É o pior dos mundos possíveis e nada pode ser feito a respeito
A história, irremediavelmente, conduz a humanidade à felicidade. Calma que não estou louco e nem bipolar (pelo menos não neste momento). A frase que dá título ao post é expressão do pensamento do filósofo Schopenhauer e a primeira frase que inicia este post é exatamente o conceito oposto proposto pelo também filósofo Hegel. Da Alemanha, ambos, pensavam o mundo como se em dois extremos estivessem. Para os dois, o mundo é negativo e positivo, respectivamente.
Outros dois livros - "The Optimism Bias - a tour of the irrationally positive brain"(O Viés Otimista - um tour pelo cérebro irracionalmente positivo) e "The Human Side of Cancer" (O Lado Humano do Câncer) -, ambos sem edição no Brasil, tratam, respectivamente, dos lados obscuro e solar do cérebro (e mente) humano.
Todo esse enunciado foi assunto no jornal Folha de S.Paulo, edição desta terça-feira, 12. De um lado, o articulista João Pereira Coutinho, com sua visão do "ser positivo" ante a vida. De outro, o caderno Equilíbrio apresentou pesquisas e tascou: quem é otimista demais, quebra a cara. No caso, ambos concordam: atitudes positivistas e otimismo exacerbado não fazem bem. Ao contrário, podem muito bem camuflar o lado 'real' da vida: doenças como o câncer, uma aceitação dos fatos de forma submissa, confiança num deus que nunca é confirmado.
Tendo a ser, mais ou menos, com pendões para baixo ou para cima, equilibrado. Veja que, numa curta frase, me foi difícil simplesmente articular a palavra 'equilíbrio'. Exatamente porque não somos, os seres humanos, equilibrados. Nossas balanças pendem o dia todo para todo lado e o pêndulo não consegue se aquietar numa posição apenas.
O caderno Equilíbrio recorreu a diversas pesquisas para atear à fogueira as bruxas e bruxos do otimismo, aqueles que confiam cegamente num futuro radiante apenas pela fé que têm, sem ter o correspondente lastro que assegure esse otimismo. Listo abaixo alguns exemplos:
- Pesquisadores japoneses constataram que, de 101 obesos submetidos durante seis meses a uma dieta, os mais otimistas perderam menos peso do que os realistas.
- Nos EUA, outra pesquisa constatou que pessoas otimistas demais têm maior possibilidade de fumar e costumam trabalhar menos, enquanto os realistas investem, poupam e trabalham mais.
- Estudo norte-americano apurou que otimistas vivem menos.
- Por fim, outro levantamento verificou, também nos EUA, que os muito otimistas têm maior chance de atrasar os pagamentos do cartão de crédito.
Não estou a fazer um libelo do pessimismo. Longe disso que não sou maniqueísta. Nem tanto cá, nem tanto lá. Mas, estou longe de me enquadrar na categoria dos otimistas (a despeito de alguns pontos coincidirem com as pesquisas por outros fatores). Tendo, a princípio, por exemplo, a não confiar demais nas pessoas. Mas também não desconfio plenamente. No início, em relacionamentos (de amor, amizade ou trabalho), sou arredio. Me aproximo aos poucos. Minha fé no divino inexiste. E tampouco creio que haja algo mais do que isso que já temos por aqui. É o suficiente.
O brasileiro médio é um otimista por natureza:
- 64,1 pontos: é o índice de otimismo do brasileiro medido em junho passado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). A escala vai de 0 a 100.
- 81% das famílias acreditam que em um ano terão mais dinheiro e 74% acham que estão melhor em termos financeiros do que estavam há um ano.
- 51,5% pensam que é hora de fazer compras e 42,6% acham que não.
- 50,5% dizem não ter nenhuma dívida e 17,8% acreditam que conseguem pagar todas as contas atrasadas.
Não sei se esses dados espelham um momento de felicidade e otimismo no instante em que colhidos porque, se a mim fossem questionados esses pontos, certamente que entraria no rol dos pessimistas. O que me faz um desbrasileiro.
Ser positivo, diz o articulista citado acima, segundo a sabedoria popular, impede que as pessoas fiquem doentes (inclusive de câncer). Não ser positivo o suficiente, portanto, abriria a porta para o câncer (o exemplo citado se refere a um relato pessoal do colunista). O autor não concorda com isso. Eu tampouco. Se curássemos doenças com o poder da positividade ou do otimismo, médicos e indústria farmacêutica não existiriam.
Também não mantenho os pés no lodaçal do pessimismo. Acho que administro bem as dosagens de otimismo e pessimismo. Não sei se pela idade cronológica ou experiência, ou ainda ambos, o fato é que nessas questões, não sou de extremos. Aliás, raramente tenho pensamento ou comportamento extremista.
Só acho que aqueles que vivem a irradiar o sol do otimismo o fazem para camuflar eventuais dias cinzentos que trancafiam em suas existências sem se darem conta disso. Também acho que aqueles obliterados pelo peso dos dias escuros e noites tenebrosas escondem os pequenos sóis que insistem em lançar sobre eles seus raios.
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