A ecologia da mídia
A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), que é o órgão regulatório das telecomunicações brasileiras e, portanto, pelo qual passam, necessariamente, todos os equipamentos que são usados em território do Brasil, homologou, nas duas últimas semanas, duas coqueluches: o iPhone 4 e o iPad (apenas a versão 3G, mas não o tablet com conexão Wi-Fi). Tecnicamente, isso significa que ambos os dispositivos estão aptos a serem vendidos no mercado brasileiro.
Para que isso aconteça, falta apenas a Apple divulgar aquelas listas de países aos quais serão atribuídos, legalmente, o direito de vender tanto o iPhone 4 quanto o iPad 3G. As principais operadoras móveis - Vivo, Claro e TIM - já colocaram, nos seus respectivos sites, as listas para que consumidores ávidos e heavy users se cadastrem e recebam a primazia na oferta do iPhone 4 quando o smartphone for lançado no Brasil. Claro que já estou cadastrado desde o primeiro momento. Quanto ao iPad, existem apenas expectativas, por enquanto.
Tudo isso é a parte comercial, regulatória e técnica. Na vida real, iPhones 4 e iPads (Wi-Fi ou 3G) já rodam o País inteiro e existem até mesmo sorteios em eventos digitais (infelizmente, não fui ganhador de nenhum) que entregam os respectivos mimos aos participantes.
Na vida mais real ainda, há um outro cenário, no qual transito, que é o futuro das comunicações e, por etapa, da mídia e do relacionamento das pessoas com a informação. Dado que sou jornalista e trabalho especificamente com a informação, esse é o meu universo. Nesse momento, a mídia inteira, do Brasil e do mundo, está num ponto de inflexão: as plataformas (rádio, TV, jornal impresso, internet, tablets, smartphones) sucedem-se umas às outras e mixam-se sem que saibamos o que resultará de toda essa miscelânea tecnológica. Muitas são as teorias. Mas a que eu mais gosto é desta, apontada no artigo abaixo reproduzido, publicado hoje na Folha de S.Paulo (reproduzido do "The New York Times"). Do texto, destaco: "Na ecologia da mídia, a evolução sempre foi a regra primordial, e não a extinção. Novos predadores da mídia ascendem, mas as demais espécies se adaptam, ao invés de perecerem".
Pois assim é a vida. Nós e, por etapa, a mídia, apenas compomos a ecologia e, portanto, nos adaptamos conforme as circunstâncias, nada mais. Não tenho medo da evolução e tampouco de perder o rumo porque a cor da grama mudou. Transmuto-me eu mesmo, camaleão, e adiro à nova coloração do gramado. Que venham os novos predadores.
"A vida no terrário da mídia e comunicações ao que parece está se tornando cada vez mais perigosa. As previsões de extinção se acumulam.
Telefonemas, e-mails, blogs e o Facebook, segundo previsões recentes dos profetas digitais, estão a caminho acelerado do fim. Há duas semanas, a revista "Wired" disse que "a web morreu".
No entanto, na ecologia da mídia, a evolução sempre foi a regra primordial, e não a extinção. Novos predadores de mídia ascendem, mas as demais espécies se adaptam, em lugar de perecerem.
Essa é a mensagem tanto da história quanto de importantes teóricos da mídia, como Marshall McLuhan.
A TV, por exemplo, era vista como ameaça ao rádio e ao cinema, mas essas mídias evoluíram e sobreviveram.
Ainda assim, caso o padrão evolutivo se tenha mantido intacto, devem existir diferenças fundamentais na ecologia da mídia atual, afirmam especialistas.
Se eliminarmos a hipérbole que caracteriza as manchetes quanto à morte dessa ou daquela mídia, dizem os especialistas, o que resta são essencialmente comentários sobre o impacto da mudança e das inovações acumuladas sobre o ambiente de mídia e comunicação da era da web.
Um dos resultados foi a proliferação de formas digitais de mídia e padrões mutáveis de consumo de mídia.
Surgem, por exemplo, redes sociais -como Twitter, Facebook e Foursquare- que são híbridas de comunicação, distribuição de mídia e autoexpressão irrestrita.
ADAPTAÇÃO
O próximo passo é a adaptação. Os jovens das universidades não usam mais relógio (o celular ocupa a função) e raramente utilizam e-mail.
