O governo quer me preservar a saúde para me aplicar eutanásia
Protesto! GRITO! Esperneio! Quero falar em megafone: O GOVERNO SOMENTE QUER PRESERVAR A MINHA SAÚDE COM O FIM ÚNICO E ESCUSO DE, POSTERIORMENTE, ME APLICAR EUTANÁSIA!!!
O governo, essa entidade magna nas três esferas - federal, estadual e municipal -, vilipendia pessoas como você e eu, adota posturas claramente ditatoriais e de restrições individuais e, quando demandado, não existe. Onipresente e onipotente na fiscalização da minha e da sua vida, torna-se invisível quando às suas cortes somos obrigados a ir.
(Equipamento para a prática de eutanásia)
Há poucos meses, constatei que o meu Cadastro de Pessoa Física (CPF), documento que sou obrigado a ter por exigência federal, estava 'pendente de regularização', conforme a mensagem curta e grossa da excelsa Secretaria da Receita Federal, órgão tão vestuto quanto o eram as ordens religiosas espanholas do passado que promoviam as santas inquisições.
Diligentemente, eu, pessoa física, faço a declaração anual do imposto de renda, ainda que seja, para efeitos fiscais, declarado isento de fazê-lo. Porque, por outras circunstâncias, também sou, em simultâneo, pessoa jurídica (empresa, da qual sou, igualmente, empregador e empregado, de forma cômica), e pela qual já pagos os impostos (in)devidos.
Também mantenho duas contas correntes em banco - uma pessoa física, desse sujeito Redneck, e outra da empresa minha, de mim mesmo e de mais ninguém.
Por esses dois fatos - declaração de imposto de renda e manutenção de conta corrente ativa -, pela lógica, eu deveria estar automaticamente classificado como um cidadão - perante as tantas esferas governamentais -, contribuinte - que o sou - e em dia com os respectivos documentos. Pois que tanto o imposto de renda quanto a conta em banco requerem que eu exista, de fato, e que me movimente sem que eu levante suspeitas de fraude, tentativa de falsidade ideológica ou qualquer outra coisa que o valha.
Para o brasileiro, ficar sem o CPF (ou com o documento pendente) significa, entre outras coisas, a negação de emissão de passaporte, problemas com créditos financeiros e, de forma mais grave, bloqueio de conta corrente e até mesmo de outras ações inquisitórias da (santa madre) Receita Federal.
Para corrigir esse erro que não é meu, resolvi regularizar a situação. Paguei uma taxa e recebi em casa a convocação para ir à Receita e resolver o meu CPF pendente. Fui a uma unidade que o Estado de São Paulo criou para reduzir e concentrar nossos entreveros (deles): o chamado Poupatempo. São unidades nas quais, na teoria, tudo o que é legal, de âmbito federal, estadual e municipal, pode ser resolvido de forma mais rápida e simples.
Não é assim. Fui hoje ao Poupatempo, distante de casa 40 minutos (de ônibus), e, ao chegar ao local, me solicitaram dois documentos: o registro geral (RG), estadual e obrigatório, e o título de eleitor, federal e obrigatório. O RG, sempre o porto. O título, nunca, a não ser nas eleições, às quais somos, os brasileiros, obrigados a comparecer sob pena de pagarmos multa e sofrermos outras penalidades.
Como não estava com o título, a atendente me encaminhou para a estação Sé do metrô (distante 10 minutos) e me informou que lá eu encontraria um posto do governo (estadual) que me daria o meu número do título de eleitor. Ao chegar à estação, perguntei a dois Men in Black (MIB, polícia do metrô) onde ficava tal posto. Entreolharam-se e a mim e disseram que desconheciam a existência do posto.
Momentos antes, eu havia passado por um outro posto chamado "Acessa São Paulo" (estadual), que oferece internet gratuita ao cidadão. Voltei lá e questionei a viabilidade de consultar o meu título. Sim, é possível, me responderam. Me cadastrei, acessei o sistema, consultei meu título e obtive, enfim, o número de inscrição.
Retornei ao Poupatempo feliz, embora questionasse a inexistência de tal posto dentro dos limites do próprio Poupatempo. Voltei à recepção, falei com a mesma atendente e ela: mas você não imprimiu a consulta? Eu: não, eles não me liberam a impressora. Ela: sim, eles fazem isso. Eu: bem, para mim não fizeram. Pausa. Eu: mas estou com o número aqui. Ela: não, você tem que dar impresso. Eu: mas hoje se encerra o prazo. Ela: você paga de novo e volta aqui em dois dias, com o título original. Eu: mas... Ela: é assim.
Saí do Poupatempo combalido, totalmente cônscio que nada me havia sido poupado. Nem tempo e muito menos dignidade como cidadão. De volta para casa (de metrô), observei nos vagões do trem cartazes que alardeam números vistosos do governo estadual sobre segurança, transporte, educação e saúde. Me vi ante a propaganda eleitoral gratuita.
Certamente, o governo estadual começou a preparar a plataforma marqueteira para a candidatura presidencial que se avizinha. Esse mesmo governo que, lá no interior do Poupatempo, quer que eu o alimente de documentos os quais, provavelmente, tem arquivado nos inúmeros computadores. Não achei graça.
Tanto na ida quanto na volta, meu iPhone estava conectado na música "Teardrop", do Massive Attack. Eu havia optado por essa música porque, ao saber que ficaria no trânsito (municipal), precisava de algo que me isolasse da sujeira e barulho da cidade (municipal). "Teardrop" (lágrima) é perfeita porque me remete ao vídeo, que é lindo.
Mas, repito. Não achei graça e a música começou a me aborrecer. Na verdade, quanto mais eu a ouvia, menos eu achava graça. #EuNãoRi! De fato, uma teardrop quis rolar, sorrateira, e eu a retive por recato. Me senti humilhado pelas indiferentes instâncias - federal, estadual e municipal - que me reduziram a uma teardrop seca.
O governo, esse ente que, ganancioso, me cobra insistentemente de tudo e que tem restringido minhas individualidades, trabalha, a meu ver, para me deixar saudável (ao me proibir de fumar onde eu bem entender, conforme a deliberação do local) com o firme propósito de aplicar em mim a eutanásia. Por definição, a eutanásia é a prática pela qual se abrevia a vida de um doente incurável (eu, fumante) de forma controlada (pelo governo) e assistida (por outros cidadãos como eu que lá estavam presentes). Nesta terça-feira, dia 25, me foi aplicada a eutanásia moral.
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