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sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

O mau-humor como antídoto da auto-ajuda

"Pense positivo", "mentalize seus sonhos", "deseje e terá", "faça as coisas acontecerem", "acredite!": esses chavões, literalmente, se pretendem abridores de grandes portas pelas quais atravessaremos, ilesos, em direção os reinos da boa-aventurança. Seremos, portanto, premiados por sermos positivistas, proprietários que somos de um acúmulo de boas intenções, pensamentos e atos que, teoricamente, nos darão acesso a colheitas fartas, fruto de nossos plantios vagos.





Rechaço esses lugares-comuns com veemência. Acabei de ler um artigo do jornal "The New York Times" que trata da suposta ascensão das pessoas mal-humoradas. No artigo, uma escritora relata como a promoção do pensamento positivo minou os EUA. A escritora teve câncer e foi inundada de fitas cor-de-rosa (os pinkk ribbons, lacinhos rosa que simbolizam a luta contra o câncer, equivalentes aos lacinhos vermelhos que representam as ações da AIDS) e por slogans do tipo: "Quando a vida lhe dá limões, faça limonada". A mensagem implícita nesses atos, segundo a escritora, era que, mesmo com a doença a lhe corroer por dentro, ela tinha que se animar e aceitar aquela situação e que, se não o fizesse, jamais se recuperaria.


Os EUA são pródigos nessa atitude mas não estão sós. O "american dream" (sonho americano) é bastante simbólico: "se você sonhar e acreditar, a coisa se realiza". A autora e outros norte-americanos, que se intitulam "Os Negativos", creditam, inclusive, a bolha das hipotecas norte-americanas a essa atitude. E foi essa bolha que explodiu no mundo inteiro, com as consequências que ainda sentimos em nossas faces, a escorrer por aqui e por ali (veja Dubai).


Uma das intenções dos "Negativos" é despertar a sociedade da ilusão em massa que é vendida por essa verdadeira indústria da auto-ajuda. A sugestão, ou auto-ajuda, está intimamente ligada a um condicionamento justamente simbolizado pelos chavões.


É como quando fazemos 40 anos e as pessoas nos dizem: "A vida começa aos 40!". Ou quando fazemos 60 e nos dizem que os 60 são os novos 40! Sorry! Quarenta anos é metade da vida, e não início. E se você pensa em começar a partir dos 40, alguma coisa está errada. Não se começa nada aos 40. No mínimo, arrasta-se a partir dos 40. E o que dizer dos 60? Novos quarenta? Pergunte ao seu corpo.


Não me pretendo mais realista do que o rei. Mas sou bastante lúcido quanto a essas questões. Não chego a uma total incredulidade mas tenho a exata dimensão das limitações, sejam elas de idade ou de pensamentos que, por força da positividade neles embutida, farão algo acontecer.





OK, claro que acredito que se eu começar a cultivar apenas pensamentos negativos, tudo à minha volta será recoberto pela negatividade. Mas isso já é depressão. Escrevo aqui sobre os verdadeiros chavões. De coisas práticas. Por exemplo, eu presto um serviço e não sou pago por isso. Comento isso com alguém e a pessoa me responde: "Se Deus quiser, tudo dará certo". Ou, ainda, "Não se preocupe, as coisas se arranjam". Não! Não e não! Nada se arranja. Nenhuma entidade me ajuda. Não se trata do divino. Trata-se de pessoas, de transações comerciais.


A atual novela das 21 horas da Rede Globo, "Viver a Vida", tem duas personagens antagônicas: Luciana (Alinne Moraes), que está paraplégica, e a irmã, Isabel (Adrina Birolli), cujo discurso não tem meias palavras. Luciana é a 'coitadinha' e Isabel é a 'vilã', a 'cruel'. Concordo que há uma dose de crueldade na personagem. Mas a maior parte do que ela diz é verdade. No entanto, é condenada por todos por dizer o que quase todos pensam mas não expressam. Esse maniqueísmo me cansa. Assim como me cansam os depoimentos de gente real ao final do capítulo que pregam vitórias sobre os mais diversos males. É exatamente a mesma coisa que "Os Negativos" dos EUA atacam: "se você não aceitar a situação, não sobreviverá". Pelo pouco que conheço do humano, com as exceções de praxe, todos lutarão para ficar vivos até a última gota de sangue.


Portanto, posso até soar como mal-humorado. Mas não acredito nessa lenga-lenga de pensamento positivo, de 'mentalização' sobre coisas boas. A vida é o que é. Não é uma fantasia. Não é sonho. É o fato. E de como você lida com isso. Parece contraditório mas não é não. Nem tanto à terra, nem tanto ao céu: não dá para acreditar que está tudo bem, quando obviamente não está e tampouco se colocar na condição de vítima - "por que aconteceu comigo?", "o mundo me odeia".