Eles preferem se comunicar por meio de redes sociais, mensagens instantâneas ou mensagens de texto.
A difusão mais ampla de aparelhos móveis de mídia, como smartphones e tablets, conduziu a aplicativos de software especializados que tornam a leitura de texto ou o uso de vídeo mais fácil em telas menores que nos PCs.
Por isso, as pessoas já não assistem a essa mídia formatada para aparelhos portáteis usando navegadores como Explorer ou Firefox, o que representa um dos pontos centrais no artigo da "Wired" sobre "a morte da web".
Mas livros, revistas e filmes vistos em um iPad, por exemplo, são baixados via internet. De fato, a manchete da "Wired" vinha acompanhada pelo complemento "longa vida à Internet".
A evolução da mídia causa baixas, é claro. Mas elas costumam surgir entre os meios de distribuição e armazenagem, especialmente os físicos, cujo conteúdo pode ser convertido a bits digitais.
GOSTO CULTURAL
A tecnologia de forma alguma é o único agente de mudança. Os gostos culturais têm forte influência e ocasionalmente causam viradas imprevisíveis. Os toca-discos e os discos de vinil pareciam extintos, mas terminaram ressuscitados pelos audiófilos, entre os quais DJs que criaram diferentes sons e ritmos. Hoje, as empresas tradicionais de mídia precisam enfrentar o desafio de adaptação oferecido pela internet. O desafio não está apenas na tecnologia, mas também na maneira pela qual ela alterou os hábitos pessoais de consumo de mídia.
A vida multitarefas, no sentido de capacidade individual para realizar mais de uma tarefa cognitivamente trabalhosa a um só tempo, talvez seja mito, dizem os especialistas. Mas o termo, ainda assim, descreve de maneira precisa o comportamento das pessoas que assistem à televisão enquanto navegam pela internet ou respondem a mensagens de texto."
5 Comentários:
As constantes melhorias tecnológicas, para uma pessoa como eu, pouco habituado e pouco entusiasmado por progressos contínuos, confesso que me assustam.
Claro que me vou adaptando e posso dizer que não conseguiria viver hoje sem determinados conceitos tecnológicos inexistentes há alguns anos atrás; mas dêem-me algum descanso para adaptação, por favor...
Não me vou alongar no comentário, até porque a internet foi feita para mensagens curtas e directas, mas concordo com tudo o que defendeste. Quando a revista Wired, a publicação de tecnologia número 1 do mundo, dita o fim da internet, talvez seja mesmo verdade. tablets, e-books e smartphones depressa vão substituir o papel. Os conteúdos televisivos e radiofónicos vão ser assistidos quando o consumidor assim o desejar. E o jornalista vai evoluir e utilizar a web 2.0 como forma de comunicar. É evoluir ou morrer meu caro e já sinto isso no meu grupo: Estamos a caminhar para o formato digital.
Mas sou-te sincero: não há nada que substitua o cheiro dos jornais e dos livros.
É isso mesmo, João: não temos nem tempo de nos acostumarmos com uma mídia e já vem outra a lhe tomar o lugar, a nos transformar em reprodutores de gadgets, de ligadores de botões e de seres atrasados tecnologicamente. Ainda ontem, conversei com um jornalista que tem mais de 80 anos e ele me disse sobre a impossibilidade de se acostumar com o computador (é escritor também) e do retorno à 'antiga' máquina de escrever. Me disse que produz melhor com o barulho das teclas. Essa dicotomia entre a inovação e manutenção, pelo menos por um prazo maior, do estabelecido é de enlouquecer a todos. Beijo!
Speedy, fico-me contigo: não há nada, também na minha opinião, que substitua o cheiro dos jornais e dos livros. Por mais que se evoluam livros, jornais e a mídia, o que eu sei é que ainda prefiro os formatos tradicionais. Sou devorador de livros e, quiçá, uma traça. Acho que não me irá bem comer tablets de LEDs e quetais. Quanto à evolução para o jornalismo, concordo: todo o conteúdo que produzo já vai tanto para o papel quanto para o meio digital (internet, celular e, agora, o iPad). E quanto antes nós jornalistas nos adaptarmos, tanto melhor. Questão de sobrevivência. Abraço!
Melissa, seja bem-vinda. Volte quando quiser. Beijo!
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