Meu rugido dominical
Há uma lei fundamental da física que afirma: "dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço". Isso é um fato real, e não apenas científico. Nas últimas semanas, como me é comum na minha vida, retomei a fase de baladas e recomecei a sair de casa para ver as pessoas, dançar, beber, me divertir e ir a diferentes lugares.
Nas duas últimas semanas fui à The Week, ao Dublin e ao Vegas. São três lugares completamente distintos: a The Week é uma imensa casa de predominância gay, cara, com capacidade para mais de 2,6 mil pessoas, com 2 pistas de dança, seis bares, três lounges e piscina com deck (de onde vem a balada de domingo do lugar, a Pool Party). Para entrar na The Week, gasta-se R$ 40, sem consumação. O estacionamento, R$ 25. Um drink pode, facilmente, custar R$ 25. No dia em que lá fui, paguei, ao todo, R$ 130 (incluso o estacionamento).
O Dublin é um pub irlandês, com música ao vivo, clube do whisky, chopes em cinco versões e até mesmo com algum atrativo gastronômico, com uma mistura de especialidades irlandesas, brasileiras e internacionais. O bar tem capacidade para 200 pessoas. E os preços do menu não são acessíveis. Apenas dois drinks me custaram R$ 105. O público é totalmente heterossexual, com homens e mulheres a se debaterem no quem fica com quem típico.
Um dos motivos da revitalização da baixa Augusta é a presença do Vegas Club, certamente. O Vegas fica numa região da rua Augusta mais próxima do centro de São Paulo e, em geral, até a abertura do local, era um pedaço da rua o qual se evitava, sobretudo à noite. Para chegar ao Vegas, é impossível fugir ao congestionamento da Augusta. A não ser que você vá a pé. Se você tiver colocado seu nome na lista do site, a entrada custa R$ 15. Do contrário, são R$ 20. Sem consumação. A bebida também é cara. Gastei R$ 80. No entanto, o lugar é mais barato que os dois outros, a The Week e o Dublin. No Vegas, as diferentes tendências musicais atraem as mais variadas pessoas e não dá nem para definir o público. Completamente plural. A capacidade do clube é de 500 pessoas.
Na soma dos três lugares, podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo 3,3 mil pessoas. A minha cidade de origem tem pouco mais de 7 mil habitantes (até o ano passado). Ou seja, os três estabelecimentos noturnos acolhem mais da metade da população da minha cidade apenas numa noite. A diferença é que o meu município dispõe de uma área de 731,02 Km2 e os três estabelecimentos comerciais de São Paulo, somados, chegam, mais ou menos, a 10 mil m2.
É claro que a lei da física é imediatamente revogada nesses lugares. Não apenas dois corpos ocupam o mesmo lugar no espaço, e sim vários corpos. Numa confraria de corpos que se misturam, se mesclam e tentam roubar o espaço um ao outro. Tanto é assim que, em alguns momentos, falta o chão. Um dos pés ou é pisado por um pé alheio ou é levado por um outro pé. Definitivamente, à física esqueceram de lhe avisar que ali suas leis não funcionam.
Com a chegada da lei antifumo no Estado de São Paulo, a partir do dia 7 deste mês, em todos os locais (públicos e privados) cobertos e fechados é proibido fumar. Ou seja, para nós, fumantes, nos sobrou apenas a rua e, quando disponível, alguma área ao ar livre dentro dos lugares.
Os três locais mencionados - The Week, Dublin e Vegas - adaptaram-se conforme as circunstâncias e especificidades de um. Na The Week, a área da piscina é aberta e foi reservado um pedaço do deck para os fumantes, separados por cordões de isolamento. No Dublin, você recebe uma pulseira e tem a saída permitida para um cercadinho na calçada. No Vegas, a situação é absurda: você fica na fila de fumantes, pela qual são liberadas duas pessoas por vez, recebe um carimbo na mão com o símbolo de fumante e vai para a calçada, em cerca improvisada e guardada por seguranças para que você não fuja sem pagar a conta.
Nos três espaços, a cerca é o elemento comum. Parece um campo de concentração. O carimbo do Vegas remete, de imediato, ao número de registro que era tatuado nos prisioneiros judeus. Definitivamente, a lei antifumo de São Paulo tem uma desagradável semelhança com atitudes nazi-fascistas.
O problema, no entanto, não está restrito ao cigarro. Creio que há um fato maior. Os três estabelecimentos fazem parte daquilo que São Paulo tem de melhor: a vida noturna, de entretenimento, serviço e lazer.
Não entendo como casas como essas têm atendimento tão precário e ruim, além de serem caras. No Vegas, ficamos por uma hora na fila para pagar. Nas demais, há filas para entrar, superlotação e preços escandalosamente exploratórios.
Os proprietários dessas casas têm apenas um objetivo: lucrar. Extrair do consumidor o máximo possível sem pensar minimamente nas condições de infraestrutura e qualidade de atendimento. Somos, como de resto nos mais de 10 mil estabelecimentos do tipo em São Paulo, submetidos a um tratamento precário, incivilizado e despreparado. E isso porque seremos, em 2014, uma das cidades-sede da Copa do Mundo. Que vergonha!
Os donos da The Week (André Almada, que também tem danceterias no Rio de Janeiro e Florianópolis), do Dublin (Eduardo Vitale, André Trindade, Ranses Rodrigues, Ricardo Galiano e Marcelo Nagai) e do Vegas (Facundo Guerra e Tibiriçá Martins, também sócios dos bares Volt e do Z Carniceria) deveriam olhar com mais carinho para os frequentadores dos seus espaços.
Pagamos e caro para frequentar suas casas e, como consumidor, tudo o que quero é, no mínimo, um atendimento bom. Não excelente ou perfeito. Mas bom. Já seria o suficiente. Dessa minha rodada de baladas nas duas últimas semanas, em que quebrei uma lei da física fundamental, pelo menos o Vegas está fora das minhas próximas incursões na noite paulistana.
A despeito de não concordar com a facínora lei antifumo, eu a respeito e também ao local que frequento (e não foram poucas as vezes em que vi, na The Week e no Vegas, pessoas em pleno consumo de cigarro e de maconha). Portanto, me respeitem também!
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