Na praia
Em oposição ao silêncio da roça, na praia há tudo, exceto quietude: gente, muita gente. Pouco espaço para circular. Vaivém entre areia e mar. A preguiça reina sozinha. Em uma semana, você conhece todo mundo: quem é habitual, quem está com quem, quem passa um só dia, o dono da barraca.
Todas as vezes que vou à praia, costumo eleger um ponto ao qual volto todos os dias. Dessa vez, com parte da família, não foi diferente. Ficamos hospedados na Enseada (foto abaixo), graças à minha querida prima - ficaríamos em Cocanha, Caraguá, mas pesou a segurança e o temor dos arrastões -, a duas quadras da praia e baseados em barraca com ótimas referências.
(Praia da Enseada - Guarujá)
De novo, prevaleceu a glutonaria: muita cerveja, batidas, frutos do mar e toda espécie de comida praiana. Banhos de mar foram poucos, dado o ócio. Somente sol escaldante, graças ao qual mudei de cor, líquido abundante - ingerido e expelido - e muita fofoca, que é o esporte predileto, creio, de todos nós.
Na semana preguiçosa, vimos de tudo: grandes famílias, sobretudo de São Paulo e do interior de São Paulo, dois casais gays, um dos quais pais adotivos de uma criança de 3 ou 4 anos (informação intuída e depois confirmada), casais, um casal com um menino esperto (ela, mãe, ele, padrasto), uma iguana que, por se achar sereia, mantinha os longos cabelos soltos (cena grotesca, o tempo todo), um aspirante a dealer que foi detido por quatro policiais na frente de todos os expectadores e que se desfez de um pacote de 500 gramas de beck na nossa frente, um furto menor (um catador de latinhas que roubou a cordinha de reservar cadeiras), um boto amarelo (um gostosão que usou uma sunga amarela o tempo todo), salva-vidas rambos e mais, muito mais.
Todo tipo da fauna humana concentra-se na praia. Que, na minha opinião, são, as praias, todas semelhantes: os mesmos vendedores, as mesmas abordagens e, seja no Nordeste, no Sul ou no litoral paulista, uma imensa curiosidade de todos sobre todos.
Assim como falávamos entre nós dos vizinhos, fomos por eles falados (segundo testemunhos próprios). Todos querem saber sobre todos porque, no ócio, sentados com caras de esfinges, somente nos resta olhar a imensa janela à nossa frente e observar, por horas a fio - em média, 6 horas por dia - a movimentação humana que cambia de um lado a outro.
Gosto do Guarujá e nada paga a comodidade de andar duas quadras e estar na praia e, na volta, chegar rapidinho para o esperado banho. Confortável isso. Mas, ainda acho que prefiro o litoral norte - Caraguatatuba, Ubatuba (Praia do Lázaro), São Sebastião.
A última vez que estive na praia por uma longa temporada - mais de 20 dias em Fortaleza, na Praia dos Franceses -, voltei com uma cor que nunca mais tive. Não dá para comparar as praias do Nordeste. São únicas. Ao contrário do Guarujá e litoral norte, as praias nordestinas são extremamente vazias. Me lembro que eu ficava horas a fio em silêncio, sem sequer vendedores à volta.
Mas, se a roça tem o dom de me repor energia, o mar tem uma outra energia. Não sei se é o sal. Ou a altitude. Minha irmã comentou que tudo cresce mais rápido na praia - unhas, pêlos, cabelos. Acho que é isso mesmo. O tempo não conta. Perde-se a noção das horas e dos dias. Isso é fantástico.
De forma que alimentado pela terra (roça) de um lado e pela água (praia) de outro, estou em equilíbrio, ao menos emocional. O físico nem levo em conta porque nesse momento não cabe stress. Somente descompressão. Na praia, basta se deixar acariciar pelas ondas. De resto, segue-se a maré.
Seja o primeiro a comentar
Postar um comentário