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terça-feira, 10 de agosto de 2010

O reino da pequena literatura

Era uma vez um planeta. Azul. Habitavam lá alguns bilhões de seres. Que, se bem contados, chegavam, certamente, a trilhões. Viviam em desordeira harmonia ou desarmoniosa ordem. Ora a cair, ora a levantar, os seres juntavam-se, dispersavam-se, acorriam quando um deles morria subitamente e acorriam também quando um deles nascia. A eles, se lhes parecia que tanto a morte quanto a vida eram surpresas. Não haviam dominado, portanto, a técnica da frieza e da vã filosofia de ver e crer. Ver a vida e crer que aquilo era convencional. Assistir a morte e lhe avaliar como um fim justo. Era sempre a mesma coisa: vida! Ohhh!!! Morte! Huuuuhhh!!!


Esses seres, certamente, tinham um problema. Sério, na minha prosaica avaliação. Avaliação essa, por decerto, contaminada, visto que eu mesmo estava entre aqueles seres. Portanto, assim, qualquer ato julgatório deixa de ser fiel se participo da trama e tramo contra ela.




Mas isso é uma avaliação minha e eu a faço como bem desejar. E quem quiser que conte outra. O Google contou. Maldito Google. Num futuro antevisto por um escritor do naipe de Will Self (google, by the way). Ah! Uma pausa: Will Self, numa tradição liberal (a faço como desejar, sem usar Google Translate), seria algo como por si mesmo se fará. Combina com ele. Reward and play: num futuro antevisto por um escritor do naipe de Will Self (google, by the way), o Google será deus. Tenho certeza. Ao buscador e empresa de software serão atribuídos poderes de vida e morte, a propósito do estranho estranhamento humano ante nascimentos e falecimentos. O Google terá poderes inimagináveis por ora. Se não for o Google, outra empresa com tendências equivalentes o fará.


Pois que o Google contou. Uma conta mundial. Cheia de tabulações, contas de reduzir, adicionar, variantes, raízes quadradas, noves fora e chegou a um número: 129.864.880. Até o último domingo, dia 8, era esse, de acordo com o modo google de calcular, o número de livros existentes no mundo. Livros, aqui, quer dizer títulos diferentes. Portanto, existem quase 130 milhões de livros diferentes publicados em todo o planeta que, visto de cima, parece, é azul.


Numa Terra que tem 6.861.601.621 (pouco antes da meia-noite desta terça-feira, 10 de agosto), há um livro para cada 0,0189 habitante. Colocado de outra forma, não chegam a 2% o total de livros em relação aos habitantes desse planeta em que os seres são bilhões - se bem contados os considerados 'burros' como animais, vegetais, eis que se chega aos trilhões referidos acima.


Portanto, grassa a estupidez. Não é coincidência. É fato. Leio de 5 a 6 livros por mês e mesmo que lesse de 500 a 600 ou 5.000 a 6.000 a cada semana, não daria conta de reduzir a montanha dos 'sem-literatura' que forma a estranha Babel deste mundo que, se diz, é azul.


Eu o diria, esse mundo, translúcido. Transparente. Falto de impressão, de letras, palavras, orações, frases inteiras. Impressas. Portanto, falta impressão no mundo. E dada a falta de impressão, a impressão que se tem é que nada se expressa. Tudo se exprime, se espreme. E o único caldo que resulta disso é uma tinta que vai rio abaixo, sem a menor possibilidade de preencher brancas páginas, translúcidas mentes de bilhões. O mundo, meu(minha) caro(a), não é azul. É zebrado. De tanta inconsistência e de tanta falta de literatura. Se as pessoas lessem, o mundo seria branco no preto, tinta na página. Consistência. O mundo é um breu!

2 Comentários:

UFM disse...

Em tempos muito idos, conheci uma pessoa que também lia muito e me lembro de ter formulado este espanto: - "onde" estarão, nessa pessoa, todos os livros que já leu? "onde " e "como" se alojaram nela todas as palavras, em o que a/se transformou o sentido?... E a impressão de que essa pessoa já era o que era há mais tempo, antes de saber ler, e que continuaria sendo o que era, mesmo após a leitura de centenas de outros livros ainda por vir... parece aqui que esboço alguma teoria sobre determinismo inato... mas não é nada disso. Não é teórico meu comentário. Queria que ele fosse anti-teórico, anti-literário, tão anti como eu. pois é. Me sinto anti quase tudo quanto me parece perceber em meu redor.Em anti leia-se mais "diferente" do que "contra". Ao ler o que escreveste fiquei com a sensação de que nenhum livro ensina a aceitar os autistas, seja lá de que tipo forem. Há gente com universos fechados ainda, mas humana essa gente, que sabe ler e escrever mas nunca soube desenhar... e se esforçou por os caminhos da literatura e dos letrados, teve lá seus dias e, sem remédio, foi cuspido para fora da babel. A babel não é caótica mas uma forma desordenada de impor uma ordem! Foi cuspido e pronto, está à margem. E esses seres de cuspe cada vez mais se engasgam e vão emudecendo e fechando sobre si. Quando olham em redor já não têm pelo que se esforçar, sabem que cada passo é uma cabeçada de cuspe na parede e de lá não irão passar. Se eu sei o que queria dizer? Sei sim, mas receio a incompreensão: queria dizer que devia haver mais espaço para os "analfabetos" em um mundo tão amplo e redondo, tenha lá a cor que tiver, visto de cima. Ele é imenso visto de aqui e, afinal, tão estreito...

Redneck disse...

UFM, não é sem surpresa que constato esse seu retorno. Porque a pensava auto-excluída desse universo aqui, que não tem nada de azul ou outra coloração qualquer. Somente quero dizer que cobro a leitura como forma de fazer incluir os analfabetos no mundo, no grande mundo, azul ou seja lá a cor que tiver, como dizes. Porque, ao menos do que sei, aos analfabetos está reservado, sim, uma escuridão que lhes cega e lhes mantêm sempre à margem. Esses sim, os analfabetos, cuspidos para fora, e não saídos espontaneamente. Prezo a literatura como uma das mais eficientes formas de informação e, sendo eu mesmo um profissional da informação, não vejo saída a não ser se informar para poder viver neste mundo que, se azul ou não, é o único que temos.

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Redneck, em inglês, define um homem rude (e nude), grosseiro. Às vezes, posso ser bem bronco. Mas, na maior parte do tempo, sou doce, sensível e rio de tudo, inclusive de mim mesmo. (Redneck is an English expression meaning rude, brute - and nude - man. Those who knows me know that sometimes can be very stupid. But most times, I'm sweet, sensitive and always laugh at everything, including myself.)

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