejada pelo criador".
E tudo isso foi dito sempre na companhia do inseparável companheiro de jornadas, o monsenhor (e bonito) Georg Gänswein, que é secretário particular, instrutor de tênis e pelado de Vossa Santidade. Ops! Prelado, eu quis dizer.
7 Comentários:
enquanto isso, no México, a igreja anda caçando padres pederastras
Com tanta gente no mundo, esse homem ainda vem falar em procriação?!
Odeio a igreja católica. Aliás, perdão: odeio igrejas em geral.
bj
Mr. Red, recebi esse e-mail de uma amiga e encaminhei para outros. Mando pra você por aqui porque é o único acesso que tenho.
bjs
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Eu sou imensamente suspeito neste assunto, pois o Bentinho, como eu lhe chamo, não "encaixa" bem com a minha pessoa (se calhar "encaixa" melhor no Monsenhor Ganswein, mas isso é lá com eles)...
Claro que este discurso está directamente ligado a mais estes dois "revezes" para a Igreja Católica (Cidade do México e Portugal) e por aqui muito se especula sobre a necessidade de dar continuidade ao celebrado dia 8 de Janeiro de forma a que a lei, com reformulações ou sem elas, esteja pronta e promulgada antes da visita do Bentinho a Portugal, em Maio.
Apesar de tudo, esperava mais alvoroço da Igreja portuguesa acerca deste assunto, ficando-se tudo por umas críticas de alguns bispos, tornadas públicas e com certeza com muitos "aconselhamentos" paroquiais em pequenas aldeias e vilas do interior...
Abração.
Mauri, por isso a incoerência da igreja: a pedofilia e a pederastia estão mais do que confirmadas no seio da igreja católica e os cínicos que a administram insistem em voltar os holofotes para outros temas. O objetivo, na minha opinião, é afastar de si a atenção com que o mundo os observa. Mas essa estratégia tem falhado grandemente, como se nota na medida em que os próprios fieis se afastam mais e mais da igreja catolica. Abraço!
Gentil, as igrejas eu as ignoro. O que não consigo ignorar é esse tipo de atitude. As igrejas são, antes de tudo, formadas por homens e, como tais, totalmente passíveis de erros, como tem ficado mais do que comprovado. Mas é fácil sentar sobre o próprio rabo e desandar a falar do alheio. Beijo!
João, também espero que passe a lei antes que Bentinho visite o seu país. Pela força que ainda tem, o Vaticano, como se comprovou no Brasil, tem o pendor de refrear avanços por onde passa com sua caravana. Aqui, a força da igreja católica é representada principalmente pela Confederação Nacional de Bispos do Brasil (CNBB). São eles os primeiros a soar os sinos contra qualquer assunto que interfira na 'moral da família brasileira'. Por exemplo, neste momento, o PNDH-3, sobre o qual abordei no último Rugido, abrange, entre outras coisas, o direito ao abordo e o direito à união civil gay. Adivinhe se a CNBB já não saiu a gritar contra isso! Por experiência própria, não foi apenas uma vez que comprovei o quão forte o homossexualismo é dentro da igreja. Os padres esquecem-se que são homens com desejos. E, reprimidos, são capazes de qualquer coisa, inclusive cometer a pedofilia, conforme vimos amplamente no mundo todo. Aqui sei de casos de padres gays que enveredaram pelo caminho das drogas e alcoolismo e mesmo de alguns que morreram de AIDS. Portanto, não é essa igreja e CNBB que têm, na minha opinião, o direito de se manifestar quanto a direitos humanos. E, por fim, o termo paróquia se ajusta muito bem também ao Brasil: não passamos, em algumas situações, de paroquianos ao não saber lidar com assuntos que extrapolam a paróquia. Bentinho apenas representa tudo isso de uma maneira mais pérfida. Abração para você!
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