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domingo, 13 de dezembro de 2009

Meu rugido dominical

Assisti a uma reportagem na TV ontem que falava sobre o desaparecimento de línguas (idiomas e dialetos). E pensei que a gigantesca babel chamada Terra que reúne 6,767 bilhões de pessoas que falam quase 6,8 mil idiomas diferentes começa a se desmantelar. Mas será que é isso mesmo?





Um estudo da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) revela que mais da metade das 6,8 mil línguas faladas no mundo estão ameaçadas de extinção a longo prazo. A cada duas semanas, duas dessas línguas - que podem ser idiomas ou dialetos - desaparecem. No ano, são 25 idiomas extintos. O problema é que 96% das línguas existentes são faladas apenas por 4% da população mundial: são tribos indígenas e povos no mundo inteiro que, também eles mesmos, estão à beira da extinção.


Dessa forma, por exemplo, na Papua-Nova Guiné falam-se 850 idiomas, seguida pela Indonésia, com 650 idiomas, Nigéria, com 410, Índia, com 380 e Camarões, com 270 diferentes idiomas. No Brasil, onde se acredita, basicamente, que o português é a língua oficial, existem mais de 200 idiomas, dos quais 180 são praticados por índios, segundo o Instituto de Investigação e Desenvolvimento em Política Linguística (IPOL).


A partir de amanhã, 14 de dezembro, o Museu da Língua Portuguesa promove um encontro entre estudiosos do mundo inteiro que vão se debruçar sobre as razões que levam ao desaparecimento de idiomas em todo o mundo e as formas de preservar essas línguas.


Eu vivo da comunicação e tenho pela língua - seja portuguesa ou qualquer outro idioma - o maior respeito. Não obstante essas reformas que, de tempos em tempos, os governos promovem - essa última entrou em vigor a partir de 1º. de janeiro deste ano e terá um período de transição até o dia 31 de dezembro de 2012 e as demais foram feitas em 1943 e 1971 -, penso que a língua escrita e falada é, talvez, o mais importante instrumento que adquirimos para nos comunicarmos e registrarmos para a posteridade essa comunicação.


Atribui-se aos sumérios os primeiros registros da língua escrita. Mas há estudiosos que localizam o nascimento das línguas entre 50 mil e 30 mil anos antes da era cristã. Portanto, a se fiar nesses estudos, o registro da língua escrita é novíssimo: apenas entre 52 mil ou 32 mil anos. A língua escrita, segundo a classificação de M. Cohen, tem três etapas: pictogramas (arcaica e figurativa, representa o conteúdo da língua); ideogramas (sinais que representam de forma simbólica o significado das palavras); e fonogramas (sinais abstratos que representam elementos de palavras ou de sons, como nas escritas alfabéticas). Atualmente, a maior parte da população mundial usa os fonogramas para se comunicar de forma escrita.


No mundo, as 20 línguas mais faladas e escritas são:


1. Mandarim (ou chinês, como preferem muitos): 1 bilhão de pessoas
2. Inglês: 730 milhões
3. Hindi (Índia): 725 milhões
4. Francês: 515 milhões
5. Espanhol (ou castelhano): 500 milhões
6. Árabe: 480 milhões
7. Russo: 280 milhões
8. Português: 250 milhões
9. Bengali (Bangladesh): 199 milhões
10. Indonésio: 175 milhões
11. Alemão: 132 milhões
12. Japonês: 127 milhões
13. Persa: 110 milhões
14. Italiano: 100 milhões
15. Punjabi (Índia e Paquistão): 104 milhões
16. Urdu (Paquistão): 104 milhões
17. Vietnamita: 86 milhões
18. Tamil (Índia): 77 milhões
19. Javanês: 76 milhões
20. Telugu (Índia): 75 milhões


A língua portuguesa desenvolveu-se na Península Ibérica a partir do latim que era falado pelos soldados romanos desde o século III a.C. E começou a diferenciar-se das línguas românicas após a queda do Império Romano e das invasões bárbaras no século V d.C. (ano 400 da nossa era). Mas os registros escritos do português apareceriam em documentos somente no século IX (ano 800). No século XV (1400) já era uma língua rica em reprodução escrita.


A língua é movediça. Sim, movediça como a areia que absorve tudo o que passa pela sua superfície. A língua absorve o novo, a toda hora. E, neste exato momento, passa por um grande processo de absorção nesse território movediço que é a internet e o telefone celular, ambos terrenos inovadores em amplos segmentos dos quais a língua é apenas mais um.


Em algum momento, se você acessa a internet, se deparou com os acrônimos (abreviações de palavras muito usadas) e emoticons (sinais de acentuação que formam 'carinhas' ou qualquer outra expressão que se aproxime do comportamento ou atitude humanos). Um acrônimo bastante conhecido mundialmente é a expressão "LOL" (lots of laugh ou, ainda, laughs out loud, que significam, respectivamente, um monte de risadas e rir muito alto ou gargalhar).


Mas como apenas o registro escrito pode não ser suficiente para expressar a emoção ou o tom da conversa, os emoticons substituem a palavra:


:)  cara ou face feliz
:( cara ou face triste
-D sorriso
˜-( choro


Além, claro, de outros recursos como colocar as letras em caixa alta (maiúsculas) para querer significar GRITO, BERRO ou em negrito (ou bold) para CHAMAR A ATENÇÃO! E outros artifícios que se inventam a todo momento.


