Meu rugido dominical
Geralmente, sou bastante organizado - com papéis, documentos, contas, livros, arquivos digitais, senhas e com minha casa. Se estou arrumado por dentro, tanto mais ajeito tudo à minha volta. Tenho alguns métodos, vícios, talvez, de quem vive mais para si ou dentro de si.
Por outro lado, outros setores da minha vida são completamente desgrenhados. Giram às avessas - horários certos, convencionais para o mundo 'comercial', não funcionam para mim. Jamais, e faz anos, consigo dormir antes da meia-noite. A não ser em situações completamente inusitadas do tipo daquelas em que se passa a noite em claro.
Tendo a me organizar em função dos deadlines que me são impostos pelo meu trabalho. Como freelancer, tenho grande flexibilidade de horários e sou extremamente rigoroso em obedecer prazos e, se possível, precedê-los. Isso é uma regra minha.
Mas, entre o prazo final e o desenvolvimento do trabalho, acontece de tudo. E toda a sensação de organização, de controle, se me escapa por entre os dedos tal qual água. Vaza mesmo. Inexorável feito a areia da ampulheta, vejo a liquidez do tempo e dos meus planos se evaporar feito bolha de sabão. Estouram no ar e quando me dou conta, tudo não passou de abstrações.
Por que sempre que planejamos tudo sai diferente? Por que as programações insistem em se fazer substituir por imprevistos? Claro que eu sei e entendo que tudo, ou quase tudo, depende de circunstâncias com as quais eu não posso lidar. Por exemplo: não dá para prever que haverá algum tipo de problema técnico que fará com que eu fique sem conexão de internet ou sem eletricidade. Isso pode acontecer e acontece.
Mas, a princípio, trabalha-se com o concreto: tenho os meios, contorno os obstáculos conhecidos e sempre deixo alguma margem para cobrir justamente os imprevistos. No entanto, isso não é suficiente. E aí vejo a lei da causa e efeito sustentada pela filosofia, física e direito entrar em ação. Sem me esquecer que existem correntes que desprezam totalmente essa lei e também que o conceito, em si, é defendido por algumas doutrinas religiosas, como o espiritismo e o budismo, identifico, quase sempre, causa e efeito para os transtornos que se opõem à minha tão organizada agenda.
Um dos enfoques sob os quais se explica a causalidade determina que causa e efeito é a relação entre um ser humano e o ato que praticou voluntariamente e pelo qual é responsável. Por essa via, se eu praticar um ato, bom ou ruim, terei o retorno, bom ou ruim, na mesma proporção. Bem, isso se aplica para coisas práticas: me alimento (causa) e sacio a fome (efeito); ingiro veneno (causa) e morro (efeito). Nem tudo é assim no reino dos humanos, porém. Me alimento e continuo com fome, por exemplo, e ingiro veneno e sou levado ao hospital para fazer uma lavagem estomacal. Quer dizer, nem sempre o efeito é previsível, fechado em si mesmo. A causa pode proceder da mesma origem mas o efeito pode ter variáveis conforme a intensidade da causa.
Pessoalmente, não acredito na relação causa-efeito. Para ficar no nível mais prático: trabalho (causa) e não acho que ganho o suficiente (efeito). Aposto toda semana na loteria (causa) e não ganho (efeito). Quer dizer, são situações excepcionais e exagero sobre os fatos. Mas, em resumo, é isso: nem toda causa gerará o efeito desejado. E voltamos, portanto, ao planejamento e consequente execução, que, como eu disse acima, nunca se concatenam da forma que eu gostaria.
Vou citar outro exemplo bem particular: na última quinta-feira, 9, foi feriado no Estado de São Paulo. Não viajei como gostaria de ter feito e me planejei, desde a semana anterior, para trabalhar num job que pretendo concluir o mais rápido possível. OK, estou dentro do prazo. Mas já trabalho com antecedência porque, creio, trabalhamos, quase todos, no presente e miramos o futuro, próximo ou mais a médio prazo. É assim: para eu atingir o objetivo B, tenho que finalizar o A.
Claro que ficou tudo apenas no nível dos planos: como alguns(mas) leitores(as) do blog devem ter percebido, padeci de dor atroz nos últimos dias. De quarta-feira a sábado, não fiz nada a não ser publicar o post diário deste blog e resignar-me às pílulas, inúmeras que, por fim, deram cabo da, na sequência, dor de cabeça, cefaleia e enxaqueca. Sim, foram praticamente três dias completos com dor. Sem possibilidade de pensar.
Quando escrevo meus artigos profissionais, não funciona como aqui, no blog, cujos textos me fluem facilmente. Não. As matérias jornalísticas têm outro ritmo e originam-se a partir de informações apuradas de entrevistas. Logicamente, tenho que dar forma às dezenas de informações de diferentes fontes e fazer desse conteúdo um artigo que se situe dentro do contexto de uma pauta e da linha editorial do veículo no qual será publicado.
De forma que não consegui pensar. Não consegui ler. Tudo o que fiz foi olhar para a tela da TV, através da tela. Se tentasse ler algum livro, a dor me incomodava. O brilho da tela de computador me machucava.
Pois, questiono então: eu liguei algum dispositivo interno (causa) que deu origem à dor (efeito)? Até onde me recordo, não fiz nada diferente de todos os dias - alimentação, horários, temperatura etc., ou seja, ações rotineiras. Mas um grande obstáculo se colocou no caminho dos meus planos contra a minha vontade. Não pude controlar a situação.
E é assim que funciona, na verdade, a vida. Claro que existem milhares de pequenas atitudes que podemos tomar, iniciativas, cuidados, responsabilidades etc. etc. Mas sempre haverá o imponderável para nos desviar daquele que era o objetivo principal e nos colocar em outra circunstância. Por vezes, isso me desanima, me frustra. Por outras, vejo como possibilidades de olhar para o fato, em si, com outro foco.
Também não sou do tipo que acredita na condição de "era para ser". Não, não acho que tudo está fechado, que nada não pode ser mudado. Por isso mesmo existe o livre-arbítrio, ainda que sempre haverá alguém que nos diga: "eu avisei", quando o barco vira. Não sei você, mas eu prefiro pagar para ver. Quanto à causa e efeito, bem. Lá no fundo, provavelmente, eu posso... não digo que o fiz... mas posso ter elaborado uma reação do organismo à minha falta de vontade de escrever meus artigos profissionais. Vai saber. Deixo isso com o "era para ser", embora, repito, não acredite nessa condição. Sou safo, vou brigar para quê?
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