A gente só pensa naquilo mas não faz (ou fazemos sozinhos) - parte 2
Continuo do ponto (que não é exatamente o ponto G) em que parei no post de ontem: masturbação. O assunto deveria ser natural, posto que uma vasta gama da espécie de mamíferos o pratica, como eu disse antes. Mas não é. Em algumas culturas, chega a ser um ultraje, punido tanto com imprecações de ordem religiosa quanto de ordem pública mesmo.
Se você for suscetível a esse tema, é melhor parar por aqui, tanto pelo texto quanto pelas fotos (sim, há fotos explícitas). O fato é que a masturbação carrega, na cultura judaico-cristã, o apêndice de "culpa" ou "pecado". Isso vem de cultura totalmente arraigada no conteúdo da Bíblia que nada mais é que uma falsa moral escondida sob o rótulo de "pecado".
Masturbação é um ato natural: bebês a praticam, sem a respectiva conotação erótica que nós, adultos, damos para o ato, solitário ou não. Masturbação não é crime. Não causa câncer. É do ser humano. Ponto. A seguir, pontuo vários dados obtidos a partir de pesquisas com diferentes públicos e em diferentes épocas sobre o tema:
- Em estudo com estudantes universitários, 98% dos homens e 44% das mulheres disseram nunca ter se masturbado (2002)
- Em outra pesquisa, homens admitiram se masturbar, em média, 12 vezes ao mês e as mulheres, 4,7 vezes por mês (2002)
- Num levantamento com mulheres afro-americanas de 15 a 64 anos, 62% afirmaram que haviam se masturbado em algum momento de suas vidas (2002)
- 60% dos homens e 40% das mulheres relataram que se masturbaram no último ano (1994)
- 85% dos homens e 45% das mulheres que viviam com um(a) parceiro(a) sexual disseram que se masturbaram no último ano (1994)
- 35% dos homens velhos norte-americanos (acima de 65 anos) disseram que não se masturbam mas 37% afirmaram que o fazem algumas vezes e outros 28% disseram que o fazem uma ou mais vezes por semana (1994)
- 53% dos homens e 25% das mulheres se masturbaram pela primeira vez entre os 11 e 13 anos (1993)
- 5% dos homens e 11% das mulheres nunca se masturbaram (1993)
A despeito (ou por causa) da cultura ou das interdições, a masturbação acontece em todas as sociedades. No mundo todo, a masturbação é aprovada ou tolerada em bebês e crianças pequenas, tolerada ou semi-condenada em adolescentes mas ridicularizada ou condenada em adultos. Na infância e adolescência, é vista como fundamental no desenvolvimento da sexualidade humana.
Os bebês aprendem rapidamente que tocar seus órgãos genitais dá prazer. E, dessa forma, desenvolvem a coordenação motora para esfregar seus órgãos e o fazem, efetivamente. Até o terceiro ou quarto mês, bebês fazem isso com sorrisos e arrulhos.
Já uma criança entre cinco a sete anos não tem fantasias sexuais ao tocar seu próprio órgão. O único objetivo ao fazê-lo é dar prazer a si própria. É a ausência da fantasia que distingue a atividade auto-erótica de uma criança da masturbação erotizada de uma pessoa adulta. Nessa fase, as crianças tomam consciência e são influenciadas pelas atitudes (sexuais, inclusive) dos pais. A forma como os pais respondem à masturbação dos filhos afetará a forma como a criança se sente sobre si mesma e seu comportamento sexual.
É na adolescência, porém, que todos descobrimos o potencial erótico de cada um de nós. As fantasias sexuais - de todos os tipos - tornam-se frequentes e explícitas nessa fase. Mas também se ouve muita informação confusa sobre o assunto, entre os próprios adolescentes. De novo, o papel dos pais torna-se importante, já que, em última instância, são eles que deverão garantir que a masturbação é uma maneira de experimentar o sexo e a descoberta do próprio corpo de forma segura e controlada.
No adulto, a masturbação tanto pode servir como um jogo entre ambos os sexos (ou entre o mesmo sexo) quanto pode servir para proporcionar prazer solitário ao(à) praticante. Estima-se que 70% dos homens na casa dos 20 anos costumam masturbar-se e mais de 50% das mulheres na casa dos 30 anos o fazem.
