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sábado, 20 de fevereiro de 2010

Em busca do tempo perdido

"Perdi tempo", digo, quando confrontado com um eventual fracasso. Qualquer fracasso: com uma pessoa, um projeto, uma expectativa. Tenho um argumento: não se perde aquilo que não se tem. Portanto, o tempo não se perde, porque não o domino. Como controlar uma abstração tão grandiosa quanto o tempo?


Não somos nós que perdemos o tempo. Porque não temos. Nunca o temos, não é? Acreditamos, realmente, que temos o controle, as rédeas nas mãos. Ilusão. Lastima-se o tempo passado e o que está por vir. De tempos em tempos, eu mesmo me pego a mastigar reminiscências de que se pudesse voltar no tempo, faria diferente. Em que instâncias? Todas? Algumas? Picaria em pedaços os tempos certos e os errados? Ilusão. Ainda que o tempo retroagisse, duvido que eu fizesse algo muito diferente do que fiz naquele exato momento.




Acho que vivemos de remorsos, arrependimentos e tentativas de rearranjos para buscar um eventual tempo perdido com uma pessoa, uma vida, um ato. Mas, enquanto se está na situação e o tempo na linha da vida é o presente, naquele momento mesmo não julgamos que estamos a perder aquele tempo dedicado a tal pessoa, ato ou ação. Somente temos consciência, quando a temos, que "perdemos tempo" quando aquilo se foi, quando virou passado, página virada.


De forma que não haverá nunca uma busca bem sucedida do tempo perdido. Porque o tempo, a despeito de ser impreciso e abstrato, passa sim. E passa por nós, nos precede, nos sucede. Parados ficamos nós no tempo e nem nos damos conta disso. Ou talvez o tempo é que esteja parado e nós passamos. Eles (os tempos) passarão, eu passarinho! De passinho, a passos largos, a espaçados passos. Passa boi, passa boiada. E o tempo estendido como um tapete imóvel somente serve de suporte para nossos esquisitos passos que hesitam, titubeiam e, vão, enfim, passarada sem rumo.


Não há que se buscar no "tempo perdido" aquilo que não houve, na verdade. Por que tentar buscar o perdido? Se nem mesmo aquilo que se vê se crê?  É tempo de encerrar as buscas. Dar por perdido o que perdido está. Tempo demasiado foi passado, ultrapassado e ultrajado por tanto acúmulo para que se retire  o peso daquilo que é peso morto.


Tempo é presente, passado ou futuro? Qual é o seu tempo? Não temos, em português, a palavra "timing" para definir que tivemos o "timing" perfeito para tal coisa. Mais ou menos, dizemos que estávamos "" na hora certa. O "timing" é, pois, o agora. Não antes nem depois. Nem um segundo a mais ou a menos. Apenas já. É tempo, já foi. Assim. Feito a disparada de um coelho.


Não há tempo, suponho, portanto, para se fazer tanta onda com o tempo. Meu "timing", se é preciso ou não, é o único que tenho. Não disponho de máquinas para me colocar no antes ou no depois. E, assim, me resta apenas este tempo. Aqui e agora. Porque, ao acabar de escrever este post, o próprio tempo nele consumido já foi. Assim. Acabou.

3 Comentários:

Redneck disse...

Abraço-te, peço-lhe desculpas porque recusei involuntariamente seu comentário. Desde que passei a administrar os comentários, por conta de uma crescente invasão de comentários em mandarim e outros que vendem de Viagra a mulheres, tenho tido problema com esse processo de aprovar e recusar. Como o Blogspot tem um sistema burro para isso, acabei por apagar dois comentários que estavam em ideogramas chineses ou japoneses e apaguei também o seu. Depois dessa longa introdução, te digo que concordo com você e penso o mesmo e acho que foi isso que eu postei (ou tentei). E não considero tempo perdido, por exemplo, desfrutar desse tipo de contato que, de outra forma, como você mesmo disse, não aconteceria se levássemos em conta que o tempo que se consome por aqui é perdido. Não para mim, pode ter certeza. Abraço e me desculpe novamente pela falha do comentário. Passo lá na sua casa para te dizer o mesmo. Até!

João Roque disse...

Amigo Sérgio
eu ficaria tempos e tempos a falar do tempo...
É um dos assuntos que mais gosto de esmiuçar, e dá "pano para mangas".
Como, na minha situação afectiva, o tempo tem um lugar essencial: o tempo que falta, o tempo que resta, imagina o que isso complica ainda mais.
Mas há algo que eu tenho mesmo que concordar contigo; nunca se perde tempo, pois só se perde o que antes se encontrou - o resto é sonho ou ilusão!
Perder oportunidades é diferente de perder tempo, e aí toda a gente acaba por se arrepender de ter perdido alguma. O único tempo que se vai perdendo é o nosso tempo, quando vamos envelhecendo, mas aí somos impotentes para o suster.
Como eu gostaria de ter tempo para pensar menos no tempo: era sinal de que estava a gozar na verdadeira acepção do termo, o meu tempo.
Beijo.

Redneck disse...

Caro Jonao, como sempre, suas análises são completas e o diz muito bem na última frase: como eu gostaria de ter tempo para pensar menos no tempo. É isso. O correto seria ter tempo e não pensar no tempo que se tem. Na verdade, a fundo, creio que temos tempo para tudo e que, de alguma forma obscura, embrulhamos esse tempo em pacotinhos para serem usufruídos sempre no futuro. E esquecemo-nos de abrir esses pacotes. O fato é que tempo, como o definimos, mede muito bem a passagem de nós mesmos e, te repito, somos impotentes para brecá-lo e fazer dele nosso escravo. No final das contas, viramos escravos de nossos tantos afazeres e o prazer que poderia ser empregado para nosso próprio benefício sempre se vai, substituído por outras urgências que sabe-se lá porque as definimos como tal. E assim, de tempos em tempos, acabamos por fenecer e nos perguntarmos: o que fiz eu com a minha vida/tempo? É um assunto infinitesimal, a despeito de o nosso tempo material não ser eterno. Ou, quiçá, o é e nós é que não sabemos. Beijo!

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Redneck, em inglês, define um homem rude (e nude), grosseiro. Às vezes, posso ser bem bronco. Mas, na maior parte do tempo, sou doce, sensível e rio de tudo, inclusive de mim mesmo. (Redneck is an English expression meaning rude, brute - and nude - man. Those who knows me know that sometimes can be very stupid. But most times, I'm sweet, sensitive and always laugh at everything, including myself.)

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