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domingo, 7 de fevereiro de 2010

Meu rugido dominical



Se tudo acontecer conforme a previsão do tempo, a cidade de São Paulo, cujo solo tem recebido as chuvas de verão há 46 dias consecutivos (até ontem, dia 06/02), ainda terá mais precipitações hoje, nesta semana e nas demais. O Carnaval, que começa oficialmente na próxima sexta-feira, dia 12, deverá, portanto, ser bastante chuvoso como tem sido nos anos anteriores.


A diferença entre outros carnavais é que as precipitações não eram assim há 67 anos, desde 1943. Exceto pelo ano de 1947, quando a cidade acumulou 481,4 milímetros de chuva, este ano os 31 dias de janeiro registraram 474,6 milímetros. No acumulado desde o dia 23 de dezembro até ontem, 6 de fevereiro, no entanto, não há comparação com outros períodos desde que existe a medição de chuvas na cidade.


O caos mais aparente causado por esse verdadeiro dilúvio (e nem o dilúvio durou tanto!) está estampado no trânsito, cujas médias de congestionamento atingem a casa dos 140 Km. Mas isso é apenas um efeito colateral. Há um outro, pior: neste momento, centenas de pessoas estão desabrigadas ou correm o risco de ficar ilhadas por conta de novas chuvas. As imagens que a TV mostra indicam um desgate desse cotidiano e os governos, ao menos por enquanto, somente têm adotado iniciativas paliativas.


São Paulo será uma das cidades-sede da Copa de 2014. No ano passado, a capital paulista recebeu 11,3 milhões de turistas, dos quais 1,6 milhão eram estrangeiros. Do total, 4 milhões de pessoas vieram a São Paulo a turismo de negócios. É um salto de quase 38% nos últimos cinco anos na população flutuante (sem trocadilhos) que vem a São Paulo a negócios.


Das 170 grandes feiras que acontecem em todo o Brasil, cerca de 120 estão sediadas em São Paulo, conforme dados da São Paulo Turismo (SPTuris), que é a empresa municipal que controla o setor turístico dessa cidade. Em São Paulo, que abriga pouco mais de 11 milhões de habitantes (exclusivamente no município), tudo é ampliado para largas escalas: na gastronomia, os restaurantes oferecem opções que incluem, no mínimo, pratos típicos de mais de 50 diferentes países; no comércio, existem 42 ruas temáticas (desde vestidos de noivas a lustres); abriga os grandes eventos mundiais como a maior Parada do Orgulho GLBT do mundo (foram 2,5 milhões de participantes em 2009), a Fórmula 1, a São Paulo Fashion Week e muitos outros. Neste ano, a cidade passa a ser sede também da Fórmula Indy, a partir de março.


Para 2010, o setor de turismo de negócios prevê uma série de números grandiosos: acontecerá um evento a cada seis minutos na cidade; a capital abrigará 75% de todas as feiras de negócios do Brasil; serão gerados 500 mil empregos diretos e indiretos por conta desses eventos; estima-se que serão 3,8 milhões de visitantes somente nessas feiras; haverá uma feira de negócios a cada três dias; e cerca de 30 mil empresas participarão como expositoras.


À primeira vista, parece o retrato de grandes centros mundiais, históricos no acolhimento de eventos, como Frankfurt, na Alemanha, e Barcelona, na Espanha. Mas a comparação para por aqui. Em termos de infraestrutura, os problemas de São Paulo estão na terra (ruas), no ar (transporte aéreo) e na água (inundações). Apenas como exemplo, nos horários de pico, para fazer a ponte área São Paulo-Rio, gasta-se o equivalente a US$ 210 numa viagem de cerca de 45 minutos.


São Paulo é considerada uma das cidades mais bem sinalizadas do Brasil. Bem, só se for para os brasileiros. Para os estrangeiros, ao contrário inclusive de grandes cidades do Oriente Médio, não existem placas grafadas em inglês. O ditado "Quem tem boca, vai a Roma" deve viajar junto com o turista estrangeiro que aporta em São Paulo porque somente por meio de mímicas é que o visitante conseguirá chegar a algum lugar.