E, ao contrário do que se imagina, pessoas que convivem com parceiros(as) sexuais regulares são mais propensas a masturbar-se do que as pessoas que não têm parceiros(as) ou vivem sozinhas. As principais razões apontadas pelos adultos para se masturbar são:
- Aliviar a tensão sexual
- Obter prazer físico
- Ter sexo quando o(a) parceiro(a) não está disponível
- Para relaxar
Em contradição aos mitos que ligam a masturbação a doenças (físicas ou mentais), há uma série de estudos que comprovam justamente o contrário:
- A masturbação ou "sexo solo" pode ser benéfica de forma física, emocional, sexual e para a saúde
- Reduz o stress
- Reduz a tensão sexual
- Proporciona prazer sexual e intimidade entre parceiros(as) e os(as) prepara para o sexo vaginal, anal ou oral
- É uma forma de sexo seguro que evita o risco de doenças sexualmente transmissíveis (DST)
- Fornece vida sexual para pessoas sem parceiros(as), inclusive idosas
- Dá à pessoa a possibilidade de explorar e aprender como gosta de ser tocada e estimulada
- Alivia, para as mulheres, a tensão pré-menstrual (TPM)
- Induz ao sono
- Previne doenças e cria resistência a infecções, aumenta o fluxo de glóbulos brancos do sangue e rejuvenesce a circulação de hormônios
- Fortalece o tônus muscular nas regiões pélvica e anal, o que reduz as chances de perda de urina involuntária (incontinência urinária) e prolapso uterino (caída ou deslizamento do útero para dentro do canal vaginal)
- Aumenta o fluxo de sangue na região genital
- Estimula a produção de endorfina, o que permite melhor metabolismo celular de oxigênio e melhor eficiência de funcionamento do corpo todo
- Cria sensação de bem-estar
- Promove a auto-estima
- Eleva os níveis de satisfação conjugal e sexual
- Fornece tratamento para a disfunção sexual
Todos esses benefícios não são aleatórios: foram apurados com base em pesquisa e observação científica. São fatos comprovados. Ainda assim, as pessoas sentem culpa ou vergonha. Dentre os homens e as mulheres que declararam se masturbar, 50% de ambos os sexos confessam sentir culpa ao fazê-lo.
A masturbação é mesmo um tabu: ao mesmo tempo que provoca prazer, traz, quase sempre, a culpa. Os mitos continuam: a maior parte das pessoas tem medo de se masturbar "demais", embora, evidentemente, não haja uma medida estabelecida para ninguém (no post de ontem, relatei o record do homem que se masturbou 36 vezes em 24 horas).
O fato, mesmo, é que a masturbação é, como outros aspectos da vida (sexual ou não) - ou deveria ser -, uma escolha. A melhor maneira de aprendermos sobre a nossa própria sexualidade é por meio da masturbação. Ninguém jamais conhecerá o nosso corpo como nós mesmos. Somente por isso, masturbar-se deveria ser tão comum quanto o ato de comer. Trata-se (no contexto homem + mulher = reprodução), tanto quanto o ato de comer, de dar continuidade e, portanto, sobreviver. Se a masturbação é parte disso, por que tem que ser algo tão terrível que não possa ser comentada e, principalmente, praticada?
Dito isso, finalizo o post, iniciado ontem. Acho que dei uma boa abrangência ao assunto. Aliás, creio que aprendi um pouco mais, como me é comum ao escrever sobre um determinado assunto para o qual pesquiso. E encerro por aqui porque não se trata se escrever sobre, e sim de praticar. Publicado o post, desejo que cada um faça o que bem quiser. Eu vou dormir. E não vou, exatamente, contar carneirinhos até o sono chegar...
2 Comentários:
Excelente, amigo Sérgio, este verdadeiro estudo sobre a masturbação.
Muito completo, (apenas notei a ausência a referência às muitas condenações da Igreja acerca do assunto, numa tentativa de assustar os jovens com fantasmas sobre a masturbação), e acima de tudo muito descritivo de todas as implicações do acto.
Devo confessar que a primeira vez que me masturbei, com direito a orgasmo foi magnifico!!!!!
Curiosamente nunca fui um adepto grande da mas turbação, pelo menos sozinho (acompanhado faz parte do pacote dos prazeres sexuais).
Mesmo agora, que estou num relacionamento monogâmico, apenas me masturbo, e não tenho vergonha de o confessar por meio da webcam, com o meu amor...
Beijo agradecido por estes dois posts.
João, obrigado. A ausência da condenação católica (e de outras religiões) foi proposital já que eu mesmo, na infância e adolescência, fui assustado por esses temores criados por padres que se revelam, por ora, pedófilos em massa. Como eu tenho verdadeira ojeriza à Igreja (às igrejas, de forma geral), prefiro me abster de escrever sobre isso. E, como eu disse no post, a masturbação, solitária ou não, é prazerosa e natural e não vejo porque nos omitirmos sobre o tema, já que a praticamos bem mais do que admitimos, conforme os posts provam. E, olha, se você gostou dos posts, eu quero dizer que gostei ainda mais de levantar os dados para escrevê-los. Adoro sair do lugar comum para escrever justamente sobre o comum. Beijo!
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