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domingo, 8 de agosto de 2010

Meu rugido dominical



Em abril deste ano, o ator norte-americano Sylvester Stallone esteve no Brasil para as filmagens de "The Expendables" (Os Mercenários). Durante a feira de cultura pop Comic-Con 2010, na Califórnia, ao lançar o filme nos EUA, Stallone fez uma piada grosseira e uma crítica para o Batalhão de Operações Especiais (BOPE): "Filmamos no Brasil porque lá você pode machucar as pessoas enquanto filma. Você pode explodir o país inteiro e eles ainda dizem para você 'obrigado e tome aqui um macaco para você levar para casa'", disse. Até agora eu não entendi essa história de levar um macaco para casa.


Sobre o BOPE, o Rambo em músculos e cérebro afirmou: "Os policiais de lá usam camisetas com uma caveira, duas armas e uma adaga cravada ao centro. Já imaginou se os policiais de Los Angeles usassem isso? Já mostra o quão problemático é aquele lugar (Rio de Janeiro)". Engraçado é que foi justamente a polícia de Los Angeles que desenvolveu o Special Weapons Attack Team (Grupo de Ataque com Armas Especiais), mais conhecido pela sigla SWAT.


Em dezembro do ano passado, assim que o Rio de Janeiro foi anunciado como cidade-sede das Olimpíadas de 2016, o ator (também norte-americano) Robin Williams concedeu entrevista ao programa de David Letterman, nos EUA, e soltou: "Chicago enviou a Oprah (Winfrey) e a Michele (Obama). O Brasil mandou 50 strippers e meio quilo de pó (cocaína). Não foi uma competição justa". Robin Williams é exatamente conhecido por seus problemas contínuos com o uso de drogas.


No desenho animado "Os Simpsons", em episódio passado no Rio de Janeiro, a cidade é vista como perigosa para os turistas, com macacos na rua e o sequestro de Homer Simpson por um taxista. Em outro desenho, "South Park", o presidente Lula teve participação especial, com Nicolas Sarkozy (França) e Gordon Brown (Grã-Bretanha), ao resolver dividir dinheiro de alienígenas entre si ao invés de devolvê-lo.


Em 2007, um integrante da delegação norte-americana, durante os Jogos Panamericanos no Rio de Janeiro, escreveu em uma das sedes do Pan: "Bem-vindo ao Congo". O integrante era gerente de relações com a imprensa e foi enviado de volta aos EUA.


Na TV e no cinema, a história se repete e a origem sempre são os EUA. No seriado norte-americano "Law and Order", uma empresa multinacional, que tinha a promessa de assinar um contrato para fazer a segurança dos Jogos Olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro, tenta corromper um integrante do Comitê Olímpico Internacional (COI) na Bélgica para votar no Rio como cidade-sede e garantir a assinatura do contrato.


No filme "Turistas", de 2006, o Brasil é retratado como um lugar perigoso. De novo, norte-americanos visitam o País e são roubados, apanham, são drogados e torturados para a retirada dos órgãos para transplante. Em "Anaconda", de 1997, a bola da vez é Manaus, no Amazonas, em que uma cobra gigante atormenta a vida de norte-americanos. Liderado pelo pai da Angelina Jolie, Jon Voight (putz! que decadência!), o filme é do tipo horror show barato. O presidente Lula, em comentário sobre a Copa do Mundo de 2014, em que Manaus será uma das cidades-sede, pediu em discurso para que os turistas tomem cuidado com a "sucuri destreinada" da Amazônia. Por certo, em referência a "Anaconda".


Antes desses episódios todos, no entanto, os EUA e, particularmente, os estúdios de Hollywood, sempre foram pródigos em fazer fugir para o Brasil os bandidos de seus filmes. Durante toda a minha vida, sempre assisti a filmes com essa referência.


"Os estereótipos são duros de matar. As coisas mudam, o país é visto de forma mais séria, mas os estereótipos não deixam de existir. O estereótipo ainda é o mesmo, de futebol, carnaval, festa. Mas acho que o mais forte é a praia mesmo, pois as pessoas não entendem nem o que é carnaval", discorre o brasilianista Joseph A. Page, da Universidade Georgetown, de Washington, EUA.


O pesquisador diz que esse tipo de desconhecimento - emitido por pessoas públicas, mídia estrangeira, TV e cinema - em relação ao Brasil é uma frustração porque ele mesmo sempre trabalhou para divulgar a cultura e realidade brasileiras. O fato de o Brasil ter aparecido cada vez mais na mídia internacional faz com que as pessoas saibam sobre a existência do País mas, ainda assim, as nuances sobre o Brasil ficam na superfície. Page, que é autor do livro "The Brazilians" (Os Brasileiros), de 1990, morou muitos anos no Brasil e assegura que esse tipo de comentário e opinião, considerados ofensivos pelos brasileiros, não refletem, de fato, preconceito contra o Brasil. "Acho que nunca houve preconceito contra o Brasil. As pessoas sempre são muito atraídas pelos brasileiros e pelo país", afirma.


Concordo e discordo com Page. Concordo quando ele afirma que os estereótipos são difíceis de serem enterrados. Isso vale para o Brasil e para uma centena de outros países, nos mais diversos matizes que podem ter os estereótipos - "os árabes são perigosos", "os chineses são sujos", "os franceses não tomam banho", "os ingleses são homossexuais enrustidos", "os russos são bêbados" etc. etc. Há uma lista imensa de clichês, de conhecimento público, sobre cada um dos povos.