Um pouco de mau-humor contra as nuvens positivas que volta e meia perpassam sobre as nossas cabeças pode muito bem ajudar a enxergar o que não é tão óbvio e não criar expectativas que se frustram de tempos em tempos. Se isso é ser mal-humorado, devo sê-lo, então.

10 Comentários:

gentil carioca disse...

E muito dinheiro se ganha com essa história também: esses livros de auto-ajuda faturam altíssimo, bem como seus escritores. Para eles, pelo menos, isso funciona...rsrsrs
bj

gentil carioca disse...

Ah, sim, Mr. Red: comentei em dois outros posts ali abaixo, e não foram publicados (no das reticências, e no nude do dia). Algum problema com o envio, ou não foram vistos, ou, ainda, "aprovados"?
bjs

João Roque disse...

Eu sou um negativista potencial (imagino sempre o pior cenário), mas no momento de agir, acredito positivamente que "sou capaz"; é um pouco esquisito, mas assim consigo equilibrar as coisas e prefiro ir "de burro para cavalo" do que de "cavalo para burro"...
Abraço.

Unknown disse...

Um dos conselhos que recebi quando comecei a trabalhar foi: "nunca te aproximes de nuvens cinzentas". As "nuvens" aqui simbolizavam pessoas, desmotivadas e preguiçosas, que faziam com que os outros também se desmotivassem. E sempre segui este conselho à risca. Uma atitude positiva atrai resultados positivos.

Três Egos disse...

Ser sempre positivista realmente é irritante, acho q nas maiorias das vezes devemos ser, na verdade, realistas. Acredito que se convivermos apenas com pensamentos negativos também é péssimo, e há quem diz q atrai espiritos de má índole. Em outras horas, quando não se tem palavras, ou quando o mundo já acabou ter um pouco de esperança é bom... Enfim, um pouco das duas coisas não faz mal a ninguém... rs

Abraço,

Apolo

Redneck disse...

Gentil, a maior parte desses livros ajuda, portanto, aos autores. Autores-ajuda, é a melhor definição. Beijo!

Redneck disse...

Gentil, sobre os comentários que não estavam aparecendo, explico-me: configurei a página para aprovar antes os comentários antes de publicá-los porque, de umas semanas para cá, o espaço dos comentários tem sido invadido por mensagens daqueles robôs que invadem os blogs: são recados de sexo, Viagra e outras drogas e vendas de DVDs com animais, garotas asiáticas e tudo o mais. O pior é que vem justamente da Ásia: são uns sites obscuros e tudo é escrito em ideogramas (usei um serviço de tradutor e não passa de bobagens). Mas, por uma falha minha - o esperto aqui esqueceu de verificar se havia comentários a serem liberados e somente o fiz porque o Pinguim me falou do assunto no Facebook -, os comentários de vocês, meus caros, ficaram represados. Volto, portanto, a respondê-los. Beijo!

Redneck disse...

Pinguim, de fato, não sou nada negativo. Mas que tenho uma predisposição ao mau-humor em relação a algumas coisas, isso eu tenho. Minha mãe costuma dizer que sou equilibrado e que tenho, em geral, uma atitude diplomática, de conciliação. Até acho que é assim mesmo. Mas em relação a algumas práticas - que ficaram mais evidentes com a propagação desse horrível conceito de 'politicamente correto' -, não consigo ser nada diplomático. Por isso o post. Abraço!

Redneck disse...

Speedy, concordo com você e acho inclusive que alguns males físicos sobreveem dessa atitude negativa à qual você se refere. Como eu disse antes ao Pinguim, eu não tenho sobre a minha cabeça uma nuvem cinzenta. Ao contrário. Sou da mesma opinião sua: maus fluidos atraem coisas negativas e bons fluidos nos ajudam. Acredito sim nisso. O post foi apenas um recalque sobre determinados comportamentos muito em voga, ultimamente. Abraço!

Redneck disse...

Apolo, é isso que eu disse no post: ser realista - nem tanto lá, nem tanto cá. Eu me creio equilibrado da forma como você coloca no comentário e busco alinhar os dois lados. Mas, como eu disse ao Pinguim e ao Speedy, pontualmente, existem coisas que me irritam porque chego a perceber pessoas que têm uma autocrítica legal fazerem uso desses chavões. E daí - e principalmente em relação a pessoas que me conhecem muito bem - não dá para fazer coro. Mas eu sou bastante flexível e, sobretudo, realista. Abraço!

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Redneck, em inglês, define um homem rude (e nude), grosseiro. Às vezes, posso ser bem bronco. Mas, na maior parte do tempo, sou doce, sensível e rio de tudo, inclusive de mim mesmo. (Redneck is an English expression meaning rude, brute - and nude - man. Those who knows me know that sometimes can be very stupid. But most times, I'm sweet, sensitive and always laugh at everything, including myself.)

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