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sexta-feira, 17 de julho de 2009

Juliana Paes, uma dalit brasileira

"Em tempo de guerra, a primeira vítima é a verdade", disse o jornalista norte-americano Boake Carter (pseudônimo de Harold Thomas Henry Carter). A mídia, em geral, vive em permanentes guerras com as celebridades ou proto, pseudo e aspirantes a famosos, seja por meio de críticas, perseguições (paparazzos) ou na cobertura oficial ou oficiosa (preferencialmente).


A mídia que cobre a classe artística e os artistas vivem uma ambígua relação de amor e ódio. A primeira fornece ao público, com exagero ou não, aquilo que as pessoas querem: a intimidade dos famosos. A segunda, formada pelas celebridades, morde e assopra: ora está em caso de amor com a mídia, ora entra em confronto.


Se, em tempo de guerra, a vítima é a verdade, eu acrescento que, se a vítima é a verdade, o meio, que é a imprensa, é o primeiro a ser calado. É o que acaba de acontecer com o colunista do jornal Folha de São Paulo José Simão. O jornalista mantém coluna diária na Folha e acaba de ser proibido por um juiz de fazer referências à atriz Juliana Paes (que vive a personagem Maya, de "Caminho das Índias", da Rede Globo), sob pena de ser multado em R$ 10 mil a cada nota em que veicular quaisquer dados sobre a protagonista indiana da novela global.


Juliana moveu duas ações de indenização: uma contra a Folha e outra contra o próprio José Simão, sob a alegação de que o colunista "publica reiteradamente nos meios de comunicação em que atua, sobretudo eletrônicos (internet), textos que têm ultrapassado os limites da ficção experimentada pela personagem e repercutido sobre a honra e moral da atriz e mulher e sua família", conforme detalha parte da ação.


Tudo partiu do fato do colunista ter falado sobre a 'poupança' (bunda, nádegas) de Juliana. Segundo o juiz, no entanto, José Simão teria extrapolado as observações sobre a atriz ao "jogar com a palavra 'casta'" ao dizer que Juliana "não é nada casta" e ofendido, assim, a moral da mulher Juliana Couto Paes, seu marido e família. Ao que Simão responde que "é censura. A pessoa não pode determinar quando e o que falar dela. Isso tolhe totalmente a liberdade de expressão".


Bem, para mim, é bastante semelhante quando o senador José Sarney (e #ForaSarney!) alegou que não podia ser julgado pelo Brasil ou quando aquele outro deputado (Sérgio Moraes - PTB-RS) disse que se lixava para a opinião pública. São, todos os três, casos equivalentes em cerceamento à liberdade de expressão: Juliana, Sarney e Moraes são pessoas públicas e não podem querer ficar acima do comum das pessoas. Não podem e não ficam. Ainda que se aferrem aos cargos (caso de Sarney e Moraes) como imãs presos em geladeiras.


Mas no caso de Juliana Paes, há uma diferença: a atriz ou a mulher, não fica claro, sentiu-se ofendida porque o colunista insiste em chamá-la de 'não casta' e de fazer referências aos seus glúteos, tão familiares ao público quanto o é o rosto da atriz.


O engraçado é que 'casta' designa justamente a divisão de classes sociais da Índia. Casta é também uma pessoa pura, virginal, uma donzela, enfim. E, nesse jogo de palavras, a Juliana atriz vive "Maya", uma indiana de casta superior (e não totalmente casta, já que fez sexo com outro homem antes de se casar com o atual marido), que se relacionou sexualmente exatamente com a única casta que lhe era interditada: o dalit Bahuan (vivido pelo ator Márcio Garcia).


Ao entrar com uma ação para que a imprensa se cale e tolher, uma vez mais, a liberdade de imprensa, Juliana Paes torna-se, ela própria (a mulher, e não a atriz), uma dalit: intocável. Não deve ser tocada e nem à sua fictícia personagem pelo jornalista. É uma dalit ao contrário. "Se você me tocar, você pagará por isso", diz, nas entrelinhas, a atriz. Portanto, voltamos, na imprensa, à época do regime militar, quando se intimidava a mídia com a censura velada ou não a qualquer tipo de expressão. Dessa vez, a censura reaparece por meio de um processo de 'dalitização' de uma (?)celebridade global que deve se colocar em casta muito superior à dos demais mortais que a cercam, uma espécie de deusa Lakshmi (ou Laxmi) e, mais uma vez, como deusa, inacessível e, dessa forma, intocável, como ela (a atriz e mulher Juliana Paes) assim o deseja.

7 Comentários:

UFMing disse...