Discordo quando o escritor afirma que as opiniões emitidas por personalidades que têm ressonância pública não têm cunho preconceituoso. Claro que têm! É a mesma coisa que Pelé, Lula, Paulo Coelho e Gisele Bündchem passarem a afirmar, a cada vez que abrem suas bocas, que os EUA, por exemplo, é um país burro, que não conhece nada além do próprio umbigo. Que confunde Buenos Aires e Brasília e que acha que tudo o que está abaixo da linha do Hemisfério Norte resume-se a florestas, macacos, índios, pobreza, fome e África.


Sim, há um crescente interesse dos países estrangeiros sobre o Brasil. O fato do País estar prestes a tornar-se um gigante produtor de petróleo, de sediar em dois anos dois grandes eventos mundiais - Copa do Mundo e Olimpíadas, de exportar modelos de inclusão social e de distribuição de renda criados e desenvolvidos durante o governo Lula, de provocar polêmicas ao se aproximar de países considerados "perigosos", sobretudo pelos EUA, como Irã e Venezuela e de se ver como um tijolo vigoroso dos Brics tem provocado todas as reações - preconceituosas e maldosas. Também não sou nenhum ingênuo que, feito molequinho de curso primário, chora porque o coleguinha do lado me xingou e tentou me bater.


O que nos faz, aos brasileiros, sermos o que somos, primeiro, é o nosso jeito de ser e viver. Somos otimistas por natureza. Somos passionais em algumas coisas (como o futebol) e completamente suíços (nulos, olha o estereótipo) em outras (corrupção do governo). Somos ótimos anfitriões. Somos festeiros e barulhentos e, por isso, muitas vezes odiados em terras estrangeiras (sim, já fui testemunha disso). Por outro lado, somos, sim, queridos. Nas poucas viagens internacionais que fiz, bastou me identificar como brasileiro para angariar o carinho do estrangeiro, fosse na China, na Finlândia ou na Argentina. Portanto, além de botar a boca no trombone e berrar contra o desconhecimento e preconceito contra o Brasil - via Twitter e na internet, de forma geral -, temos é mais que nos orgulharmos desse imenso e lindo País que nunca registrou uma guerra de grandes proporções, não tem pena de morte, não sofre com terremotos e não precisa mostrar força bélica e invadir países do outro lado do mundo para provar que tem poder. Amo o Brasil!

4 Comentários:

La V disse...

Pois Red, divido contigo a opiniao de que somos queridos seja la onde estivermos. Pelo menos eh esta a minha experiencia. Estando aqui do outro lado do hemisferio e tendo vivido em outro paises, posso lhe assegurar que basta dizer que sou brasileira para um sorriso se abrir. E olha que nem mesmo minhas origens niponicas deixam de despertar no outro interesse e curiosidade pelo Brasil e sua gente.
Quanto aos comentarios de Stallone e Robin William, nao ha mea culpa que repare tamanha indelicadeza, especialmente porque sao propagados por figuras que tem um poder de convencimento muito grande diante da midia, de quem domina a opiniao publica. Esteriotipo por esteriotipo, seria o mesmo que dizer que os EUA jogam bomba e fazem guerra contra tudo e todos que nao consideram corretos, segundo sua visao particular de enxergar o mundo. Eh uma lastima!

Bj
La voyageuse

João Roque disse...

O Brasil é um imenso país com uma potencialidade fabulosa e isso gera invejas.
Claro que há preconceitos acentuados de determinadas "personalidades" sobre um certo país que ferem, por serem infelizes, os seus cidadãos, mas a maior parte das vezes são apenas o reflexo de muito pouca inteligência e de uma estupidez gritante; confesso que qualquer dito, eventualmente ofensivo proferido, por exemplo, por um tal de Sylvester Stallone, não me provocaria nenhuma perturbação por ser apenas um grunhido.
Mas fazes bem em reflectir sobre este assunto, até porque como por aqui se diz "quem não se sente, não é boa gente..."

Redneck disse...

La V, você que é estrangeira aí, sabe muito bem como a mídia retrata o Brasil e brasileiros. Engraçado que alguns estrangeiros brincam com o Brasil como se fossemos adestrados para dar show e, se o fazemos, somos logo tachado de xenófobos, comportamento que muitos europeus e norte-americanos admitem para si. Lei ainda hoje entrevista com o fundador das revistas Wallpaper e Monocle e, como raramente visto, um estrangeiro soube muito bem falar do Brasil sem se ater aos estereótipos traçados por mim no post. Precisamos de gente que entenda o mundo, e não de jornalistas e formadores de opiniões que acreditam, mesmo, que podem jogar com países como se fosse um tabuleiro. Beijo!

Redneck disse...

João, a declaração de Sylvester é apenas mais uma na longa fila como eu disse no post. O problema não ee o Stallone em si, e sim o fato de se propagar ad infinitum essa imagem brasileira que, na maior parte das vezes, não corresponde nenhum pouco à realidade. E acho que sim, devemos nos manifestar a cada vez que isso ocorre e toma proporções globais. Justamente quando é o caso do próprio Stallone que veio aqui para gravar um filme e praticamente cospe no prato e sai sem pagar a conta (ele ficou devendo alguns milhares de dólares para a produtora local). Eu me manifestaria se fizessem isso na minha casa e, como o meu País é a minha casa, o fiz. Beijo!