Um caso de amor babão
Os EUA são pródigos em lançamentos de livros momentâneos, do tipo rabo de foguete: são livros que pegam carona no assunto do momento e aproveitam toda a publicidade em torno de determinado tema para vender.
A bola da vez é, claro, Barack Obama. Dois livros acabam de chegar ao mercado. Um - "Como Obama Venceu", de Greg Mitchell, analisa a campanha bem-sucedida do recém-eleito presidente dos EUA e descreve a ação dos "netroots" (mobilização democrata de raiz, baseada na internet) e o impacto dos programas de humor na vida dos políticos (vide a atuação de Tina Fey, da série "30 Rock", como a candidata a vice do Partido Republicano, Sarah Palin, que rendeu à humorista o Globo de Ouro de melhor atriz de comédia).
O outro livro ataca Obama frontalmente: "Um Caso de Amor Babão", de Bernard Goldberg (comentarista da Fox News e conservador), afirma que a grande mídia mantém um "tórrido romance" com Obama. E culpa esse romance pela eleição do presidente dos EUA. Claro que vai, aqui, uma grande dose de ressentimento por parte do autor que viu Obama ser incensado pela grande mídia norte-americana e, simultaneamente, viu essa mesma mídia atacar a vice dos republicanos, Sarah Palin, por todos os lados.
Ambos os livros são representantes do pensamento norte-americano: o primeiro tem um viés de vanguarda e busca explicar novos fenômenos que influenciam a política dos EUA e, consequentemente, do mundo. O segundo livro é um grito contra um amor que, longe de ser de alcova, levou ambos os lados - grande mídia e Obama - à superexposição.
Como todo grande amor, eu duvido que essa relação superexposta sobreviverá antes do término do inverno norte-americano. Mas, não se pode negar: foi essa paixão da mídia por Obama uma das grandes responsáveis pela sua condução ao cargo. Além, claro, do carisma do agora presidente.
Casos de amor babão os há aos montes. Posso até mesmo listar, de pronto, alguns que são bastante populares:
1. No Brasil, temos um caso gritante de amor babão entre Lula e o brasileiro: a despeito de, ao contrário da mídia norte-americana, o presidente Lula ser constantemente criticado pela grande mídia brasileira, o tórrido romance de Lula com a população não arrefece nunca; antes, só faz crescer.
2. Outro amor babão: futebol e Brasil. Não verás país nenhum com tanto amor passional pelo futebol quanto o Brasil. E é do pior tipo esse relacionamento. Doentio, transita do amor ao ódio em segundos para, no instante seguinte, fazer juras de amor eterno e acabar na cama, cheio de amor (babão) para dar. A FIFA, que está em visita ao Brasil para conhecer as cidades-sedes da Copa do Mundo de 2014, afirmou, por meio de seus representantes, que o Museu do Futebol em São Paulo é único no mundo e ficou extasiada diante de tanta paixão. Tanto que promete adotar elementos do museu para seu uso próprio.
3. Kelly Key foi porta-voz do amor babão durante uma temporada inteira quando nos pedia, de forma insinuante e nada discreta, que babássemos, todos nós. Como se precisássemos de incentivo. O resultado é que babies novos e velhos foram legitimados na babação. Eu, inclusive, durante uma das execuções de "Baba, baby, baba", usei em benefício próprio a música e babei, confesso, sem remorso.
Esses são alguns dos exemplos de que o amor babão, caipira, brega e pegajoso, é sempre um amor de multidões. É o tipo de amor que não deixa margens para a dúvida. É incondicional. Ama-se coletivamente até que a morte (súbita, sempre) separe público do objeto (ou pessoa) amado. E, brasileiros, a princípio, somos adeptos do amor babão. Ouso nos comparar ao estereótipo da mulher de malandro: apanhamos e amamos ainda mais.
O único problema do amor babão é que um lado sempre ama mais do que o outro e quando o outro, que ama menos, deixa de corresponder, o um, que é o apaixonado, sofre feito cão sem dono. E aí, meu irmão, a paixão transforma-se de babação em execração e o pau come solto. Mas, um tapinha (de amor babão) não dói, não é mesmo?
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