São três aeroportos que servem São Paulo: Congonhas (zona sul da cidade e o mais movimentado do Brasil em termos de voos domésticos), Cumbica (no município vizinho de Guarulhos, a uma hora de São Paulo, quando o trânsito está relativamente fluido) e Viracopos (em Campinas, a cerca de 1:30 hora de São Paulo). Se você chega por Congonhas, ficará parado nas avenidas adjacentes, preso no trânsito. A dependência de táxis é quase obrigatória. Por Cumbica, há algumas linhas de ônibus, os preços dos táxis são abusivos (por conta de uma máfia estabelecida pelo próprio governo municipal de Guarulhos) e, do aeroporto até São Paulo, o obrigatório passeio panorâmico não deixa dúvidas ao recém-chegado de que ele está numa cidade em que as classes sociais vão da favela aos condomínios de luxo em poucos quilômetros. Por fim, vindo de Viracopos, você certamente ficará preso no trânsito das rodovias que ligam Campinas a São Paulo e que são as de maior movimento entre interior e capital.


Na semana passada, o governo do Estado de São Paulo inaugurou uma (!) estação de metrô - "a mais moderna da América Latina" - com pompa e circunstância. O metrô da cidade de São Paulo tem apenas 61,3 Km de extensão! Tóquio tem 286 Km, Nova York tem 368 Km e Paris tem 213 Km. E o governo faz festa porque inaugura, em três anos, uma estação de metrô!


São Paulo é uma cidade grandiosa. Pode ser realmente uma cidade do mundo ou ficar condenada a políticas paroquianas. Na minha avaliação, nós, moradores, fazemos dessa cidade o que ela é, para o bem e para o mal, a despeito dos governos que passam, feito as caravanas. Mas há caravanas que deixam um rastro mortal por onde passam, com cenas de destruição e morte. Eu não quero isso para a minha cidade, para o meu Estado e tampouco para o meu País. Se tenho o direito de ir e vir, tenho que ter, obviamente, os meios para usufruir desse direito. Com toda sua magnitude, neste momento, São Paulo fica à mercê de São Pedro e suas comportas como se os céus tivessem as respostas. A resposta está aqui e agora. E é preciso agir. Ou seremos apenas cinzas tal qual o cinza que predomina na paisagem desta cidade.

2 Comentários:

João Roque disse...

Volto a afirmar aquilo que já te deixei expresso aqui no blog. Eu, com a minha idade e o meu modo de vida actual, seria perfeitamente incompatível com uma vivência em S.Paulo; só de visita!!!!
Tudo isso me assusta
Mas pior para mim seria Tóquio, pois ficaria desorientado por não saber os nomes das ruas, num mapa da cidade; aí, nem de visita...

Redneck disse...

João, São Paulo pode ser simultaneamente assustadora e acolhedora. E, acredite, eu adoro esta cidade com todas as contradições. Somente lamento que esteja, por parte do poder público, mais do que daqueles que a habitamos, tão relegada à própria sorte. Por ser a cidade que é, merecia mais carinho. Quanto a Tóquio, não a conheço. Conheço Pequim e fico com São Paulo, ainda que Pequim tenha as mais largas avenidas que eu já vi na minha vida. São Paulo me parece mais caótica do que Pequim mas a capital chinesa chega a ser asfixiante. Em poluição e gente. Abraço!

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Redneck, em inglês, define um homem rude (e nude), grosseiro. Às vezes, posso ser bem bronco. Mas, na maior parte do tempo, sou doce, sensível e rio de tudo, inclusive de mim mesmo. (Redneck is an English expression meaning rude, brute - and nude - man. Those who knows me know that sometimes can be very stupid. But most times, I'm sweet, sensitive and always laugh at everything, including myself.)

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