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quarta-feira, 8 de julho de 2009

Derrubem-se as muralhas, alarguem-se as faixas: o mundo é (deveria ser) plano!

Uma amiga delimita algumas fronteiras sociais com o artifício de usar territórios e monumentos reais como metáfora para a convivência com as pessoas e a forma como esse convívio se dá.

Um exemplo é a Faixa de Gaza. É um território de 360 Km2, tamanho de uma cidade como São José dos Campos (SP), disputado a ferro, fogo, pedras e paus (intifada) pelos palestinos e israelenses. O grupo fundamentalista islâmico Hamas - considerado terrorista pela Europa e EUA - domina a Faixa, politicamente. Simultaneamente, o controle de fronteiras, entradas e saídas de palestinos e de visitantes, e também o controle do espaço aéreo e marítimo são feitos pelos israelenses. Ou seja, são duas forças antagônicas que esticam ao máximo a tensão entre os moradores da Faixa, cerca de 1,5 milhão de pessoas, no que é considerada a maior densidade demográfica da Terra.


O outro exemplo é a Muralha da China, cuja extensão é de 8.850 Km, com muros de largura média de 6 metros e altura de 7,5 metros. A muralha é feita de portas, torres de vigilância e fortes. São cerca de 40 mil torres em toda a muralha, construídas para permitir a observação de inimigos.

Baseado nessas duas referências, defendo a ideia de que vivemos ora num extremo (no estreito de uma faixa), ora no outro (no topo de uma muralha como salvaguarda de ataques). É uma concepção um pouco diferente da defendida pela amiga, mas o que quero dizer é que temos, cada um de nós, faixas e muralhas bem definidas e nos sentimos confortáveis de ficar nesses terrenos, hipoteticamente seguros ou, por outro lado, em aflitiva tensão.

Numa faixa de Gaza metafórica, vive-se entre a cruz e a espada: ou você não sai do território e briga para fazer dali legítimo abrigo ou sai e tem que passar pelo risco de ser revistado na fronteira e ter o acesso ao lado de lá negado. A faixa é estreita e vive-se em permanente estado de atenção. Há uma concentração de pessoas que impede que você, de alguma forma, destaque-se na multidão. Por um lado, isso favorece o grau de invisibilidade porque, sendo invisível na massa, mescla-se com o todo e, de transparente, você se torna compacto com o conjunto. Por outro lado, um e outro ponto que pode contar a seu favor se esvai exatamente por conta da aglomeração. Eventuais demonstrações de poder solitárias são abafadas tão logo queiram se manifestar.


Pois que a faixa é estreita para tanta concorrência e vive-se um eterno dilema: continuar dentro da faixa e unir-se ao anseio comum, embora, por vezes, não se tenha identificação com essas expectativas, ou tentar sair e acabar isolado de uma vez por todas, acusado que fatalmente será de deserção.

Já na figura da muralha, a analogia é com a proteção (em definição melhor, firewall). Cercado por tão altas torres a assegurarem milimetricamente que nada e ninguém irromperá em fator surpresa, a vida passa a ter um sentido vago, completamente rotineiro, e adquire um não-sentido que fará com que você: 1) Escale os muros e, sob fogo cruzado, tente passar para o lado de fora (suponha-se que você, obviamente, esteja dentro do cercado); 2) Quede-se em observação eterna numa das 40 mil torres disponíveis e faça como todo mundo: olhe para o horizonte e sonhe com um mundo em que não haja horizontes a conquistar, em que não existam linhas de horizonte a te chamar. Seja eficiente e apenas reveze-se, de quando em quando, para que a vigília não seja em vão. Mas que vã seja a existência sem sentido.


De forma que, restrito a uma faixa estreita ou cercado por hipotéticos muros, quem está dentro quer sair e quem está fora quer entrar. É um vaivém constante, se não de idas e vindas efetivas, ao menos de vontades. Os que estão dentro conhecem as condições e podem querer experimentar o que está fora, que, eventualmente, se insinua mais atrativo do que o conhecido.

Há, ainda, o caso daqueles que fora estiveram e agora estão dentro e anseiam por sair novamente e pastar os verdes pastos que o gramado do vizinho sempre parece mais apetitoso. Há aqueles que, exatamente por não terem feito expedições externas, criam asas fictícias a lhes doer as omoplatas tal a curiosidade que os envolve feito plumas quase a lhes carregarem à maneira de Ícaros precários.


Os que estão no exterior esticam os pescoços e, afoitos de tanta concentração, formigam pelo formigueiro. Ainda que lhes cheguem notícias contraditórias sobre o que dentro se passa, ainda assim dariam um dedo para saborear por si mesmos aquilo tudo que está fechado e, portanto, soa misterioso e, por isso mesmo, atraente.

Não sei onde vivo. Se estou dentro da faixa metafórica ou da representação do firewall chinês. Se estou fora ou dentro desses territórios. Se quero me unir e ultrapassar as bordas e tornar-me corpo com o corpo coletivo ou se quero voar, indivíduo, e descobrir os perigos do mundo cá de fora, eventualmente desprotegido.

Faixa de Gaza e muralhas da China são, ambas, no limite, regiões perigosas, na acepção real de terrenos sócio-políticos-geográficos. Mas, na tradução como metáfora, podem ser ainda mais arriscadas, ambas, porque pressupõem um atravessar de fronteiras, passar por obstáculos e buscar o desconhecido. Entre ficar e viver o óbvio e ir para descobrir apenas que dá tudo na mesma é o que liga ambos os mundos, seja real ou metafórico. Porque, embora hajam, efetivamente, mares, montanhas e oceanos a dividir a Terra, o mundo é plano. Tão plano que as aspirações, coletivas e individuais, não passam de uma dezena, guardadas as proporções históricas e culturais, das quais a primeira e mais importante é apenas viver. De preferência, da melhor forma possível. Qual seja, ter, no mínimo, um sentido. O sentido da vida. Só.

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Redneck, em inglês, define um homem rude (e nude), grosseiro. Às vezes, posso ser bem bronco. Mas, na maior parte do tempo, sou doce, sensível e rio de tudo, inclusive de mim mesmo. (Redneck is an English expression meaning rude, brute - and nude - man. Those who knows me know that sometimes can be very stupid. But most times, I'm sweet, sensitive and always laugh at everything, including myself.)

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