Não conheço os meandros desses casos em particular que foca, porém, tocou num tema que há muito mexe comigo: essa mania de que quem é celebridade (???que merda é essa de ser celebridade?? eu não sei. falemos de figuras póblicas, no sentido em que pelo seu trabalho lhes é exigida a aparição em público, um escritor, um político, uma actriz, uma banda de música, e acho muito bem que a imprensa entreviste queira mostrar e dizer o que mais servir o lucro, mas PERAÍ, a vida PRIVADA de cada um não é PÚBLICA! - e no mínimo será publicado o que a figura permitir e não o que qualquer anormal (pois muitas vezes disso se trata) resolver fotografar as escondidas, dizer, inventar, extrapolar, o que, a uns mais e outros menos, incomoda e a páginas tantas deve ser suficiente para mover um processo sim! sei que é difícil distinguir esse domínio público do privado mas emcertos casos é gritante a diferença - o que eu tenho a ver com o que george michael faz nos wc??? e só pq é conhecido como músico isso vira primeira página de jornal!? não. creio mesmo que as revistas chamadas cor de rosa, que falam só e só das tricas privadas das figuras públicas deviam ser extintas. censura? coerção da liberdade de expressão??? Não. Defesa dos direitos humanos, cada um tem direito a não ver exposta sua vida, pra não falar nas MENTIRAS e CALÚNIAS, seja no jornal, na net, no youtube ou no raio q parta. se um político se contradiz, aí a imprensa pode fazer o ajuste, um comentador, um leitor, outro político que confronta na AR, tudo bem, mas se o mesmo político é gay, ou trai a mulher e gosta de comer feijão com beita, ah, façam-me um favor!!!!
mais: se uma moça posa nua na playboy que escrevam lá que ela é bela e gostosa, e não, em outro lugar, que a mesma é uma vagabunda!
desculpa o tom alterado, que não é com você, mas a liberdade de expressão é, muitas vezes, usada como bode expiatório para impedir direitos e liberdades fundamentais. democracia não é "isso". responsabilidade, bom senso e respeito também fazem parte.

UFMing disse...

em relendo o que escrevi antes, de um só fôlego, faria alguns reparos, mas... afinal, a quem interessa minha "opinião", pois que esta a não emito edito junto com fotos profusas em bundas bem glutinadas e seios ao léu?... ;-)
é. thats life.
se fizer alguém pensar(antes, depois ou durante o olhar em bico! ahahah) já valeu seu artigo.
'braço

edianez disse...

Pois é, estou desenvolvendo minha tese mundana sobre celebridades: elas só querem o bônus da fama, nunca o ônus. As que ganham os maiores cachês são exatamente as que deseducadamente se recusam a dar autógrafo aos populares... Essa da Juliana foi o ó... voto no Zé simão!

Redneck disse...

UFMing, a sua opinião me interessa a mim, sim. Eu acho que você tem um olhar crítico que é muito bom. E quanto ao fato de misturar vida pública e privada, o post trata apenas do caso de uma 'celebridade' que buscou toda essa exposição e agora quer ter um tratamento exclusivo. É que no Brasil, grande parte dessas celebridades primeiro busca a super-exposição. Depois, quando se colocam num patamar 'alto', querem distância da mídia, público, fãs etc. De resto, como todos os famosos. Mas, antes, fizeram uso das mesmas ferramentas que agora criticam. Eu sei que é um debate que não tem fim e todos usam uns e outros (meios midiáticos versus pessoas) para se promover e vender. O que não concordo é que a atriz Juliana Paes queira determinar o que pode ou não ser dito. Ela quer, na verdade, regular o que se escreve sobre ela e isso, sim, é querer restringir a liberdade de expressão. Pois assim como ela pode vir a público reclamar, o veículo e a mídia em geral podem responder. Se afeta pessoalmente a atriz? Isso é entre ela e o veículo. O problema é que a censura aos meios de imprensa ainda é recente no País e fatos como esse sempre nos remetem à censura militar. Por isso levantei o registro no post. Beijo!

Redneck disse...

Edianez, é o que eu acabei de responder para a UFMing: querem o bônus apenas, mas não encaram o ônus que vem junto, obrigatoriamente. Nós sabemos exatamente o quanto isso ocorre, de forma geral, na mídia brasileira. Beijo!

Anônimo disse...

O JATOBÁ DESSA MULHER É MAGNIFICO! DEVE VIRAR UM PATRIMÔNIO NACIONAL! SEGURA O PARANGOLÊ!

Redneck disse...

Anônimo, de jatobás conheço apenas as árvores e até mesmo os jabotás fenecem. É o que sei. Quanto ao parangolê, sei que o grupo Parangolé foi sensação de Carnaval com a música "Rebolation". É o que sei!

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Redneck, em inglês, define um homem rude (e nude), grosseiro. Às vezes, posso ser bem bronco. Mas, na maior parte do tempo, sou doce, sensível e rio de tudo, inclusive de mim mesmo. (Redneck is an English expression meaning rude, brute - and nude - man. Those who knows me know that sometimes can be very stupid. But most times, I'm sweet, sensitive and always laugh at everything, including myself.)

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