Meu rugido dominical
Nesta segunda, 1º., começa a nova novela das 9 da Globo, "Duas Caras". Acabei de ler entrevista com o autor, Aguinaldo Silva, na Folha de S.Paulo, na qual ele admite que o vilão da estória é inspirado no ex-ministro Zé Dirceu. Como se sabe, Zé Dirceu era a eminência parda e a outra face de Lula, aquela que o presidente prefere esconder em público. Zé Dirceu era a cara obscura do poder, a face das negociações, dos acordos e das maracutaias. Tecelão do tapete presidencial, Zé Dirceu foi defenestrado porque sua face revelou-se uma carranca e, como se sabe, Lula tem uma cara carismática e é do bem e, portanto, não combina com o outro lado, negativo e nefasto, que o poder traz. Não acredito na hegemonia ideológica ou em princípios traçados lá atrás, românticos, para me decepcionar com qualquer coisa que seja, na política ou na vida. Mas, acredito que todos temos duas caras. Não sei se em proporções tão farsescas quanto o são as máscaras do carnaval de Veneza. Porém, nossas faces podem ser, creio, obscuras ou simpáticas a ponto de não sermos reconhecidos por aqueles que imaginam que nos conhecem. A necessidade de portar duas caras vem da ânsia de satisfazer o outro ou de defender-se do outro. É uma estratégia até prosaica do ser humano: na defesa e no ataque, sempre, com uma máscara apropriada para cada ocasião. As novelas da Globo tendem, ainda que muitos o neguem, a criar pautas no debate nacional. Não será diferente com "Duas Caras". Quem pode afirmar que é o mesmo agora, neste exato momento, e daqui a dois, três minutos? Somos suscetíveis às mudanças, camaleões que se adaptam por necessidade de afeto, sobrevivência ou aceitação. Podemos ser outras caras para o desafeto, para a falta de amor, para a rotina e a pressão por vezes esmagadora do dia-a-dia. Você, por exemplo, não "fecha a cara" quando é contrariado? Ou, não "abre a cara" num sorriso se recebe um olhar, uma notícia ou um carinho? Pois é. Somos "duas caras" constantemente. Encontrar o ponto de equilíbrio entre a cara primitiva que quer saltar no pescoço alheio e a cara civilizada que admira uma nota lírica é que delimita a minha, a sua, a nossa face pública. Vilania e heroísmo são coadjuvantes na história da humanidade. Acredito, mesmo, que é da natureza do homem. Agora, definir com que cara você vai para a festa, aí já é opcional.
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