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terça-feira, 16 de março de 2010

Não tente fazer isso em casa!

Há pouco mais de duas semanas, dei início a um movimento involuntário. Logo eu que estava a reclamar de uma inércia espessa que se me toldava o passo, fui devidamente movido por algumas leis não-escritas que movem as engrenagens da nossa própria vida e, enfim, que fazem com que uma pessoa acelere ou reduza a marcha, conforme o contexto.




Oficialmente, fui informado, de uma hora para outra, que o apartamento em que eu vivia há dez anos seria vendido. E nada mais me foi dito. Claro que, tomado de assalto por tão definitiva notícia, eu, que não sofro de ansiedade, me investi de um ânimo que não tinha e reagi.


Procurei apartamentos, falei com algumas pessoas e, em resposta, ligeiríssima, me foi oferecida a locação de um apartamento três andares abaixo do meu. Até então, eu morava no nono andar. Antes, ainda, morei no 12º. andar deste mesmo prédio. Agora, estou no sexto andar. Prevejo que descerei ainda mais três pisos nos próximos anos para, enfim, chegar ao nível da rua e ir viver em outra freguesia.


Quando me mudei do 12º. andar para o 9º. andar - e lá se vão alguns bons anos -, eu mesmo fiz a minha mudança. Não havia muita coisa para transportar e a mudança não me foi assim tão danosa. Dessa vez, ao passar do 9º. andar para o 6º. andar, calculei que poderia fazer o mesmo. Ao contrário do homem que calculava, de Malba Tahan, os meus cálculos são sempre imprecisos e, no fundamento, me levam a resultados bastante cansativos e nunca satisfatórios.


Depois de alguns entreveros, há dez dias, comecei a mudança. Antes, porém fiz o que todo mundo tem que fazer quando chega numa nova casa: ver a energia elétrica, o gás, o telefone, a internet e o serviço de TV paga. Afora a energia elétrica e o gás, que são essenciais, eu esperava que serviços de telefone, de internet e de TV paga fossem me dar mais trabalho do que o usual.


A seguir, para, uma vez mais, contrariar os meus equivocados cálculos, relato o calvário que me foi imposto pelas empresas as quais, exceto a de TV paga, são concessionárias de serviços públicos e, portanto, deveriam ter o mínimo de respeito com o consumidor que, religiosamente, paga suas faturas:


- Energia elétrica: foram 13 dias úteis para conectar o relógio que conecta a minha residência à rede da rua. Foram mais de 20 dias no total, intercalados por cobranças quase que diárias de minha parte. Ao telefone, em média, fiquei 16 minutos a cada contato, o que deu, segundo minhas anotações (sim, sou escaldado), 120 minutos ou duas horas para pedir, implorar que me ligassem à rede de energia elétrica. O problema é que a proprietária anterior, numa atitude mesquinha, fez com que a companhia retirasse o relógio medidor. A empresa é a AES Eletropaulo, controlada pela norte-americana AES. Quando o funcionário ligou, enfim, levou apenas 3 minutos para fazê-lo!


- Gás: assim como ocorreu com a energia elétrica, a proprietária anterior solicitou o desligamento do gás, que é encanado. Mas, ao contrário da companhia elétrica, a Comgás, controlada pela britânica British Gas e pela holandesa Shell, demorou menos de 17 minutos para registrar meu pedido ao telefone e, em menos de 20 horas, o gás estava religado. De qualquer forma, tive que arcar com a instalação da rede de gás da rua até a minha casa.


- Banda larga e TV paga: a provedora desses serviços é a NET, controlada pela mexicana Telmex, do homem mais rico do mundo (segundo a Fortune), Carlos Slim. Em diversos contatos, a empresa me consumiu quase 2 horas ao telefone e uma infindável dose de paciência para fazê-los entender que eu apenas mudaria de andar e de apartamento, e não de país! Me atenderam, de qualquer forma, no prazo estabelecido.


- Telefone: fiquei cerca de 16 minutos ao telefone para pedir a portabilidade do meu número para o novo endereço e me deram três dias úteis (previstos pela lei) para transferir a linha. Sim, o fizeram. Mas também, assim como com a Comgás, tive que pagar um técnico particular (que é funcionário da operadora, por sinal) para fazer a conexão entre a rede telefônica externa e a minha residência. A operadora é a Telefônica, controlada pela espanhola homônima Telefónica que, exceto pela diferença de acentuação, carecem, ambas, brasileira e espanhola, de excelência na prestação de serviços.