Das 6,767 bilhões de pessoas em todo o mundo, ao menos 1,734 bilhão já acessam a internet. Ou seja, 25,6% da população mundial estão conectados nessa plataforma virtual na qual eu escrevo e você lê, por exemplo. Nesse mesmo universo, 4,5 bilhões de pessoas portam telefones móveis. Quer dizer, são mais de 66% de toda a população terrestre. Essa imensa areia movediça digital formada pela internet e pelos celulares faz com que a língua escrita - e divulgada sobre as mais diferentes formas - tenha se recoberto de uma nova roupagem. Usamos, ao menos em conversas rápidas (chats ou messengers, em geral) e troca de mensagens curtas (SMS no celular) cada vez mais sinais ao invés da língua escrita, numa reinvenção do código escrito.


Para piorar, milhões de pessoas das mais diversas partes do planeta fazem uso simultâneo de aplicações iguais: eu, no Brasil, tenho um perfil no Facebook e você, no Sri Lanka, também tem. Por algum motivo, nos conectamos. Como não falamos, você e eu, a mesma língua, procuraremos uma língua comum sob a qual nos façamos entender.


O inglês é a língua que domina na comunicação por internet. Atualmente, as línguas mais usadas na web são: o inglês, do qual fazem uso 28,6% do total de 1,734 bilhão de pessoas que acessam a internet; o mandarim, com 20,3%; o espanhol, com 8,2%; o japonês, com 5,9%; o francês, com 4,6%; o português, com 4,5%; o alemão, com 4,1%; o árabe, com 2,6%; o russo, com 2,4%; e o coreano, com 2,3%. A discrepância entre as línguas mais faladas no mundo e as mais usadas na internet deve-se, unicamente, à densidade ou acesso das pessoas à internet.


Tecnologicamente, a linguagem mundial que conecta os computadores em rede evoluiu para o Unicode, padrão que permite a todos os nossos equipamentos - desktops, notebooks e netbooks - representar e manipular de forma consistente os textos de qualquer sistema de escrita existente.


Esse padrão, basicamente, contém um repertório de 100 mil caracteres, um conjunto de diagramas de códigos para referência visual, uma metodologia para codificação e um conjunto de codificações padrões de caracteres e mais algumas regras de ordenação alfabética que fazem com que eu acesse um blog, por exemplo, escrito em hindi e a minha máquina não tenha grandes problemas em "visualizá-lo". OK, pode ocorrer algum mojibake (erros de incompatibilidade de caracteres), mas eventualmente, credito ao mojibake o mesmo papel de equívocos que cometemos normalmente nas nossas próprias línguas ao falar ou escrever.


Escrevi acima a situação entre o usuário do Facebook do Sri Lanka e eu para destacar o papel das redes sociais (ou social networking) nessa ruptura da babel linguística. Mas isso não é tudo e veja, finalmente, porque desconfio que estamos numa nova era de comunicação em termos da linguagem: há, em paralelo com a expansão das redes sociais, um enorme desenvolvimento dos social games (ou jogos sociais).


São aqueles do tipo FarmVille, Mafia Wars, Colheita Feliz (do Orkut), YoVille, Texas HoldEm Poker e muitos outros. Esses games nos entrelaçam em comunidades de fazendeiros(as), mafiosos(as), apostadores(as) e vizinhos(as) de uma tal forma que não mais dependemos do uso da linguagem. Simplesmente plantamos, colhemos, presenteamos, adubamos a fazenda alheia, cutucamos o(a) outro(a), beijamos, dançamos, abraçamos e até mesmo contamos fofocas ao pé do ouvido do(a) nosso(a) vizinho(a) no PetVille.


Para voltar ao início deste longo post, embora eu defenda a unificação da comunicação mundial, o que, em tese, nos aproximaria e afastaria nossas diferenças, me ocorre que essa proximidade feita de símbolos e instintiva pode, quando muito, nos deixar ainda mais isolados em universos que, de fato, não correspondem a nada. E destruir uma rica babel que, segundo a lenda, um dia nos separou. Creio que o melhor, mesmo, era emitir os primitivos grunhidos do tempo das cavernas ao invés de rir ou mostrar a língua. O que você acha?  :))

3 Comentários:

Mauri Boffil disse...

mto interessante esse texto, na verdade a comunicação é importante... e o mais importante e se deixar entender, caso contrário, estamos fritos... pretendo fazer um trabalho sobre isso

Mauri Boffil disse...

"O sexo é o consolo que a gente tem quando o amor não nos alcança." Grande Gabriel Garcia Marquez... posso usar essa frase no meu seguinte post?

Redneck disse...

Mauri, é isso. A comunicação, não importa como se faça, que seja concretizada. Exatamente por trabalhar com comunicação, às vezes sinto que duas pessoas me entendem de maneira completamente diversa. Na maior parte, no entanto, a comunicação se efetiva. E ainda bem, não? Eu adoro esse tema. Quanto ao seu segundo comentário, não entendi muito bem a sua pergunta. Abraço!

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Redneck, em inglês, define um homem rude (e nude), grosseiro. Às vezes, posso ser bem bronco. Mas, na maior parte do tempo, sou doce, sensível e rio de tudo, inclusive de mim mesmo. (Redneck is an English expression meaning rude, brute - and nude - man. Those who knows me know that sometimes can be very stupid. But most times, I'm sweet, sensitive and always laugh at everything, including myself.)

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