Cheio de mim mesmo
Estou cheio de mim mesmo! Não, não é que eu esteja irritado com o ser que sou. Gosto-me assim, desse jeito. O que quero dizer é que estou rotundo, com os espaços preenchidos por demais. E que andam a transbordar pelas abas do corpo, se é que as há.
Desde o último semestre do ano passado, voltei a beber cerveja e chopp como há muito eu não fazia. Contagiado pelo ambiente da faculdade, tornei-me ébrio em noites de sextas-feiras e, mais para o final do ano, reduziram-se os períodos entre um gole e outro.
De forma que, conjugado com a comida absorvida durante o final do ano passado e o início deste ano, houve uma fermentação excessiva e, em repouso, descobri que meu tamanho praticamente dobrou sob a ação fomentadora tanto do fermento quanto do ato de repouso em si. OK! Pode haver algum exagero nisso, mas, entre tanta comida e bebida ingerida, creio que havia mais fermento do que anunciavam as embalagens.
Sinto que estou pronto para uma competição de sumô. As últimas fotos me mostram quadros de Botero, e não mais aquele que eu acreditava ser. Sinto que me expandi feito o universo, sem que houvesse contração correspondente, conforme ditam as leis da física.
De certa forma, as leis da natureza se mostram algo refratárias: aonde deveria haver um corpo para ocupar lugar no espaço, existem quase dois. A leveza, que prezo como ninguém, somente existe no abstrato; na prática, tudo ficou mais pesado: os passos, o caminhar, a desenvoltura. Aliás, desenvoltura não rima com fofura. Quisera eu ser modelo de pintor da Renascença: quanto mais abundância, mais substância haveria no quadro. Contudo, em época de Kate Moss, Nicole Kidman e Gisele Bundchen, é uma blasfêmia pregar a estética da vastidão.
Disseram-se que eu deveria tornar-me um adepto daquela coisa chata, como é mesmo o nome? Ah! A ginástica, academia, levantar peso, correr. OK! Primeiro, não sou rato de laboratório para correr dentro da roda. Sim, estou à procura de alguma coisa. Mas, ao contrário do ratinho, sei que quando a roda parar não haverá prêmio.
Depois, estou mais para a filosofia de Neusinha Brizola: quando me dá vontade de correr, eu deito e espero passar. Tá bom! Eu sei que essa filosofia me levará, quando muito, para a redescoberta da roda. Explico: tornarei-me tão roliço que será mais fácil rolar de um lado para o outro do que caminhar. De qualquer modo, com isso criarei, ao menos, uma nova modalidade esportiva: rolimã humano.
Já recorri a diversas alternativas para deter essa represa que me preenche incessantemente: fiz academia e desisti, algumas vezes; fiz natação outras tantas e, pelo menos em três diferentes academias, tentaram me colocar para competir (com quem? por quê?); adotei dietas estranhas que me transformaram naquele boneco de borracha da Michelin: uma parte fina, outra grossa, uma parte fina, outra grossa.
Claro que eu queria dormir com 700 Kg e acordar com 48 Kg. É o meu sonho (não deveria nem usar essa palavra que me remete a sonhos recheados e a Sonho de Valsa). Dizem que a receita para um corpo saudável é comer seis vezes por dia. No meu caso, ninguém me disse quais os horários exatos. Eu a sigo, essa prescrição, religiosamente. Mas consumo alimentos nas mais variadas horas e isso inclui aquelas madrugadas à frente da TV num momento e diante da geladeira no outro.
Dado que, neste momento, não sei o que faço. Quando penso no assunto, sinto preguiça. Daí que levanto de um lugar e sento no outro que é para o pensamento se dissipar. E assim os dias correm, acrescidos de gramas, gramados e pastos inteiros. Já não sou humano. Bovinamente, confinado em pasto esplêndido, cultivo a derrière, as partes traseiras, dianteiras, altas e baixas. Devo admitir que, do ponto de vista vacum, estou pronto para o abate. E ai que vontade comer uma picanha, agora, já!
10 Comentários:
Ao ler seu texto, mais precisamente o final dele, este me remeteu a um comentário que se encaixaria muito bem aí: "Ai que vontade de pastar e dar uns coices!" lembra-se?
Caro Red:
Tens andado tão prolífico que nem tenho tempo para ler o que escreves... Não é uma crítica, obviamente, é só a constatação do facto de que não consigo acompanhar este furacão criativo em que aparentemente revolves. Quanto ao post, que tal dares umas caminhadas? Não te cansas muito, vês a paisagem, podes conversar com as pessoas e fazes exercício. Comigo, resulta. Pode ser que te ajude também.
Beijão enorme
Ana
Denise, claro que lembro! E, da forma como ando, mais um pouco me restará somente pastar e dar uns coices mesmo. Pelo menos comerei vegetais, não é? De alguma forma, já me animalizei mesmo. Beijo!
Cara Ana, a proficuidade se deve mais ao ócio do que à criatividade, devo admitir. Quanto às caminhadas, São Paulo, definitivamente, não é atraente para fazê-las. A não ser que eu pegue o carro e me dirija a um parque, o ato de caminhar nas calçadas, completamente irregulares, pode ser ainda mais estressante. E, sem colocar obstáculos, para ir aos parques, é necessário pegar o carro, ficar no trânsito, procurar vaga de estacionamento para, somente então, caminhar. Vê que mão-de-obra? De qualquer forma, sei que isso é mais uma desculpa. No tempo que estive fora - praia e campo - também não caminhei. Beijo!
Red, querido,
O nutricionista me disse que o segredo é comer de três em três horas. Se não funciona para secarmos aquilo que sobra, ao menos traz o conforto da saciez de tempos em tempos hehe. Beijo.
Red,
A receita de Luisa funciona de verdade. Veja o meu caso. Continuo comendo a intervalos de tres ou, no maximo, quatro horas, e sigo magrela. Confesso que gostaria de estar um pouquinho mais rotunda, mas nao tem jeito. Vc sabe, se nao me alimento nesse espaco de tempo, desmaio. Sem contar que mesmo aqui nao perdi o habito de carregar comidinhas na bolsa.
Bem, isso pode mesmo desencorajar qualquer pessoa...Não tenho esse problema por aqui...Bem, último conselho: compras uma Wiii e fazes exercício em casa, como se estivesses num parque...lolol
beijão
Ana
Luísa, o segredo, mesmo, é lidar com o próprio metabolismo. E isso não é fácil. Sou, a princípio, insaciável. Beijo!
La Voyageuse, é o que eu disse para a Luísa: você tem um metabolismo, ela outro e eu outro completamente diverso. O que funciona para você, não serve para mim e vice-versa. E, depois, cada um encara a comida de uma forma e eu, certamente, encaro com certa luxúria. Beijo!
Ana, agora sim. Adoro videogame e o Wii é uma ótima opção. De forma que devo aposentar meu PlayStation de sofá e partir para a ginástica dos games. Beijo!
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