Tomadas essas providências, mudei. Mudei, mudei, mudei e mudei. Foram tantas viagens entre o 9º. e o 6º. andares que muitas vezes recitei o mantra "antes cair das nuvens do que do terceiro andar" sem nem perceber. O elevador foi o meu caminhão de mudança. Foram dois dias de braçadas de tralhas de todos os tipos, de roupas a livros, de pratos a almofadas. Não fosse a simpática e providencial ajuda de um servente do prédio, eu ainda estaria a carregar os mais pesados móveis. O fato é que em dois dias eu dei conta de esvaziar um apartamento e encher o outro.


A partir daí - e eu não sabia - começou uma nova etapa: tal qual uma procissão de formigas, vi passar dentro da minha casa, de domingo a domingo, os mais diversos profissionais que, de repente, se fazem necessários nessas ocasiões: encanador, chaveiro, eletricista, desentupidor, marceneiro, vidraceiro, técnico de telefonia, técnico de refrigeração, técnico de gás etc. etc. Eu já não sabia mais se a rua estava na minha casa ou eu é que havia feito uma fusão com a classe operária, num perfeito entrosamento com toda a casta que faz com que as casas funcionem.


Hoje, terça-feira, dia 16 de março, faz apenas 10 dias que vivo, efetivamente, no novo apartamento. E apenas hoje o apartamento entrou em operação. Quase. Faltam alguns detalhes mas que não absolutamente prioritários.


Depois desse longo relato, quero dizer que não tente fazer isso em casa! Não ouse fazer isso. Me disseram que eu parecia um fantasma num dado momento. Eu passei ao menos cinco dias sem uma alimentação decente (na transição entre um apartamento e outro fiquei sem fogão a gás e sem micro-ondas), uns dois dias sem banho (não faça cara de nojo!) e com tantas dores que daria para fazer um colar de contas inteirinho com três voltas ao pescoço. Portanto, não faça isso em casa. É tudo muito cruel e, ao final, basta ter um leito para repousar o esqueleto que luta para permanecer em pé.


Se sou um novo homem depois disso? Logicamente que não! Estou mais alquebrado e, com certeza, com algumas rugas novas.


Se estou feliz? Logicamente que estou! Meu novo apartamento apara o sol da manhã perfeitamente! É branco! De uma brancura extrema. Lindo. Me sinto renovado, branco também eu depois de tantas águas turvas que rondaram tanto a cidade de São Paulo quanto eu mesmo.


Roda, estou em movimento. No final das contas (e sou ruim de fazer contas), se os cálculos não me saíram com precisão, o resultado final é positivo. Estou mais baixo, três andares mais baixo e mais perto da terra e das pessoas. Por que não haveria de me sentir bem, hein?

6 Comentários:

Reiko Miura disse...

parabéns pela mudança. Até que essa não foi tão dolorosa, quer dizer, só mexeu com seu bolso e com sua coluna, que até agora deve estar te lembrando da existência dela!! Casa nova, ares novos. Muito bom!

continuando assim... disse...

e a historia de Alice, lá continua....
no
... continuando assim...

mais logo, um novo capítulo

um obrigada a quem segue (porque só vale a pena assim).

Um especial convite, para quem ainda não mergulhou naquela história.
...é só uma história, apenas isso.

obrigada
e até logo
Bj
teresa

Redneck disse...

Oi Andarilha!!! Quanto tempo! Que bom que você condiz com seu codinome e ande, inclusive por aqui. Obrigado. Como já falamos antes neste mesmíssimo espaço, mudanças são ótimas. Você sabe disso, né! Saudade. Beijo!

Redneck disse...

Oi Teresa, obrigado pelo convite. Passarei por lá. Abraço!

João Roque disse...

Mais que justificada a ausência do blog.
Felicidades para a nova casa.

Estou com saudades tuas, sabias?
Abração.

Redneck disse...

Oi João, por isso o meu sumiço, que começou mesmo antes da mudança, posto que eu já sabia que mudaria. Por isso andei bastante relapso com tudo e todos: estava com todo o meu ser voltado para essa mudança. E agora vem mais uma mudança. Obrigado pelos votos de felicidade. Estou mesmo muito feliz aqui neste apartamento. Quanto às saudades, em breve nos 'falaremos'. Beijo!

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Redneck, em inglês, define um homem rude (e nude), grosseiro. Às vezes, posso ser bem bronco. Mas, na maior parte do tempo, sou doce, sensível e rio de tudo, inclusive de mim mesmo. (Redneck is an English expression meaning rude, brute - and nude - man. Those who knows me know that sometimes can be very stupid. But most times, I'm sweet, sensitive and always laugh at everything, including myself.)

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