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domingo, 28 de setembro de 2008

Meu rugido dominical


"Alice", a nova série brasileira da HBO, estreou no domingo passado. O nome da série indica que existem duas Alices: a do país das maravilhas e aquela que se verá através do espelho. São 13 episódios cujos nomes, com algumas exceções, reafirmam essa Alice, da série, com aquela, de Lewis Carrol, inclusive com incursões pelos subterrâneos (moradia do coelho), pela travessia do espelho ou, ainda, na busca do mundo mágico (wonderland), em oposição ao árido mundo real.


O primeiro episódio - "Pela Toca do Coelho" - narra a mudança de cenários. Alice vem de Palmas (TO) para São Paulo, em função da morte inesperada do pai. A viagem deveria ser curta, mas, Alice permanece em São Paulo e aqui começa a dualidade da série: a metrópole São Paulo em contraste com a provinciana Palmas.

Alice trocará uma vida previsível na capital do Tocantins (emprego, vida com o namorado) pelo movimento caótico de São Paulo que a envolve feito um redemoinho. No primeiro episódio, Alice já é tragada por esse redemoinho quando perde o vôo de volta para casa e, em saltos, como um coelho amalucado, acaba nos braços de um DJ, depois de um passeio pela avenida Paulista (entre tocas - túneis e o hotel).

O argumento de "Alice" girará em torno da protagonista e, nos 13 episódios, cobrirá um ano de Alice na cidade de São Paulo e como a personagem amadurece em função de si, da família, dos amigos e da própria cidade. Os fragmentos de São Paulo no primeiro episódio, no entanto, deixam claro que a cidade é uma das protagonistas da série.

São Paulo, por si mesma, pulsa sozinha. A cidade, quando te acolhe, te traga pela luz, pela dinâmica e pelas veias sinuosas, onde ruas te conduzem para cidades dentro de cidades. Cada vez que me atiro pela cidade, sinto, ainda, a leve pressão sobre os ombros, um abafado peso que São Paulo te dá. De um extremo a outro, cada noite vivida em São Paulo pode ser da mais diversa natureza.

O fato de se viver entocado (no subúrbio, nas galerias, nos apartamentos, no trânsito) nos transforma, literalmente, em coelhos amalucados que sempre perdem a hora do chá. Há muitos chapeleiros malucos com os quais podemos cruzar. Rainhas loucas, que querem nos degolar (física e sexualmente), também.

São Paulo é o país das maravilhas, mas, é, também, o mundo obscuro que há por detrás do espelho. É sempre, para mim, a novidade. Quase sempre, reúne as pessoas mais variadas em torno de um chá confuso. Quando vejo as ruas, vejo também milhares de coelhos que correm na superfície apenas para cruzar de uma toca para outra.

A cidade não te assimila de imediato. É indiferente à sua condição. Te maltrata. Surpreende. As pessoas podem ser nocivas. E leves. Podem te contaminar. E não. Alice, no primeiro episódio, passa muito rápido entre diversas situações. E o fato de dormir com um cara que acaba de conhecer é sintomático de São Paulo. 

Porque a cidade é exatamente assim. Você vai a uma festa, conhece alguém e fica com a pessoa. Depois, a perde no anonimato. São Paulo é imensa. Mas, há pequenos mundos fechados em si mesmo em que você é uma Alice que sabe o caminho de volta do poço. Se escorregamos pelo buraco ou se atravessamos o espelho, mais cedo ou mais tarde, ao injetar São Paulo nas veias, sabemos achar cada saída do labirinto.

"Alice" não é uma novidade. É mais um olhar sobre essa cidade e como as pessoas se movimentam, amam, sofrem, crescem ou se diminuem. Às vezes, olho para São Paulo e enxergo tantas possibilidades que me parecem infinitas. Por outras, não vejo mais nada além de pressa: para trabalhar, para viver, para tentar viver.

A dualidade de São Paulo - maravilha ou desterro - torna-nos, acho, duais também: ora somos conduzidos pelas fantasias de uma Alice maravilhada com uma infinidade de atrativos, ora somos uma Alice aterrorizada por ter atravessado o espelho e ter que se confrontar com o horror de não ser ouvida pelos que ficaram apenas no reflexo.

A série está na grade da HBO e vai ao ar aos domingos, às 22 horas (com reprise à 1 hora no HBO Plus). Alice é interpretada pela atriz Andréia Horta, que participou no teatro do espetáculo "Vertigem BR-3", da companhia Teatro da Vertigem, atuou como Márcia Kubitschek na minissérie "JK", da Globo, e está no ar na novela "Chamas da Vida", da Record.

A criação e a direção de "Alice" é de Karim Aïnouz (co-roteirista de "Abril Despedaçado" e diretor de "Madame Satã" e de "O Céu de Suely") e de Sérgio Machado (roteirista e assistente de direção de "Abril Despedaçado" e assistente de direção de "Central do Brasil" e de "O Primeiro Dia").

Os episódios da série, na sequência, são: Pela Toca do Coelho, O Tesouro de Alice, O Retorno de Elvira Ciprianni, No Jardim das Flores Perdidas, Os Peixinhos Dourados de Dona Sumiko, O Lado Escuro do Espelho, Wonderland, A Guerra de Alice, Em Busca do Outro, Na Cidade de Alice, A Mil Quilômetros por Hora, Em Queda Livre e À Flor da Pele.

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Redneck, em inglês, define um homem rude (e nude), grosseiro. Às vezes, posso ser bem bronco. Mas, na maior parte do tempo, sou doce, sensível e rio de tudo, inclusive de mim mesmo. (Redneck is an English expression meaning rude, brute - and nude - man. Those who knows me know that sometimes can be very stupid. But most times, I'm sweet, sensitive and always laugh at everything, including myself.)

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